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Dinamizando o Trabalho com as Juventudes

Dinamizando o Trabalho com as Juventudes

Por ocasião de um treinamento para evangelizadores de juventude, no Recife,
nos foi solicitado trabalhar o tema ESTRATÉGIAS PARA DINAMIZAR A EVANGELIZAÇÃO
DE JOVENS do modo mais prático possível. Os organizadores do referido
treinamento estavam preocupados em abordar a temática sem a costumeira abordagem
exclusivamente teórica haja vista que apesar de outros momentos na formação dos
evangelizadores de juventude permanecia sempre a lacuna da sugestão prática.
Devido a esta circunstância elencamos as sugestões de estratégias que podem ser
utilizadas tendo em vista a dinamização do trabalho com jovens, colhidas da
nossa experiência e da experiência de inúmeros companheiros. No Recife,
apresentamos 32 sugestões; em Natal, a partir da experiência de companheiros
chegamos a 40 estratégias que apresentamos depois no Paraná.

Para o leitor relacionaremos as sugestões – já ampliadas – com breves
comentários, lembrando que a lista pode e deve ser acrescida por todos os
evangelizadores que buscam melhorar seu trabalho pedagógico.

 

Grupo de Recursos:

01. Poesia > Quem sabe escolher pode colher bons frutos com o uso de
poesias. Tanto na literatura espírita como fora dela encontramos farto material
reflexivo. Tomemos o exemplo do poema “A bruxa” – de Carlos Drumond de Andrade
ou ainda “Etiqueta” , também de sua autoria. Na primeira podemos trabalhar o
tema solidão-amizade e através da última poderíamos explorar os efeitos da
propaganda na “coisificação” do ser.

02. Letra de Música > Encontramos ainda no eclético cancioneiro
nacional muitas letras que podem ser usadas para motivar a discussão em torno de
determinados temas. Lógico que cabe uma análise anterior e uma pesquisa do
próprio gosto musical do grupo. Mais 02 exemplos: “Caçador de Mim”, de Milton
Nascimento se prestaria a uma boa discussão inicial sobre auto-conhecimento e
algumas letras dos grupos Paralamas do Sucesso ou Titãs servem às discussões de
temas sociais.

03. Reproduções de Pinturas > Material pouco ou quase nunca usado como
recurso na evangelização. Quadros de extrema beleza e sentido de diversas
escolas, serviriam para motivar a aula. Exemplos: a tela “Guernica” de Picasso,
que retrata todo o horror da guerra serviria a um bom exercício de reflexão em
torno da temática e a obra (todo ou parte) “A Criação” de Michelângelo
ofereceria rico material para se discutir a “visão” do homem sobre Deus.

04. Notícias ou Reportagens de Jornal ou Revista > Este é dos mais
férteis e atuais recursos que poderemos utilizar nos estudos com nossos grupos.
Atenção para a escolha da matéria e sua relação com o tema e possibilidade de
exploração à luz da Doutrina Espírita. Não precisamos de exemplos mas apenas
lembrar que revistas como a SUPERINTERESSANTE e jornais como a FOLHA DE SÃO
PAULO possuem muitas matérias aproveitáveis.

05. Filmes ou Documentários Espíritas ou Não > Outro farto material
que, se bem selecionado poderá auxiliar bastante o evangelizador a “prender” a
atenção de sua turma. O Canal Futura, a filmoteca religiosa e muitos
documentários e obras da filmografia geral podem nos proporcionar excelentes
aulas. Exemplos: a série COSMOS de Carl Sagan e filmes como O Quarto Rei Mago e
Ghost. Reportagens produzidas pelas Redes de TV também podem fornecer um bom
material a exemplo das já apresentadas sobre drogas e violência nas escolas.
Importa lembrar que ao evangelizador cabe examinar antes o filme ou documentário
com critério para evitar situações desagradáveis.

06. Manipulação de Jogos com fins Específicos > Neste caso nos
referimos à possibilidade de uso de alguns jogos que estão à venda em lojas para
uso recreativo da criançada ou do público em geral. A depender da técnica ou da
dinâmica a ser empregada podemos fazer uso de alguns jogos. Exemplos: os jogos
de montar tipo “Lego” podem ser utilizados na construção de representações” dos
jovens sobre essa ou aquela palavra ou idéia. O jogo “TORREMOTO” da Estrela já
foi por nós e outros companheiros utilizado para criar “um clima” de discussão
em torno da responsabilidade e livre-arbítrio. É exercitar o “olhar pedagógico”
para descobrir os recursos ao nosso redor.

