Tamanho
do Texto

Estudos Espíritas – Trabalho

Estudos Espíritas – Trabalho

Conceito – Genericamente o vocábulo trabalho pode ser definido como:
“Ocupação em alguma obra ou ministério; exercício material ou intelectual para
fazer ou conseguir alguma coisa.

O trabalho, porém, é lei da Natureza mediante a qual o homem forja o próprio
progresso desenvolvendo as possibilidades do meio ambiente e um que se situa,
ampliando os recursos de preservação da espécie, pela reprodução, o homem vê-se
coagido à obediência à lei do trabalho.

O trabalho, no entanto, não se restringe apenas ao esforço de ordem material,
física, mas, também, intelectual pelo labor desenvolvido, objetivando as
manifestações da Cultura, do Conhecimento, da Arte, da Ciência.

Muito diferente da força aplicada pelo animal, o trabalho no homem objetiva a
transformação para melhor das condições e do meio onde se encontra situado,
desdobrando a capacidade criativa, de modo a atingir as altas expressões da
beleza e da imortalidade, libertando-se, paulatinamente, das formas grosseiras e
primárias em que transita para atingir a plenitude da perfeição.

O movimento e o esforço a que são conduzidos os animais e que por
generalização passam a ser denominados trabalho, constituem atividade de
repetição motivada pelo instinto de “conservação da vida”, sem as resultantes
realizações criadoras, que facultam o aprimoramento, o progresso, a beleza
inerentes ao ser humano. Enquanto os animais agem para prover a subsistência
imediata o homem labora criando, desenvolvendo as funções da inteligência que o
agigantam, conseguindo meios e recursos novos para aplicação na faina de fazê-lo
progredir.

A princípio, o homem, à semelhança do próprio animal, procurava apenas prover
as necessidades imediatas, produzindo um fenômeno eminentemente predatório, numa
vida nômade, em que se utilizava das reservas animais e vegetais para a caça, a
pesca a colheita de frutos silvestres, seguindo adiante, após a destruição das
fontes naturais de manutenção. No período da pedra lascada sentiu-se impelido a
ampliar os braços e as pernas para atingir as metas da aquisição de recursos,
recorrendo a instrumentos rudes, passando mais tarde à agricultura para, da
terra, em regime de sociedade, extrair os bens que lhe facultassem a preservação
da vida, prosseguindo, imediatamente, a criação de rebanhos que domesticou,
capazes de propiciar-lhe relativa abundância, pelo resultante do armazenamento
dos excedentes da colheita e do abate animal, deixando de ser precárias as
condições, assaz primitivas, em que vivia.

Com a utilização dos instrumentos mais aprimorados para a caça, a pesca, a
agricultura, a criação de rebanhos, as atividades tornaram-se rendosas,
facultando a troca de mercadorias como primeiro passo para o comércio e
posteriormente para a indústria, de modo a fomentar recursos sempre novos e cada
vez mais complexos, pelos quais libertava-se paulatinamente das dificuldades
iniciais para levantar a base do equilíbrio social, pela previsão e recursos de
previdência que sofria com freqüência: secas, guerras, enfermidades.

No passado, porém, o trabalho se apresentava para as classes nobres como uma
desonra, sendo reservado apenas aos “braços escravos”, que se encarregavam de
todas as tarefas, de modo a que os dominadores se permitissem a ociosidade
brilhante, podendo-se valorizar os recursos dos homens pelo número de escravos e
servos de que podiam dispor. Mesmo a cultura da inteligência era transmitida,
não raro, por homens ferreteados pela escravidão, e o desenvolvimento das artes,
das atividades domésticas encontrava-se em posição subalterna de servilismo
desprezado, conquanto indispensável.

