– Espelho, espelho meu, diga se no mundo existe alguém mais belo do que eu! Ou mais louco do que eu!
– Claro que não! Você é o mais belo e o mais louco que existe.
Assim ele me respondia (aquilo que eu queria ouvir), nos tempos de ternura da infância grafada nas doces recordações.
Logo fui crescendo, chegando à adolescência (ou se preferirem: aborrescência), esse amigo espelho já não me respondia como antes.
Muitas das vezes, parecia me desafiar com a sua franqueza, que, quase sempre, eu entendia como implicância da parte dele. Contrariava os meus apelos, mas não podia quebrá-lo, era como se ele fosse eu mesmo ao avesso.
Depois, chegando à idade adulta, ele já me apontava às rugas que se somavam ou se multiplicavam no rosto que, aos poucos, ia se transformando numa careta que de bela era a história que carregava.
Hoje, ainda na idade adulta, cresci e me amadureci em relação a esse amigo espelho. Foi-se a infância, os tempos de ternura e os de “aborrescência”.
Tornou-se necessária a conversa franca, frente a frente, com esse amigo de outrora, que agora não mais me ver um menino ou um “aborrescente”, mas quem já cresceu um pouco mais e busca na vida a continuidade do aprendizado da vida.
Por incrível que pareça, os questionamentos se inverteram.
Agora, é ele que me questiona:
– Diga se existe alguém mais belo do que você! Ou mais louco do que você!
Agora, é ele que me pergunta:
– Como foi o seu dia de hoje? O que de bom você plantou? Como foi a sua colheita no dia de hoje? Você fez todo o bem que precisava ser feito? Fez as pessoas felizes? Você se fez feliz? Qual é a sua análise do dia de hoje? Como foi o seu balancete?
E o interessante é que ele continua:
– Responda essas perguntas para você mesmo! Faça a análise do dia de hoje para você mesmo! Apresente o balancete do dia de hoje para você mesmo! Afinal, sou apenas a sua consciência e me reflito em você e você em mim. Mas é você que tem a bússola para a sua jornada de vida, e é o capitão e o comandante do seu próprio destino.
E assim, vou seguindo, lado a lado, com esse amigo fiel, pelos caminhos evolutivos da eternidade afora…
Autor: Yé Gonçalves
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