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Reciclagem Mediúnica: Diferença entre mediunidade e mediunismo

Diferença entre mediunidade e mediunismo – 17 – O que dizer dos Centros Espíritas que só seguem a orientação dos
mentores sem examinar conteúdo à luz da Doutrina Espírita?

Constituem-se como núcleos onde proliferam fanatismo, intolerância e
preconceito.

Por que o mentor da casa deve necessariamente ser mais sábio do que as
entidades que se comunicam em toda Terra?

O princípio básico de comportamento doutrinário é a universalidade do ensino.
Faz-se necessário que prevaleça a opinião da Doutrina. Sob esse enfoque deve a
mensagem, a comunicação, a orientação, ser avaliada. Se realmente proceder, o
conteúdo, jamais será individualizado, particular, detalhando providências e
passos, mas na generalidade, cada um entenderá o significado como pessoal (tipo
– o que foi dito ou o que consta aí foi para mim – é o que preciso). Entretanto,
a ninguém especificamente é destinada e nessa “impessoalidade” visa, serve ao
crescimento do grupo como um todo.

 

18 – O que dizer do Centro Espírita que têm mentores preto velho, índios,
caboclos ou outros Espíritos que assim se apresentem?

 

Ama-se indistintamente todos os Espíritos. Na escala cultural de valores,
estes, estagiam nas faixas de fixação da personalidade. Somos Espíritos ainda em
processos primários da evolução onde o preto velho de hoje, pode ter sido o
intelectual de ontem mas o índio de hoje, encarnado como Espírito em estágios
primitivos da evolução, não há de ter sido o homem sábio do passado uma vez que
o fenômeno sociológico antropológico é evolutivo onde a Lei não se exerce em
retrocesso. O homem culto que exerceu mal seu saber pode vir na área do
analfabetismo para despertar e desenvolver outros sentimentos, mas não se lhe
faz necessário, que no seu processo evolutivo se fixe naquela faixa na qual
esteve imerso numa das vezes de sua caminhada no processo da Vida.

Note-se que esse atavismo é cultural brasileiro. Nos Estados Unidos, por
exemplo, o fenômeno ocorre com os índios peles-vermelhas, atavismo da sociedade
americana. Por aqui não se comunicam Espíritos com aquela conotação. No nosso
caso entra o fator animista africanista da cultura brasileira. Não é questão do
preto velho não ter cultura – se ele tem conhecimento não é necessário tomar
aquela postura que lhe foi uma necessidade temporária. Se ele vem por exemplo –
falando nagô – é perda de tempo – não vamos entendê-lo. Se ele vem falando
português errado é um prejuízo que vai deformar a nossa cultura. Se formos um
pouco exigentes e prestarmos bem atenção na comunicação veremos que o fenômeno é
atávico, não é autêntico – a pessoa usa um certo linguajar que atribui ser do
escravo e que na verdade não era porque se essa entidade é esclarecida no além
há de ter adquirido a arte de bem falar. Recorde-se também que o Espírito não
fala pela boca do médium mas projeta a ideia no perispírito do médium que
transforma em palavras e fala. Por ignorância do que é ou como se processa o
fenômeno mediúnico, o médium se sente “incorporado”, como água na garrafa e toma
o trejeito do preto velho. (Há nisso tudo um certo pieguismo onde se adora o
preto velho porque ele dá conselhos, fala que a gente vai casar, arranja
emprego, fala dos problemas triviais – o preto velho tá lá viu – na briga de zi
fiu eu tava lá, viu… E a gente gosta de ter um escravo no além como teve aqui
na Terra e toma o Espírito que deve continuar porque era preto e velho. Por que
não chamamos o Dr. Bezerra de branco velho? Por que o preto tem que continuar
preto velho? Por que não o chamamos de o amigo, o irmão Antônio, José, Teco ou
seja lá o que for?

No fundo, ainda somos preconceituosos. Temos inclusive que levar em conta que
nem todo preto e velho foi bom. Muitos foram rebeldes, assassinos cruéis e
continuam, são como também muito branco é de uma impunidade sem limites. A
involução e a evolução estão em todas as áreas.

