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Curso de Introdução ao Espiritismo Parte 9 – Função e Necessidade do Sofrimento

Curso de Introdução ao Espiritismo Parte 9 – Função e Necessidade do Sofrimento

O sofrimento é um fenômeno de tal amplitude e gravidade que é extremamente
delicado abordá-lo, tanto por aqueles que não experimentando alguma sensação de
sofrimento o receiam e assim o descartam, quanto por aqueles que vitimados pela
dor, têm como único desejo obter um apaziguamento.

A dor física é, mais freqüentemente, um aviso da natureza que procura nos
preservar dos excessos. Sem ela abusaríamos de nossos órgãos a ponto de os
destruir antes da hora. Quando um mal perigoso penetra em nós que ocorreria se
não lhe sentíssemos logo os efeitos desagradáveis? Ele avançaria pouco a pouco,
nos invadindo e exauriria em nós as fontes da vida.

E mesmo quando, persistindo em desconhecer os avisos repetidos da natureza,
deixamos a doença se desenvolver em nós, ela pode ser ainda um benefício se,
causada por nossos abusos e vícios, nos ensinar a detestá-los e a nos
corrigirmos. É preciso sofrer para se conhecer e para bem conhecer a vida.
Epicteto dizia:É uma falsa idéia pretender que a saúde é um bem e a doença um
mal. Usar bem a saúde é um bem; e usar mal é um mal. Usar bem a doença é um bem;
e usar mal é um mal. Tira-se o bem de tudo, mesmo da morte ».

A dor, sob suas múltiplas formas, é o remédio supremo para as imperfeições e
as enfermidades da alma. Sem ela nenhuma cura seria possível. Da mesma forma que
as doenças orgânicas são com freqüência o resultado de nossos excessos, as
experiências morais que nos atingem são resultantes de nossas faltas passadas.
Cedo ou tarde, essas faltas recaem sobre nós com suas conseqüências lógicas. É a
lei da justiça e do equilíbrio moral. Saibamos aceitar os efeitos como aceitamos
os remédios amargos e as operações dolorosas que devem restituir a saúde e a
agilidade ao nosso corpo. Ainda mesmo que o desgosto, as humilhações e a ruína
nos oprimam, suportemo-las com paciência. O trabalhador dilacera o seio da terra
para fazer brotar a colheita dourada. Assim, de nossa alma dilacerada surgirá
uma abundante colheita moral. Então, não é por vingança que a lei nos atinge,
mas porque é bom e proveitoso sofrer.

O primeiro movimento do homem infeliz é se revoltar sob os golpes da sorte.
Mas, mais tarde, quando o espírito já escalou os declives e contempla o áspero
caminho percorrido, o desfilar de suas existências, é com um enternecimento
alegre que recordará as provas e tribulações com ajuda das quais pode galgar os
mais altos cumes.

Se nas horas de provação soubermos observar o trabalho interior, a ação
misteriosa da dor em nós, em nosso eu, em nossa consciência, compreenderemos
melhor sua sublime obra de educação e de aperfeiçoamento. Veremos que ela atinge
sempre o ponto sensível. A mão que dirige o cinzel é a de um artista
incomparável; não deixa de agir até que os ângulos de nosso caráter estejam
aparados, polidos e gastos. Para isso, ela volta à carga tantas vezes quantas
sejam necessárias. E por seus golpes repetidos, a arrogância e a personalidade
excessiva de alguns deverão cair; a fraqueza, a apatia e a indiferença deverão
desaparecer de outros; a dureza, a cólera e o furor de outros ainda. Para todos
haverá diferentes procedimentos, variados ao infinito, conforme os indivíduos,
mas em todos agirá com eficácia, de maneira a fazer nascer ou desenvolver a
sensibilidade, a delicadeza, a bondade, a ternura e a fazer sair das
dilacerações e das lágrimas qualquer qualidade desconhecida que dormia
silenciosa no fundo do ser, ou aquela nobreza nova, adorno da alma, adquirida
espontaneamente.

E quanto mais sobe, engrandece e se faz bela, mais a dor se espiritualiza e
se torna sutil. Aos malvados são precisas provas numerosas, como a árvore
precisa de muitas flores para produzir algum fruto. Mas quanto mais o ser humano
se aperfeiçoa, mais os frutos da dor se tornam admiráveis nele. Às almas
impolidas, mal desbastadas, incumbem os sofrimentos físicos e as dores
violentas; aos egoístas e aos avaros caberão as perdas de fortuna, as negras
inquietudes e os tormentos do espírito. Depois aos seres delicados, às mães, aos
amantes e às esposas, as torturas escondidas e as mágoas do coração. Aos nobres
pensadores e aos inspirados, a dor sutil e profunda que faz brotar o gemido
sublime, o clarão do gênio!