 

Grupo de Atividades Baseadas na Construção e Expressão do Conhecimento:

01. Jornais Falados > Esta atividade pode acontecer ao final de um
tema ou unidade visando fixar a aprendizagem e oportunizar a expressão dos
jovens. É necessário permitir a criatividade estimulando o grupo a criar um modo
original de apresentar o jornal à turma e desencorajar as “cópias” do que já
existe na mídia. É imprescindível dar ao grupo tempo e condições de produção
para nos encantarmos com o produto que os jovens podem criar.

02. Criação de Textos > a expressão é etapa fundamental na construção
do conhecimento. Textos ao estilo jornalístico, literatura de cordel, histórias,
poesias, comentários ou qualquer outro estilo podem expressar as idéias,
valores, dúvidas ou preocupações dos jovens. Os textos criados podem ser
apresentados à turma e rechearem os murais, jornais escritos, etc.

03. Roteiro de Novela > Experiência desenvolvida aqui no RN e
apresentada já por dois anos por ocasião da CONFERN ( Confraternização dos
Espíritas do RN). Revela talentos e pode ser apresentada tanto como “ensaio
geral” como no “teatro do agora”. Essa criação pode ser individual ou coletiva,
servindo ainda como estímulo à pesquisa e à construção de sínteses doutrinárias
quando bem fundamentadas. Adaptações de romances ou páginas consagradas também
podem ser utilizadas. A mensagem “A Cura Real”, da autoria espiritual de Amélia
Rodrigues pela mediunidade de Divaldo P. Franco no livro LUZ DO MUNDO é uma dica
para belíssima apresentação.

04. Jornais, Boletins, Jornais Murais, Livros Artesanais… > O jovem
gosta e precisa exteriorizar o seu pensamento. Estimular a produção é uma etapa
do processo de construção e expressão do conhecimento. O produto escrito é
importante veículo de fixação da aprendizagem além de auxiliar o jovem a expor
de forma correta o seu pensamento que passa a ser conhecido pelo grupo que pode
assim se posicionar diante dos conceitos e idéias expostos e participar de forma
integrada na confecção desses materiais. O próprio processo de criação/
confecção permite um nível bem mais profundo de integração do grupo.

05. Programa Radiofônico > Muitas casas espíritas possuem esta forma
de divulgação doutrinária. Convidar o grupo de jovens a produzir com o auxílio
de companheiros mais ligados à tarefa, pode representar também um meio de
relacionamento entre departamentos de uma mesma instituição. O jovem de modo
geral “curte” manusear com som. Em nossa própria realidade de CONFERN já tivemos
em funcionamento uma “rádio” responsável por avisos, trilhas sonoras,
reportagens e o que mais a criatividade inventou e pode inventar.

06. Organização e Apresentação de Estudo > Esta é uma das mais ricas
atividades que podemos desenvolver nas juventudes. Cabe ao evangelizador
selecionar um “bom” tema, fornecer bibliografia adequada, apoiar e dar “aquela
força” ao grupo ou ao jovem que apresentará o resultado de seu estudo.

07. Pesquisa Orientada > Segue-se a linha de trabalho do item
anterior. Destacamos, com fins de esclarecimento, que a pesquisa envolve sempre
uma questão norteadora, uma pergunta que precisa ser respondida ainda que
parcialmente. O evangelizador deverá conhecer bem as fontes que indicará para
evitar problemas no transcorrer do processo de pesquisa. Esta atividade, se bem
conduzida poderá identificar certas “vocações” para o estudo mais aprofundado da
Doutrina Espírita. Não esquecer que o resultado da pesquisa deve ser
socializado.

08. Projetos > Aqui o evangelizador dispõe de uma atividade com amplas
possibilidades de exploração tanto no aspecto do estudo como da integração. O
tema do projeto pode envolver uma pesquisa, um estudo, uma atividade que se quer
desenvolver. Exemplos: montagem de uma biblioteca da sala; construção de uma
maquete mostrando as viagens de Paulo; exposição de obras psicografadas por
Chico Xavier. Importa recordar que todo projeto pressupõe um planejamento que de
conter justificativa, objetivos, estratégias ou ações, responsáveis, recursos,
cronograma e avaliação.

09. Estudo Biográfico > Esta atividade pode proporcionar momentos de
muita riqueza se a escolha for acertada. Na educação clássica ocidental era
conteúdo obrigatório com o objetivo de inspirar os futuros ideais das novas
gerações. Emoções e emulações podem ser vivenciadas a partir do contato com
relatos de vidas. Exemplos: São Francisco de Assis, Hellen Keller, Jerônimo
Mendonça, Leonardo da Vinci, Martin Luther King, Gandhi, Francisco Cândido
Xavier.

10. Criação de Vídeo > Essa atividade pode ser utilizada em grupos
onde haja disponibilidade de equipamento. Definido o tema e objetivo, torna-se
necessário estabelecer um roteiro e… mãos à obra. Pessoas interessadas ou que
dominem um pouco dessa área podem auxiliar tanto nas indicações das “filmagens”
quanto na edição. Óbvio que não se pretende algo profissional, mas estimular a
criação do jovem.

