Curso de Introdução ao Espiritismo – Anjos & Demônios
A questão da natureza do Cristo tem sido debatida desde os primeiros séculos
do cristianismo, as opiniões são formadas mais sobre abstrações do que sobre
fatos, tem-se buscado, sobretudo, o que o dogma da natureza divina do Cristo
podia ter de plausível ou de irracional, e se tem geralmente negligenciado, de
um modo ou de outro, em ressaltar os fatos que poderiam lançar uma luz decisiva
sobre a questão.
Segundo a Igreja, a divindade do Cristo é principalmente estabelecida por
milagres, como testemunha de um poder sobrenatural. O Espiritismo veio
demonstrar que as faculdades de Jesus se encontram, em diferentes graus, entre
os magnetizadores, curadores, videntes, médiuns, etc.… e que estes são fenômenos
naturais, que puderam aparecer como « milagres » outrora, mas que hoje perderam
seu caráter maravilhoso.
Não tendo Jesus deixado nada escrito, seus únicos historiadores foram os
apóstolos. Não existe sobre sua vida e sua doutrina nenhum documento além dos
Evangelhos; então é preciso procurar somente aí a chave do problema.
Tudo demonstra nas palavras de Jesus, seja em vida, seja após sua morte, um
profundo sentimento de sua inferioridade e de sua subordinação com relação ao
Ser supremo. Por sua insistência em afirmar isso espontaneamente, sem ser
constrangido nem provocado por quem quer que seja, ele parece querer protestar
antecipadamente contra a função que previa lhe atribuiriam um dia. Qual
autoridade maior pode-se encontrar que não as próprias palavras de Jesus? Quando
diz categoricamente: eu sou ou não sou tal coisa, quem ousaria se arrogar o
direito de lhe dar um desmentido, mesmo que fosse para o colocar mais alto do
que ele colocava a si mesmo? Quem é que pode razoavelmente pretender ser mais
esclarecido que ele sobre sua própria natureza?
Quais interpretações podem prevalecer contra as afirmações tão formais e tão
multiplicadas como estas: «Eu vou ao meu Pai, porque meu Pai é maior que eu. –
Porque me chamam vocês de bom? Não há ninguém a não ser Deus que seja bom. –
Minha doutrina não é minha doutrina, mas a doutrina daquele que me enviou. – Eu
não posso nada fazer por mim mesmo. – Eu não busco minha vontade, mas a vontade
daquele que me enviou. – Eu lhes tenho dito a verdade que tenho recebido de
Deus. – Meu Pai, entrego minha alma em suas mãos. – Eu vou para meu Pai e seu
Pai, para meu Deus e seu Deus».
A única passagem dos Evangelhos que parece afirmar implicitamente uma idéia
de identificação entre Deus e a pessoa de Jesus, e sobre a qual os teólogos têm
argumentado, é esta: «E o verbo se fez carne e habitou entre nós».
Essas palavras são de João, não de Jesus, e afirmam o misticismo habitual do
apóstolo. Mesmo aceitando-as tais quais estão, elas não decidem de nenhuma forma
a questão no sentido da divindade, porque elas se aplicariam igualmente a Jesus,
criatura de Deus.
Com efeito, o Verbo é Deus, porque é a palavra de Deus. Jesus tendo
recebido esta palavra diretamente de Deus, com missão de a revelar aos homens, a
assimilou; a palavra divina da qual Ele estava penetrado encarnou nele; Ele a
levava no nascimento, e é com razão que Jesus pode dizer: O Verbo se fez
carne, e habitou entre nós. Jesus pode então ser encarregado de transmitir a
palavra de Deus, sem ser Deus ele mesmo, como um embaixador transmite as
palavras de seu soberano, sem ser o soberano.
Vale a pena anotar:
Nem os anjos, nem os demônios são criaturas à parte. Todos os Espíritos
têm sido criados simples e perfectíveis.
Para saber mais:
- O Livro dos Espíritos de Allan Kardec (2ª parte, cap. I,
O mundo dos Espíritos) - O Céu e o Inferno de Allan Kardec (1ª parte, cap. VIII, Os anjos)
- O Céu e o Inferno de Allan Kardec (1ª parte, cap. IX, Os
demônios) - Obras Póstumas de Allan Kardec (3ª parte, Estudo sobre a
natureza do Cristo) - Após a morte de Léon Denis (4ª parte, cap. XXXVII, O inferno e
os demônios) - Jesus o Cristo segundo o Espiritismo de Roger Perez (fascículo)
- Historia mítica de Satã de Charles Lancelin