O trabalho, porém, apresenta-se ao homem como meio de elevação e como
expiação de que tem necessidade para resgatar o abuso das forças, quando
entregues à ociosidade ou ao crime, na sucessão das existências pelas quais
evolute. Não fora o trabalho e o homem permaneceria na infância primitiva, sendo
por Deus muitas vezes facultado ao fraco de forças físicas os inapreciáveis
recursos da inteligência, mediante a qual granjeia progresso e respeito,
adquirido independência econômica, valor social e consideração, contribuindo
poderosamente para o progresso de todos.

Com o irrompimento da técnica, que multiplicou os meios para a atividade do
homem, na sociedade, veio inevitavelmente a divisão social do próprio trabalho,
criando as classes, hoje, como ontem, empenhadas em lutas terrificantes e
crescentes.

A lei do trabalho, porém, impõe-se a todos e ninguém fugirá dela impunemente,
deixando de ser surpreendido mais adiante… A homem algum é permitido usufruir
os benefícios do trabalho de outrem sem a justa retribuição e toda exploração
imposta pelo usuário representa cárcere e algema para si mesmo, na sucessão das
existências inevitáveis a que se encontra impelido a utilizar.

Do trabalho mecânico, rotineiro, primitivo, puro e simples, à automação,
houve um progresso gigante que ora permite ao homem o abandono das tarefas
rudimentares, entregues a máquinas e instrumentos que ele mesmo aperfeiçoou,
concedendo-lhe tempo para a genialidade criativa e a multiplicação em níveis
cada vez mais elevados.

Sendo o trabalho uma lei natural, o repouso é a conseqüente conquista a que o
homem faz jus para refazer as forças e continuar em ritmo de produtividade.

O repouso se lhe impõe como prêmio ao esforço despendido, sendo-lhe facultado
o indispensável sustento nos dias da velhice, quando diminuem o poder criativo,
as forças e a agilidade na execução das tarefas ligadas à subsistência.

Teorias Econômicas do Trabalho e Justiça Social – Duas são as teorias
econômicas do trabalho na estrutura da sociedade: o trabalho-valor que se
consusbstancia nas teorias de Adam Smith, Jean-Baptiste Say e David Ricardo, que
pugnavam pela assertiva de que “o trabalho cria o valor econômico” e a outra, a
do trabalho-produção, expressa através dos expoentes da denominada Escola
Marginalista, que consideram o trabalho como um dos “fatores da produção, cujo
valor é medido pelo valor do produto que cria”, considerando-se primacialmente a
sua utilidade aplicada ao mercado de consumo.

Com a Revolução Industrial e o advento da máquina que modificaram toda a
estrutura do trabalho realizado pelo homem, a tese do trabalho-valor sobrepôs-se
e foi adotada por Karl Marx, objetivando o trabalhador, nas suas necessidades de
reposição do desgaste físico (ou mental), conseqüência direta e imediata da
atividade exercida, sendo, assim, o trabalho, inexaurível fonte de todo o
progresso humano.

Com o desenvolvimento das Ciências Sociais e o advento das Entidades
Previdenciárias e Assistenciais, o homem passou a beneficiar-se de uma
regulamentação legal sobre o tempo de trabalho, horário, remuneração
extraordinária e a indispensável aposentadoria, observados os requisitos
essenciais, assistência médico-odontológica, pensão para a família, quando
ocorre o óbito, invalidez remunerada em estrutura de justiça.

As lutas entre patrão e empregado começaram a ser examinadas com maior
eqüidade, resolvendo-se em Casas de Justiça os graves problemas a que se viam
constrangidos os menos afortunados pelos valores aquisitivos, que, em face da
permanente conjuntura econômica a que se vêem a braços os diversos países, eis
que com a moeda ganha sempre se adquire menos utilidades, comprimindo-os até o
desespero, fomentando a anarquia e o desajustamento comunitário.

Dividido o tempo entre trabalho e lazer, ação e espairecimento, ampliam-se as
possibilidades da existência do homem, que, então, frui a decorrência do
progresso na saúde, nas manifestações artísticas, na cultura, no prazer,
dispondo de tempo para as atividades espirituais, igualmente valiosas, senão
indispensáveis para a sua paz interior.