As entidades a que nos referimos mantém as lembranças por afinidade e como
diretores de uma casa espírita, pela vinculação afro-brasileira, impregna sua
diretriz mais voltada para o culto africanista que Espírita, uma vez que
altamente ligados às práticas animistas e exteriores necessitam, orientam, pedem
o incenso, a rosa e a roupa branca, a vela acesa e outras dependências que
depõem contra o comportamento espírita uma vez que este independe de qualquer
aparência exterior. Não tenhamos portanto, nenhum preconceito contra eles mas
não os escravizemos às nossas paixões. (No começo de minha mediunidade várias
entidades me apareceram e se comunicaram por mim. Uma delas se dizia preto
velho, tornou-se grande amigo, ajudou-me muito e ajuda-me. Incorporava nas
reuniões, falava com os mesmos trejeitos e modismos próprios. Interessava-se
pelos problemas domésticos – falava: estive lá, não faça isto ou faça aquilo,
etc., etc. E o público adorava e eu também adorava até que um dia Joanna de
Ângelis disse-lhe: — “Se meu amigo pretende usar o médium de quem me utilizo vai
mudar de nome e de comportamento ou não se comunica mais. Não podemos perder
tempo com frivolidades. O tempo tem uma programática e não posso admitir a perda
dele.” A entidade passou a se comunicar com o nome que teve em outra encarnação
e ninguém sabe que é o mesmo.) Assim exteriorizar-se com características é
remanescente de personalidade. O Espírito é individualidade, isto é, soma de
suas personalidades formando um tipo especial. Quando dá um nome é para fazer-se
identificar, para sabermos de quem se trata. Tanto quanto possível evitemos
fixações negativas porque o mundo espiritual é muito sério e marchamos para
unidade não para o separativismo.

 

19 – O que se entende por mediunismo? Qual diferença com a mediunidade?

 

O homem é um ser mediúnico. Mediunismo é a forma primitiva da Mediunidade.
Provém das selvas onde a ideia básica é o assombro com o mundo misterioso cheio
de seres estranhos. Esse sentimento mágico do mundo estabeleceu relações entre
os homens, as coisas e os outros seres. A imaginação primitiva passa cultuar o
sol, a lua, montanhas coroadas de nuvens, grandes rios, etc. Da reverência
aos chefes poderosos nasce a submissão que se estende aos pages, xamãs,
sacerdotes mágicos das tribos e hordas. Aparece a crença nos homens-deuses com
poderes divinos produzidos por indivíduos que possuíam “dons” mediúnicos.

A expressão “mediunismo” é criada por Emmanuel para designar, diferenciando,
essas formas primitivas da Mediunidade propriamente dita.

Todas as formas das religiões primitivas sem desenvolvimento intelectual e
cultural, caracterizam-se por práticas mágicas ligadas ao mediunismo: às
religiões africanas misturadas às religiões indígenas; a mistura com o islamismo
e catolicismo desenvolveram no Brasil e no continente as diversas formas do
mediunismo.

A diferença entre Mediunidade e mediunismo está no problema da
conscientização do fenômeno mediúnico. Nas religiões primitivas não havia
nem podia haver reflexão sobre o fenômeno, seu sentido, natureza,
utilidade e função. Tudo se resumia na aceitação dos fatos e na utilização para
finalidades práticas imediatas, do dia-a-dia. Mediunidade é mediunismo
desenvolvido, racionalizado submetido à reflexão religiosa e
filosófica, às pesquisas necessárias ao esclarecimento do fenômeno, sua
natureza, função, leis que o regem etc., etc. Enquanto o mediunismo absorve a
herança mágica do passado e mistura-se com religiões, crenças e
superstições de toda espécie a Mediunidade rejeita infiltrações que
possam alterar, modificar, prejudicar sua natureza racional e comprometer seu
desenvolvimento natural.

 

20 – Daí, como definir Mediunidade?

 

“(…) Faculdade humana natural pela qual se estabelecem as relações entre os
homens e os Espíritos. O contato é feito mente a mente e se desenvolve
naturalmente nas pessoas de maior sensibilidade para captação mental e sensorial
das coisas e fatos do mundo espiritual que nos cerca e nos atinge com suas
vibrações psíquicas e afetivas. Não é poder oculto que se possa desenvolver
através de práticas rituais ou pelo poder misterioso de um iniciado ou guru.
Mediunidade pertence ao campo da comunicação. Da mesma forma que a inteligência
e demais faculdades humanas. Mediunidade se desenvolve no processo de relação e
configura-se como simples relacionamento homem/Espírito, uma vez que o fato do
Espírito estar encarnado não o priva de relacionar-se com Espíritos libertos, do
mesmo modo que um homem encarcerado pode conversar com o cidadão livre, através
das grades.”

 

21 – Há, por assim dizer, “sintomas” que anunciariam a Mediunidade no
indivíduo?

 

Não há em geral alguma indicação ostensiva. No primeiro estudo dessa série
vimos, justamente as áreas de função, visando despertar os que trabalham nesse
campo para os cuidados necessários uma vez que poderá haver sintomas que
variarão ao infinito indo desde reações emocionais insólitas, diferentes, a
sensação de enfermidades aparentes, calafrios, mal-estar, irritações estranhas
até o eclodir, aparecer, sem nenhuma repercussão maior, espontânea, calma,
exuberante.

Acrescer na Bibliografia original:

  • Revista Espírita Informação n.° 68
  • Paulo e Estevão – Emmanuel, cap. VI

(Jornal Verdade e Luz Nº 170 de Março de 2000)