Emmanuel II – Públio Lentulus
(Continuação do artigo publicado, neste jornal, no mês anterior)
Mas Públio Lentulus em sua presumida superioridade, prefere se entregar ao orgulho que lhe caracterizava a personalidade, esquecendo todas as exortações do profeta de Nazaré, não chegando nem mesmo a reconhecer-Lhe a intervenção na cura da filha.
Na mesma noite tem um sonho onde entre outras coisas, vê um juiz ostentando uma toga extremamente alva que lhe fala:
” — Públio Lentulus, porque desprezaste o minuto glorioso, com o qual poderias ter comprado a hora interminável e radiosa da tua redenção na eternidade?
“Estiveste, esta noite, entre dois caminhos o do servo de Jesus e o do servo do mundo. No primeiro, o jugo seria suave e o fardo leve; mas, escolhestes o segundo, no qual não existe amor bastante para lavar toda a iniqüidade… (…) Sofrerás muito, porque nessa estrada o jugo é inflexível e o fardo pesadíssimo; mas agiste com liberdade de consciência, no jogo amplo das circunstâncias de tua vida… (…) Não te condenamos, para tão somente lamentar o endurecimento do teu espírito em face da verdade e da luz! Retempera todas as fibras do teu “eu”, pois enorme há-de ser, doravante a tua luta!…”
À partir de então sua vida se transforma numa seqüência de decepções e amarguras indescritíveis.
André de Gioras trama e executa o rapto do filho Marcus, intrigas e calúnias fazem com que ele desconfie da fidelidade da própria esposa…
Relegada à indiferença e ao abandono do esposo, Lívia abraça ardentemente a fé cristã e em uma das reuniões nas catacumbas é feita prisioneira, vindo a morrer no circo.
No final do livro Emmanuel conclui por si mesmo que enquanto Lívia vivera para Deus, ele vivera para César, recebendo ambos compensações diversas na estrada do destino. Enquanto o jugo de Jesus fora suave e leve para a esposa, seu coração altivo e orgulhoso estava preso ao terrível jugo do mundo, sepultado nas dores irreversíveis, sem claridades e sem esperanças. Acabou os últimos dez anos de sua vida cego, amargando as pungentes revelações de André de Gioras, ainda num gesto de transformação de sua alma, perdoando-lhe as infortunadas ações.
Desencarna fatidicamente em agosto de 79, na terrível erupção do Vesúvio.
Mas errar em uma existência não significa estar condenado para sempre, pois todo erro pode ser reparado.
Em seu segundo romance “50 Anos Depois”, prefacia Emmanuel:
“Cinqüenta anos depois das ruínas fumegantes de Pompéia, nas quais o impiedoso senador Públio Lentulus se desprendia novamente do mundo, para aferir o valor de suas dolorosas experiências terrestres, vamos encontrá-lo, nestas páginas, sob a veste humilde dos escravos, que o seu orgulhoso coração havia espezinhado outrora. A misericórdia do Senhor permitia-lhe reparar, na personalidade de Nestório, os desmandos e arbitrariedades cometidas no pretérito, quando, como homem público, supunha guardar nas mãos vaidosas, por injustificável direito divino, todos os poderes. (…)”
Nestório era um negro de grande cultura que fora feito escravo pelos romanos, sendo comprado por uma nobre família de patrícios. Cristão desde criança, chegou a alcançar a velhice do apóstolo João, conhecendo-o em suas pregações evangélicas em Éfeso. O livro ainda nos chama a atenção sobre a lei de causa e efeito, mostrando o imperativo do resgate das faltas, nas trilhas da evolução espiritual.
Em uma das reuniões nas catacumbas, quando substituía um pregador ausente, Nestório é feito prisioneiro junto dos demais presentes, vindo a morrer no circo, numa morte semelhante a que tivera a esposa na reencarnação pretérita.
Desde então o nobre espírito não mais se desvincularia da missão de propagação do Evangelho do Cristo, que viera a conhecer ainda na personalidade do orgulhoso senador romano.
Em 12 de janeiro de 1949, Emmanuel ditou a seguinte mensagem no grupo de estudos espíritas de Pedro Leopoldo:
“O trabalho de cristianização, irradiando sob novos aspectos, do Brasil, não é novidade para nós.
Eu havia abandonado o corpo físico em dolorosos compromissos, no século XV, na Península, onde nos devotávamos ao “crê ou morre”, quando compreendi a grandeza do País que nos acolhe agora. Tinha meu espírito entediado de mandar e querer sem o Cristo. As experiências do dinheiro e da autoridade me haviam deixado a alma em profunda exaustão. Quinze séculos haviam decorrido sem que eu pudesse imolar-me por amor do Cordeiro Divino, como o fizera, um dia, em Roma, a companheira do coração.
