Droga
Prosseguindo nas tarefas socorristas a que me afeiçoara no Plano Espiritual,
acompanhei Calvino para serviço de emergência.
Enquanto volitávamos, atravessando faixas sempre mais densas, na direcção da
Crosta, Luciano e eu; recebíamos oportunos esclarecimentos do generoso
instrutor:
– Em verdade – dizia bondoso – tanto o céu quanto o inferno da terminologia
teológica, começam nos caminhos do mundo, em experiências diversas da criatura
humana. Os vícios constituem, nesse capítulo, autêntico chamariz às quedas mais
espectaculares no abismo da dor. Se o homem comum soubesse dos perigos a que se
vê ameaçado constantemente, procuraria reunir todas as suas forças para
libertar-se definitivamente das situações indesejáveis. O vício, em boa
sinonímia, quer dizer hábito destrutivo. Toda cautela possível no comportamento
diário é necessária, para que a criatura eduque-se cada vez mais a caminho da
paz e da tranqüilidade. Um grande incêndio pode ter início num simples palito de
fósforo.
A esta altura adentramos região de trevas, onde tivemos de dinamizar nossas
vibrações individuais, projectando discreta claridade no ambiente.
Nesse exacto momento visualizamos um jovem em lamentável situação de angústia
e dor.
Muito serenamente, Calvino informou-nos:
– Este nosso irmão vive nestas condições, conflitado e demente, há três anos,
jamais faltou-lhe assistência de benfeitores dos Planos mais altos, dentro dos
limites estabelecidos pela Lei, contudo, só ultimamente tem conseguido registrar
vibrações superiores.
O rapaz, que se chamava Albertino, gemia como se sofresse doloroso pesadelo.
Sua expressão facial traduzia desespero e pavor.
Calvino, afavelmente estendeu as mãos sobre o doente ao tempo em que pedia
nossa colaboração por meio de prece silenciosa e foi então que percebi que o
moço passava a respirar mais facilmente, demonstrando alívio.
Em seguida, o mentor esclareceu-nos:
– Estamos diante duma vítima do tóxico. O problema é delicado e exige de nós
o máximo de compreensão. Albertino deixou o plano físico com a idade de vinte e
seis anos, após insuflar nas artérias excessivas doses de cocaína. Viciado fazia
mais de oito anos, vinha paulatinamente degenerando seu organismo, com graves
distúrbios no campo psíquico.
Sem que me pudesse controlar ante a inusitada experiência, levantei uma
questão:
– O tóxico, além de alterar a saúde física, abala a estrutura íntima da alma?
O orientador, pacientemente, explicou-me:
– A droga lembra o cupim, animáculo que corrói madeira, causando quase que
ocultamente danos irrecuperáveis. Inicialmente o indivíduo invigilante ingere
pequena dose, sem atinar para as conseqüências do ato praticado. Em seguida
outra e mais outra. A progressão das doses e ouso variado do alucinógeno,
estabelece a dependência que em si representa não apenas problema fisiológico,
mas sobretudo, espiritual, deteriorando continuamente os centros vitais
magnéticos.
Todo o sistema nervoso é atingido juntamente com o aparelho circulatório,
respiratório e região gastrointestinal. A essa altura são igualmente
prejudicadas as glândulas sudoríparas e endócrinas. Os
neurónios, células delicadíssimas do cérebro, passam também a desgastar-se e
consequentemente se estabelece o enfraquecimento da vontade, apesar de toda a
reacção dos anticorpos nos mais diversos sectores da fisiologia.
Foi nesse ponto das considerações altamente valiosas que formulei outra
pergunta:
– E o problema obsessivo, onde fica?
– As atitudes da pessoa – elucidou gentilmente – tem sempre repercussão no
plano invisível. As boas acções encontram ressonância nas faixas elevadas,
enquanto as más buscam sintonia com as sombras, isto é, com as zonas da
ignorância e do sofrimento.
Após ligeira pausa. prosseguiu:
– Considerando a circunstância, devo dizer que a pessoa a – quem prestamos
amparo neste momento, está ligada por vigorosos laços magnéticos a entidades
sombrias, desde os seus primeiros passos na ribanceira do vício.
O instante era grave. O serviço exigia nossa melhor atenção, portanto, calei
minha curiosidade científica, enquanto, obedecendo ao orientador, voltamos às
aplicações fluídicas, visando a recuperação de Albertino.
Extraído de “NOVAS LUZES“, dos espíritos
André Luiz e Hilário Silva, psicografia de Ariston S. Teles,
edição LIVREE, págs.101-104