Por muito tempo ainda, a humanidade terrestre, ignorante das leis superiores
e inconsciente do porvir e do dever, terá necessidade da dor, para estimulá-la
na sua vida e para transformar o que predomina nela, os instintos primitivos e
grosseiros em sentimentos puros e generosos. Por muito tempo o homem deverá
passar pela iniciação amarga para chegar ao conhecimento de si mesmo e de seu
objetivo. Ele sonha presentemente apenas em aplicar suas faculdades e sua
energia em combater o sofrimento sobre o plano físico, em aumentar o bem-estar e
a riqueza e em tornar mais agradáveis as condições da vida material. Mas isso
será em vão. Os sofrimentos poderão variar, se deslocar, mudar de aspecto, mas a
dor persistirá enquanto o egoísmo e o interesse regerem as sociedades
terrestres, o pensamento se esquivar das coisas profundas e enquanto a flor da
alma não tiver desabrochado.

Todas as doutrinas econômicas e sociais serão impotentes para reformar o
mundo e para aliviar os males da Humanidade, porque sua base é muito estreita e
porque colocaram na vida presente unicamente a razão de existir, o objetivo de
viver e de todos os nossos esforços. Para extinguir o mal social é preciso
elevar a alma humana à consciência de sua função, fazê-la compreender que sua
sorte depende somente dela, e que sua felicidade será sempre proporcional à
extensão de seus triunfos sobre si mesma e de seu desenvolvimento em direção aos
outros.

Deve-se colocar um termo às provas de seu próximo quando se o pode, ou é
preciso, por respeito aos desígnios de Deus, deixá-los seguir seu curso?

Nós temos dito e repetido bastante freqüentemente que vocês estão sobre esta
terra de expiação para terminar suas provas, e que tudo o que lhes chega é uma
conseqüência de suas existências anteriores, o juro da dívida que vocês têm de
pagar. Mas este pensamento provoca entre certas pessoas reflexões que é
necessário impedir, porque poderiam ter conseqüências funestas.

Qualquer um pensa que desde o momento que se está sobre a terra para expiar,
é preciso que as provas tenham seu curso. Alguns mesmo chegam até a acreditar
que, não é preciso apenas nada fazer para as atenuar, mas que, ao contrário,
deve-se contribuir para torná-las mais proveitosas fazendo-as mais vivas. É um
grande erro. Sim, suas provas devem seguir o curso que Deus lhe traçou, mas
vocês conhecem esse curso? Sabem até que ponto elas devem ir, e se seu Pai
misericordioso não disse ao sofrimento de tal ou qual de seus irmãos: «Você não
irá mais longe»? Sabem se a providência não os escolheu, não como um instrumento
de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo de
consolação que deve cicatrizar as chagas que sua justiça tinha aberto? Não digam
então, quando virem um de seus irmãos aflito: É a justiça de Deus, é preciso que
ela tenha seu curso; mas digam, ao contrário: Vejamos que meios nosso Pai
misericordioso colocou em meu poder para suavizar o sofrimento de meu irmão.
Vejamos se minhas consolações morais, meu apoio material, meus conselhos, não
poderão ajudá-lo a transpor esta prova com mais força, paciência e resignação.
Vejamos mesmo se Deus não colocou em minhas mãos o meio de fazer cessar esse
sofrimento; se não me foi dado, também como prova, como expiação talvez, deter o
mal e substituí-lo pela paz.

Ajudem-se então sempre nas suas provas respectivas, e não se considerem
jamais como instrumentos de tortura; este pensamento deve revoltar todo homem de
coração, todo espírita sobretudo; porque o espírita, melhor que qualquer outro,
deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. O espírita deve pensar
que sua vida inteira deve ser um ato de amor e de devotamento; que o quer que se
possa fazer para contrariar as decisões do Senhor, sua justiça seguirá seu
curso. Ele pode então, sem medo, fazer todos seus esforços para adoçar a
amargura da expiação, mas é Deus somente quem poderá detê-la ou prolongá-la
conforme seu julgamento a respeito.

Não seria um grande orgulho da parte do homem, se acreditar no direito de
revolver, por assim dizer, a arma na ferida? De aumentar a dose de veneno no
peito daquele que sofre, sob pretexto de que tal é sua expiação? Oh!
considerem-se sempre como um instrumento escolhido para cessar o sofrimento.
Resumamo-nos aqui: vocês estão todos sobre a Terra para expiar; mas todos, sem
exceção, devem fazer todos os esforços para suavizar a expiação de seus irmãos,
segundo a lei de amor e de caridade.

Para saber mais:

  • O Problema do ser e do destino de Léon Denis (3ª parte, cap. XXVI,
    A dor)
  • O Problema do ser e do destino de Léon Denis (3ª parte, cap. XXVII,
    Revelação pela dor)
  • O Evangelho segundo o Espiritismo de Allan Kardec (cap. V,
    Bem-aventurados os aflitos
    )
  • Após a morte de Léon Denis (5ª parte, cap. L, Resignação na
    adversidade
    )
  • O Espiritismo, que sabemos? de USFF (cap. XXVI, A quem
    corresponde o sofrimento
    )
  • Espiritualismo versus a luz de Louis Serré (cap. VI, O mal, o
    bem, o sofrimento
    )

 

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