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Enquanto estamos a caminho

Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da Justiça e não sejais metido em prisão. Digo-vos, em verdade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil. (Jesus Cristo – Mateus 5:25 e 26)
 


Diante dessa recomendação do Mestre Jesus a todos nós, espíritos em evolução, passando pelas bênçãos das provas e das expiações, nesta oficina Terra, temos de levar em conta alguns detalhes contidos nos versículos em pauta, de suma importância para o nosso entendimento e compreensão.


Observemos que Jesus nos recomenda “reconciliar” com os nossos “adversários” e chamando-nos a atenção para que seja “o mais depressa possível”, e ainda circunstancia: “enquanto estais com ele a caminho”.


O dicionário online de português traz a definição de que “reconciliar” é instaurar a paz entre; ficar em harmonia com; harmonizar-se.


Em analogia com o entendimento de que para amar o próximo é necessário primeiro amar a si mesmo, logo, para reconciliar-se com os adversários, é necessário cada qual se reconcilie consigo mesmo, em primeiro lugar, pacificando a própria consciência e harmonizando-se com os bons pensamentos, em sintonia com as leis divinas.


Estando em paz consigo mesmo, estará desenvolvendo os quesitos da caridade como a entendia (e entende) Jesus: benevolência (= boa vontade, surgida da voluntariedade, sem esperar nada em troca); indulgência (= doçura por dentro); e perdão (= doar-se por completo). (Vide Livro dos Espíritos, questão 886)


Em seguida, estaremos habilitados ao bom relacionamento com os adversários.


Adversários???

 

Exatamente, adversários!


Pois bem! Novamente, em consulta ao referido dicionário, observamos que “adversário” significa aquele que entra em combate com outra pessoa; antagonista; que é capaz de se opor; que é contrário a; opositor; que disputa uma competição contra; concorrente; rival; contendor.


Logo, observamos que um adversário não precisa, necessariamente, ser um inimigo. Mas, alguém que está a caminho conosco e que pensa e age diferente de nós, expõe as suas opiniões diversas das nossas, conduz a vida de um jeito que nos incomoda, ou pode ser, mesmo, um inimigo decorrente de entreveros desta e/ou de outras existências e que agora é a oportunidade de ajuste ou reajuste, ou seja, da reconciliação, do “acertar dos ponteiros” e seguir o caminho desbravando horizontes de amizade e paz.


Que essa reconciliação atenda a recomendação do Mestre Jesus, sendo a mesma “o mais depressa possível”, porque “estamos a caminho”.


“Estar a caminho” tem o sentido de movimento, de estar andando para frente. Muito diferente de “estar no caminho”, porque “estar no caminho” tem o sentido estático.


Temos de entender que a ideia de Jesus é de evolução. E para evoluir temos de agir e de nos movimentar, ir ao encontro do outro que, muitas das vezes, é nosso adversário e/ou inimigo.


Quando Jesus nos alerta quanto ao “mais depressa possível”, desperta em nós a ideia de “tempo”, de aproveitarmos a oportunidade que temos para nos apaziguar uns com os outros, acertando as arestas e desenvolvendo as virtudes morais, sendo caritativos; cada qual se colocando no lugar do outro, com o coração misericordioso, removendo e ajudando o outro a remover as pedras do caminho.


É aproveitarmos o tempo, essa ferramenta que temos em mãos para o exercício do livre arbítrio, para desenvolvermos a maturidade das nossas escolhas e buscarmos a felicidade juntamente com os companheiros de jornada evolutiva que também estão a caminho.


Mas… a caminho de quê? Para onde?


Rumo à felicidade, para a qual todos nascemos e renascemos, que se localiza dentro de cada um de nós em particular, onde está o Reino de Deus, conforme Jesus nos ensinou através do Evangelho de Lucas, capítulo 17, versículo 21.


E ao fazer essa viagem, rumo à felicidade, no mundo da consciência, muitos, quiçá a maioria, acabarão por concluir que, também, os nossos adversários podem ser nós mesmos, que não nos damos oportunidades de nos ouvir e de perceber o que temos de melhorar e de exercer o amor a si mesmo (= o autoamor), não nos culpando de nada; mas, responsabilizando-nos pelas nossas ações e omissões.


Se estamos a caminho, estamos de passagem de um lugar para o outro, em busca do conhecimento da verdade que nos liberta da prisão do orgulho e do egoísmo, da ignorância, da intolerância, da falta do perdão.


É preciso no caminho, o mais depressa possível, aprendermos a caminhar um com o outro, lado a lado, tantas milhas forem necessárias, aprendendo um com o outro, com as experiências um do outro.


É preciso no caminho mostrar a outra face, que é a face da benevolência para com todos, da indulgência para as imperfeições dos outros e do perdão das ofensas.


É preciso no caminho entregar a túnica do conhecimento e a capa do desprendimento.


É preciso, o mais depressa possível, e se possível, ainda nesta encarnação, para que evitemos a prisão de nossas consciências nas grades da ignorância, da consciência culpada, do egoísmo e do orgulho e de tantos os demais vícios que nos aprisionam, a fim de evitarmos os pagamentos dolorosos de cada ceitil, de centavo por centavo, na conta da vida.


Autor: Yé Gonçalves

Contato: [email protected]

 

(Publicado originalmente na revista espírita O Consolador, edição 512, de 16/04/2017)