11. Cirando do Livro > Escolhe-se um livro que possa ser lido por
todos. Semana após semana o livro anda de mão em mão até que todos o tenham
lido. Marca-se um grande debate, momento em que, colher-se-à o fruto das
conquistas de cada um.

12. Biblioteca da Sala > É uma das mais estimulantes atividades que
podemos desenvolver no interior da sala. O próprio grupo pode desenvolver as
atividades de catalogação do acervo, ficha do leitor, ficha do livro, etc.
Lembramos que basta uma estante ou um varal, umas poucas fichas e um pequeno
acervo que pode ser conseguido através de campanha de doações.

13. Biblioteca Comentada > atividade derivada da Biblioteca da Sala.
Os livros contidos na Biblioteca são “distribuídos” pelos voluntários que a cada
semana, quinzena ou mês “apresentam” o material lido de forma bastante
sintética.

Grupo de Atividades Predominantemente de Integração

 

Por serem conhecidas e bastante utilizadas nos grupos de jovens as atividades
abaixo, apenas as indicamos, sem comentá-las.

  1. Visitas: a outros grupos de jovens, hospitais, creches, etc.
  2. Participação em Eventos: através dos grupos de canto, dramatizações,
    equipes de recepções, etc.
  3. Integração em tarefas da casa de acordo com suas condições.
  4. Torneios esportivos com vistas à criação de ambiente social e integrador.
  5. Passeios confraternativos previamente planejados em clima cooperativo..
  6. Integração nas atividades do movimento espírita: encontros, oficinas, etc.
  7. Atividades de Evangelização Infantil mediante os critérios estabelecidos
    pela instituição para definição de seu quadro de evangelizadores.
  8. Aniversariantes do mês, bimestre ou trimestre.
  9. Agenda, contendo nomes e telefones dos integrantes do grupo.
  10. Participação em Campanhas tais como: arrecadação de livros, objetos e
    roupas usados, limpeza do prédio, evangelho no lar, etc.
  11. Participação em atividades promocionais realizadas pela instituição, tais
    como: chá beneficente, almoço fraterno, sorvetada, etc.
  12. Festival ou encontro de artes onde os jovens realizariam suas
    “performances”.
  13. Feira cultural onde os jovens apresentariam seus trabalhos com base nos
    estudos realizados, semelhantemente às feiras de ciências das escolas.

 

Grupos de Técnicas e Estratégias

  1. Dinâmicas de Grupos > Essas sugestões práticas podem ser
    encontradas nas diversas obras que tratam do assunto a exemplo de Celso
    Antunes e Sílvio Fritzen.
  2. Gincanas > Atividades por demais conhecidas e que podem ser
    voltadas para o conteúdo, arrecadação de materiais ou cumprimento de certas
    tarefas.
  3. Jogos Cooperativos > Modalidade diferenciada dos jogos recreativos
    por enfocar sempre a cooperação entre os membros para atendimento das regras.
    Em treinamentos recentes tivemos contato com alguns desses jogos. Há pouca
    bibliografia mas podemos desenvolver nossa criatividade.
  4. História de Vida > Esta atividade objetiva conhecer melhor os
    integrantes do grupo e consiste numa entrevista breve dirigida a um voluntário
    que responde as perguntas. Só há uma regra: não se pode constranger o
    entrevistado com perguntas indiscretas.
  5. Entrevista Simulada > Neste caso um ou mais jovens “interpretam” um
    personagem respondendo as questões apresentadas que constam de um texto
    previamente elaborado. Temas como: Moisés, Sócrates e Platão, Allan Kardec
    podem ser explorados dessa forma.
  6. Júri Simulado > Alguns temas podem servir à utilização do júri
    simulado. O cuidado com esta técnica está na conclusão onde deve ser
    apresentado o pensamento doutrinário como norteador e não as opiniões
    pessoais.
  7. Aula – Passeio > Conhecida técnica já utilizada por Pestalozzi e
    Freinet. O passeio possui objetivos de estudo e pesquisa fornecendo aos jovens
    uma experiência direta que pode ser explorada em diversos aspectos.

Finalmente consideramos que o evangelizador está de fato dinamizando o
trabalho com sua juventude se há:

  • estímulo ao trabalho cooperativo e ao fortalecimento de laços afetivos.
  • espaço para a criatividade e livre expressão dos jovens.
  • aulas contextualizadas e significativas e
  • ambientação propícia ao auto-conhecimento e conhecimento do outro.

 

“A criança e o jovem reclamam
direção no bem”.

 

(Jornal Mundo Espírita de Janeiro de 2000)