Amilcar Del Chiaro
Domingo, dia 29 de janeiro assinala o 52º “Dia Mundial do Hanseniano”. Este foi um dia criado pela ONU-Organização das Nações Unidas, a pedido do Jornalista francês Raoul Follerreau, para que um dia não fosse mais necessário. Ainda temos no Brasil prevalência alta desta enfermidade. São registrados mais de 40.000 casos por ano, e segundo a OMS-Organização Mundial da Saúde, órgão da ONU, para cada caso diagnosticado existem dois casos ocultos. Como a enfermidade está ligada às condições de vida da população, acreditamos que enquanto não houver uma ascensão social da coletividade, parte dessa população ainda será atingida por essa doença. A hanseníase, outrora denominada lepra, chegou às Américas através dos colonizadores e dos escravos. Como ela tem uma longa incubação, em média de três a cinco anos e excepcionalmente sete ou mais, os sintomas só se manifestaram muito tempo depois. Assim sendo, um escravo adquirido sadio poderia ter manifestada a doença posteriormente. Tivemos um longo período obscurantista onde o enfermo era relegado à sua própria sorte. Na primeira metade do século XX foram criados os Asilos Colônias para isolar os leprosos e assim quebrar a corrente do contágio. Uma lei federal determinou o isolamento compulsório e essa lei foi cumprida a ferro e fogo. Milhares de famílias foram desagregadas. Lares desfeitos, filhos ficaram órfãos de pais vivos, casas foram incendiadas.
No início da década dos anos quarenta foi descoberto o efeito da sulfona no mal de hansen, porém eram anos de tratamento para se receber a alta hospitalar e continuar o tratamento fora. A alta definitiva só viria muitos anos depois, se não houvesse recidiva da moléstia. A lei de internamento compulsório foi revogada em 1962, mas o Estado de São Paulo cumpriu a revogação somente em 1967.Passamos milênios execrados e abandonados à própria sorte. Depois fomos presos sem culpa formada e sem direito a defesa. Muitos sofreram mutilações e dores físicas acerbas. A dor moral não temos como medi-la. Por tudo isso consideramos que a medicina atual tem o grave dever de evitar que pacientes novos fiquem mutilados, inválidos. O Estado tem a obrigação de suprir as necessidades daqueles que foram internados contra a sua vontade, numa medida arbitrária e de força, e agora não tem para onde ir e condições de sobreviver aqui fora. Embora o número de pacientes tenha diminuído drasticamente no mundo porque a cura hoje é mais rápida, seis meses para os casos benignos e dois anos para os mais graves, anda precisaremos do dia mundial do hanseniano por muitos anos.