Caros amigos,
De fato as posições extremadas a nada conduzem, no entanto não podemos adulterar
a mensagem que Kardec nos legou.
Quer-nos parecer que este assunto esta a ser analisado conforme as tendências
de cada um; os partidários do epíteto de religião puxam a brasa a sua sardinha e
os outros igualmente.
Ora não havia necessidade disso, se estudássemos bem os livros de Kardec.
Allan Kardec, no seu memorável discurso de 1 de Novembro explicou “Porque dizemos
que o Espiritismo não é religião?” explicando igualmente que as pessoas não veriam
mais do que o reeditar de mais uma religião a semelhança das outras já existentes,
perdendo assim o espiritismo o seu caráter universalista.
Por outro lado, existe uma outra abordagem: ha tempos em conversa com um alto
dirigente espírita brasileiro ele estava orgulhoso pois no seu pais o espírita podia
afirmar que a “sua” religião era a religião espírita. Ora estamos fazendo precisamente
o contrario do espírito universalista que Kardec quis imprimir ao espiritismo. Numa
outra altura, conversando com um outro dirigente espírita, desta feita, português,
quase fui “amaldiçoado” com ameaças veladas com o umbral, caso fizéssemos campanha
contra a postura do espiritismo ser religião.
Coloca-se uma questão: quem é o espírita?
Kardec informa com muita propriedade que o espírita reconhece-se pela sua transformação
moral e não pelo emblema que queira colocar ao peito.
Então porque será que continuamos com esta luta de palavras?
Penso que seja por atavismos do passado e por uma falta de entendimento cultural
do espiritismo, pois como sabemos muitos de nos já paroquiamos no passado e deambulamos
pelos conventos. Perante a hipótese de ter o poder de novo num centro espírita e
ser considerado o guia espiritual terreno de muitos, por vezes a tentação é grande.
O Espiritismo não se compadece com isso.
Não somos mais amigos de Deus nem o Criador nos ama mais ou menos pelo fato de
nos dizermos religião. No entanto, psicologicamente as pessoas agem como tal, como
se o fato de ostentarem o epíteto religião fosse uma espécie de passaporte para
a antecâmara dos planos felizes da espiritualidade.
O que Deus espera de nos não é um disputa estéril em torno de conceitos mas sim
a nossa renovação intima, sempre que possível.
Ora, como me identifico quando perguntam pela minha religião?
Não tenho religião, sou cristão e sigo a doutrina espírita.
Mas o espiritismo não é religião?
Não, de acordo com a definição de Allan Kardec: “O Espiritismo é uma ciência
filosófica de conseqüências morais”. Claro como a água!
O curioso disto tudo é que ha tempos um outro dirigente espírita definia assim:
“Espiritismo é uma ciência filosófica de conseqüência religiosas” tendo sido chamado
a atenção para a adulteração da definição de Kardec.
Tenhamos pois cuidado e não nos iludamos. O Espiritismo esta bem estudado e fundamentado
por Kardec.
Uma definição?
Ora ai vai: “Ciência filosófica de conseqüências morais” (in “O que é o Espiritismo”)
José Lucas, Portugal
(Retirado do Boletim GEAE Número 275 de 13 de Janeiro de 1998)