Vi a floresta a perder-se de vista e o patrimônio extenso entregue ao desperdício, exigindo o retorno à humanidade civilizada e, entendendo as dificuldades do silvícola relegado à própria sorte, nos azares e aventuras da terra dadivosa que parecia sem fim, aceitei a sotaina, de novo, e por Padre Nóbrega conheci, de perto, as angústias dos simples e as aflições dos degredados. Intentava o sacrifício pessoal para esquecer o fastígio mundano e o desencanto de mim mesmo, todavia, quis o senhor que, desde então o serviço americano e, muito particularmente, o serviço ao Brasil não me saísse do coração.
A tarefa evangelizadora continua. A permuta de nomes não importa. Cremos no Reino Divino e pugnamos pela ordem cristã. Desde que reconheçamos a governança e a tutela do Cristo, o nome de quem ensina ou de quem faz não altera o programa. Vale, acima de tudo, a execução (…)”.
Manuel de Nóbrega nasceu na vila portuguesa de Sanfins, nas cercanias de Vila Real, em Entre-Douro-e-Minho, a 18 de outubro de 1517.
Estudou nas Universidades de Salamanca e Coimbra, bacharelando-se em direito canônico pela última. Ingressou na Companhia de Jesus em 1544, e cinco anos depois designado por Dom João III, embarcava juntamente com Tomé de Souza para o Brasil, desembarcando na Bahia em 29 de março de 1549.
Colaborou na fundação das cidades de Salvador e do Rio de Janeiro e foi sua a iniciativa da fundação da cidade de São Paulo em 1554.
Virtuoso, enérgico, de um caráter por assim dizer tenaz, exercia grande ascendência moral sobre os religiosos, colonos e índios.
É considerado o primeiro escritor do Brasil, pelas suas cartas informativas sobre o país, escritas da Bahia e pelo livro “Diálogo sobre a conversão do Gentio”.
O confrade Clóvis Tavares no livro “Amor e Sabedoria de Emmanuel”, nos fala de uma mensagem de Emmanuel, recebida em Pedro Leopoldo, no dia 13 de março de 1940, que trata sobre o encontro do senador Públio Lentulus com o apóstolo Paulo em Roma.
Emmanuel conta que este encontro se deu pouco depois da trágica desencarnação de Lívia, quando o espírito do senador ainda se encontrava bastante atormentado. Em dos trechos da mensagem Emmanuel relata:
” (…) As palavras de Paulo eram firmes e consoladoras. O grande convertido não conhecia a úlcera que me sangrava o coração, todavia, as suas expressões indiretas foram, imediatamente, ao fundo de minh’alma, provocando um dilúvio de emoções e de esclarecimentos.”
Na espiritualidade o grande convertido de Damasco que sempre se dedicou a amparar “as grandes inteligências afastadas do Cristo, compreendendo-lhes as íntimas aflições e o menosprezo injusto de que se sentem objeto no mundo, ante os religiosos de todos os matizes, quase sempre especializados em regras de intolerância”, prometeu auxiliá-lo em suas posteriores existências terrenas.
Talvez seja por isso que em gratidão a este gigante do evangelho, o padre Manoel da Nóbrega chegou a adiar a inauguração do Colégio de Piratininga, a que deu o nome de “São Paulo”, para o dia da conversão do Apóstolo, comemorado em 25 de janeiro.
Desencarnou no Rio de Janeiro, no antigo Morro do Castelo, em 18 de outubro de 1570, ao completar 53 anos de idade, vítima de tuberculose.
Podemos dizer que Emmanuel é na atualidade – sem sombra de dúvida -, um dos mais valorosos espíritos encarregados de propagar a Terceira Revelação na Terra. Mentor Espiritual responsável pela obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier, escreveu mais de 100 livros que tratam dos mais diversos assuntos entre Filosofia, Ciência, Literatura, e principalmente Exortações Evangélicas, sendo orientador também de diversos espíritos, como André Luiz, do qual prefaciou vários livros.
Chico Xavier disse certa vez notar em Emmanuel o mais alto grau de tolerância, por sempre tratar todas as questões com o máximo de respeito pela liberdade e idéias dos outros.
Nestas despretensiosas linhas, lembramos um pouco das “vidas” e da obra deste grande discípulo do Cristo, que sempre nos consolou com suas mensagens confortadoras e instrutivas, onde sempre ressaltou que o grande desafio que temos pela frente é o de: “Evangelizarmos a nós mesmos…”
Paulo Henrique D. Vieira
de Uberlândia, MG
Bibliografia:
- XAVIER, Francisco Cândido. Emmanuel Há 2000 Anos… 24ª ed., FEB.
- TAVARES, Clóvis Amor e Sabedoria de Emmanuel. 7ª ed., Instituto de Difusão Espírita.
(Jornal Verdade e Luz Nº 167 Dezembro de 1999)