A clonagem da ovelha Dolly foi uma grande conquista para a Ciência e causou
grande impacto na sociedade, suscitando discussões de ordem ética e religiosa,
que vêm colocar em xeque a maturidade moral da humanidade neste final de século,
bem como a concepção de cada religião, da relação de Deus com o progresso do
conhecimento humano.
Clonar significa obter uma ou mais células geneticamente idênticas à célula
original. Clonagens simples, de organismos unicelulares como bactérias e
leveduras, já vêm sendo realizadas há vinte anos. Como esta metodologia
caminhava para a obtenção de clones de animais superiores, as discussões sobre
ética em Ciência, particularmente em Genética, têm sido muito freqüentes, desde
então.
Ian Wilmut, o primeiro cientista a conseguir um clone de um animal adulto,
obteve o embrião da ovelhinha a partir de uma microcirurgia, onde o núcleo de
uma célula de mama de uma ovelha foi introduzida no óvulo de uma outra ovelha,
do qual tinha sido retirado o núcleo. O material genético que constitui os
cromossomos, contém as receitas das proteínas e enzimas que constroem e mantêm
em atividade, as células, os órgãos e conseqüentemente, o organismo. Cada célula
apresenta o funcionamento apenas dos genes necessários para a execução do seu
programa de vida que é próprio do tecido ou órgão a que pertença. Assim, embora
uma célula do fígado ou uma célula da pele tenha os mesmos 46 cromossomos com
cerca de 80.000 genes, cada uma utiliza apenas o conjunto de “receitas” de que
precisa. Isto significa que qualquer célula de um indivíduo contém, em seu
núcleo, toda a informação genética que caracteriza esta pessoa, planta ou
animal. A grande contribuição de Wilmut foi conseguir fazer com que a célula de
mama “desprogramasse” sua vida e voltasse ao estado de repouso que antecede a
decisão funcional de multiplicar ou diferenciar. Este núcleo pode prestar-se,
então, ao controle do início do desenvolvimento embrionário, exercido pelas
proteínas reguladoras presentes no citoplasma do óvulo. Desta forma, Dolly é
praticamente uma irmã gêmea de sua mãe doadora do núcleo, pois apresenta os
mesmos genes que ela. Dissemos “praticamente” porque o citoplasma não é o mesmo
e as condições de gestação não foram as mesmas. A Doutrina Espírita aponta um
fator ainda mais importante para distinguir estes dois animais: o
desenvolvimento embrionário, embora responda a uma programação genética, é
dirigido pela ação do corpo bioplasmático, o perispírito. Este fato ainda
desconhecido dos cientistas materialistas, explica, por exemplo, por que gêmeos
univitelinos, que são os clones naturais, completamente iguais geneticamente e
não apenas “praticamente”, como Dolly, são seres com aptidões, comportamentos e
tendências completamente diferentes.
Insensíveis a esta constatação, algumas pessoas imaginam que seja possível
obter-se , por clonagem, indivíduos em série, com habilidades específicas, como
soldados “programados” ou legiões de gênios para desenvolvimento da tecnologia.
O Espiritismo aponta a necessidade da discussão sobre a ética de tais
experimentos mas não receia este tipo de resultados, posto que os espíritos são
individuais, sendo seus corpos físicos vestimentas temporárias. Não podemos
duvidar da integridade moral de um Francisco de Assis, se o vestissem com a
farda de um Hitler. Certamente viveria e pensaria como Francisco, a despeito da
roupa que usasse.
Outro ponto, freqüentemente levantado pelas religiões acerca deste assunto, é
a proibição do homem manipular as leis que regem a vida, que seria atribuição
exclusiva de Deus. Também neste aspecto, a Doutrina Espírita sai na frente, pois
apresenta o homem como co-criador a quem o Pai confia responsabilidades à medida
que seu conhecimento e moralidade se aprimoram. Confirmando esta posição de
Deus, com relação ao progresso da Ciência, observemos que os bebês de proveta,
nascidos da fecundação “in vitro”, têm uma alma e esta alma não foi ligada a
este corpo pelos profissionais em reprodução humana que propiciaram a
“concepção” deste ser. Dolly também tem um princípio espiritual, menos
desenvolvido que a alma humana, mas que também foi acoplado ao embrião-clone
por Deus. Além desses pontos de reflexão, devemos lembrar ainda que os
cientistas não criaram o embrião, nem o núcleo, nem o óvulo, nem mesmo o útero
onde Dolly foi gestada.
As discussões sobre a ética da clonagem são necessárias mas não devem roubar
a atenção sobre questões muito importantes e urgentes acerca da manipulação
desastrosa do homem sobre a natureza, como o aborto, a extinção de espécies, o
comprometimento de gerações inteiras pela fome de justiça e educação, de
respeito e de amor.
A clonagem trará muitos benefícios para a produção de alimentos e remédios,
culturas de tecidos para transplante e conhecimento sobre o envelhecimento e
doenças como o câncer, contribuindo para um mundo mais feliz. Depende, no
entanto, do nosso desenvolvimento moral, para que essa evolução não seja apenas
tecnológica e garanta a ascensão da humanidade para novos rumos, em busca da Luz
e do Bem Maior.
Maringá – PR
(Jornal Mundo Espírita de Agosto de 1997)