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Doce velhinho

Á frente de nosso educandário estendia-se imenso tapete de flores e frutos.

Alamandas amarelas e rubras junto a dipladenias brancas misturadas a outros tons subiam as paredes frontais e laterais de nossa casa-escola envolvendo-a em suas cores, formas e perfumes num halo de beleza indescritível.

Confesso que em certos momentos sentia-me profundamente tocado diante de tanto encanto, de tanta perfeição.

Nossa casa naqueles tempos era dirigida pelos discípulos de Aulus que lhe eram extremamente fiéis, e guardavam a incumbência de passar-nos seus libertadores ensinamentos.

A idade avançada de Aulus embora lhe concedesse o direito merecido ao descanso não lhe tirara a determinação de seguir cuidando do jardim todas as manhãs.

É verdadeira esta asseveração: “a sabedoria é calma e operosa, humilde e confiante”, pois constitui o retrato fiel de nosso querido mestre.

Eu adorava ir-lhe ao encontro de manhãzinha e ficar simplesmente ali desfrutando-lhe a presença.

Sêneca afirmou uma vez, se não me engano nas “cartas a Lucílio”, que ‘há sempre algo de profícuo na presença de um grande homem, ainda que em silêncio’ .

Então, eu bebia seu silêncio até as últimas gotas, mas não deixava, vez por outra, de tomar o caldo substancioso de sabedoria que promanava de suas palavras.

Meu coração ávido de conhecimentos não se contentava com toda aquela paz que brotava naturalmente daquele que era para nós um pai, por isso indaguei:

– Pai, quando Clarêncio expõe as lições do dia noto claras diferenças em relação às lições oferecidas por outros professores –  de onde viria esta luz, esta serenidade que emanam das palavras de Clarêncio?

O doce velhinho ergueu os olhos austeros, e ao mesmo tempo cheios de mansidão e brandura na minha direção, e respondeu:

– “A água pura a fim de manter-se pura é servida em taça vazia” (Livro Paz e Renovação, obra mediúnica psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier)

E volveu imediatamente os brandos olhos para o chão e continuou a cuidar do jardim.

Autor: Tarquínio