Tamanho
do Texto

Espiritismo e Cerebrocentrismo

Espiritismo e Cerebrocentrismo

O materialismo e a religião sempre serviram de motivo para discussões infindáveis;
a razão e a fé, separadas por dogmas e preconceitos científicos, só fizeram as pazes
no século XIX, com a codificação kardequiana, onde o mestre lionês com maestria
de sempre esclarece a questão com as palavras: “a Ciência e a Religião não puderam,
até hoje, entender-se, porque, encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista
exclusivo, reciprocamente se repeliam. Faltava com que encher o vazio que as separava,
um traço de união que as aproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das
leis que regem o Universo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis
tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos seres.
Uma vez comprovadas pela experiência essas relações, nova luz se fez: a fé dirigiu-se
à razão: esta nada encontrou de ilógico na fé: vencido foi o materialismo.”

Bem sabemos que contra esse monstro avassalador, devemos com a razão estribada
no bom-senso kardequiano, lutar contra esse reducionismo científico que quer sufocar
a alma humana no limitado espaço do corpo material. Esperamos que um dia esse estado
de coisas possa mudar e “a Ciência, deixando de ser exclusivamente materialista”
possa contar com o “elemento espiritual e em que a Religião, deixando de ignorar
as leis orgânicas e imutáveis da matéria, como duas forças que são, apoiando-se
uma na outra e marchando combinadas, se prestarão mútuo concurso.”

O cérebro passou a ser a medida de todas as coisas a partir do século XVIII,
com as pesquisas do médico vienense Franz Gall, que analisou as saliências do crânio
de pessoas mortas, tentando encontrar algumas protuberâncias que pudesse associar
com a descrição da personalidade dessas pessoas quando vivas. Conhecido como frenologia,
esse método mapeou o crânio em 32 regiões, chegando ao ponto de marcar uma região
que era responsável pela, prestem atenção, propensão para roubar. A frenologia caiu
no esquecimento a partir de 1861, quando o neuroanatomista e antropólogo francês
Paul Broca analisou o cérebro de um paciente que tinha distúrbios na fala e acabara
de morrer. Broca verificou que a área atingida no cérebro desse paciente era completamente
diferente da prevista para a fala pela frenologia.

Hoje em pleno século XXI, o neurologista português Antônio Damásio, pesquisador
da Universidade de Iowa, Estados Unidos, e também autor dos livros: O Mistério
da Consciência
e O Erro de Descartes, afirma tonitruante que: “Gostaria
de acreditar numa vida eterna, mas não tenho nenhuma evidência de que a
consciência existe fora do corpo.”

Não pude deixar de sublinhar as palavras acima, pois evidências são por demais
conhecidas sobre o assunto, e sobre a consciência fora do corpo físico, as evidências
são estarrecedoras. Não há como negar! O Antônio Damásio ainda tem muito a pesquisar!

(Publicado em O CLARIM, Ano XCVII, Nº 08, Matão, março de 2003)

Bibliografia:

  1. O Evangelho segundo o Espiritismo, Allan Kardec, tradução de Guillon Ribeiro,
    110ª edição, 1995, pág. 58
  2. Superinteressante, edição 171, dezembro de 2001, pág. 58