Mediante o trabalho-remunerado o homem modifica o meio, transforma o habitat,
cria condições de conforto.

Através do trabalho-abnegação, do qual não decorre troca nem permuta de
remuneração, ele se modifica a si mesmo, crescendo no sentido moral e
espiritual.

Por um processo ele se desenvolve na horizontal e se melhora exteriormente;
pelo outro, ascende no sentido vertical da vida e se transforma de dentro para
fora.

Utilizando-se do primeiro recurso conquista simpatia e respeito, gratidão e
amizade.

Através da autodoação consegue superar-se, revelando-se instrumento da

Misericórdia Divina na construção da felicidade de todos.

Trabalho e Jesus – Fazendo-se carpinteiro e dedicando-se à profissão
na elevada companhia de José, o Mestre laborava ativamente, ensinando com o
exemplo e respeito ao trabalho, como dever primeiro para a manutenção e
preservação da vida, mediante a atividade honrada. Em todo o seu ministério de
amor e abnegação tem relevante papel, verdadeiro trabalho de autodoação até
sacrifício da própria vida, sem paralelo em toda a História.

Seus discípulos, a posteriori, fizeram do trabalho expressão de dignificação,
tornando-se “escravos do Senhor” e servos de todos, oferecendo o labor das
próprias mãos para a subsistência orgânica, enquanto se “afadigavam” na
sementeira da luz.

Seu exemplo e Suas lições erguem os escravos que jazem no potro da miséria e
dá-lhes suprema coragem no exercício do próprio trabalho através do qual
encontram energiar para superar as fracas forças, tornando-se fortes e
inatingíveis.

Infundem coragem, estimulando o trabalho-serviço fraternal, de modo a manter
a comunidade unida em todos os transes.

Ensinam esperança, utilizando o trabalho-redenção, por cujo meio o espírito
libra acima das próprias limitações e se liberta das malhas da ociosidade e do
mal.

Agora, quando as luzes do Consolador se acendem na Terra da atualidade,
encontrando o homem em pleno labor regulamentado por leis de justiça e
previdência, eis que soam no seu espírito as clarinadas do trabalho mantenedor
do progresso geral de todos, utilizando-se dos valores da fé para a construção
do Mundo Melhor em que o amor dirima as dúvidas, em torno da vida imortal, e a
caridade substitua em toda a plenitude a filantropia, à semelhança do que ocorre
nos Mundos Felizes onde o trabalho, em vez de ser impositivo, é conquista do
homem livre que sabe agir no bem infatigável, servindo sempre e sem cessar.

Estudo e meditação:

“A necessidade do trabalho é lei da Natureza? ”

“O trabalho é lei da Natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade,
e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as
necessidades e os gozos.” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, questão 674.)

“Com efeito, o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do
planeta. Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo, dispô-lo para receber um dia toda a
população que a sua extensão comporta. Para alimentar essa população que cresce
incessantemente, preciso se faz aumentar a produção. Se a produção de um país é
insuficiente, será necessário buscá-la fora. Por isso mesmo, as relações entre
os povos constituem uma necessidade. A fim de mais as facilitar, cumpre sejam
destruídos os obstáculos materiais que os separam e tornadas mais rápidas as
comunicações. Para trabalhos que são obra dos séculos, teve o homem de extrair
os materiais até das entranhas da terra; procurou na Ciência os meios de os
executar com maior segurança e rapidez. Mas, para os levar a efeito, precisa de
recursos: a necessidade fê-lo criar a riqueza, como o fez descobrir a Ciência. A
atividade que esses mesmos trabalhos impõem lhe amplia e desenvolve a
inteligência, e essa inteligência que se concentra, primeiro, na satisfação das
necessidades materiais, o ajudará mais tarde a compreender as grandes verdades
morais. Sendo a riqueza o meio primordial de execução, sem ela não mais grandes
trabalhos, nem atividade, nem estimulante, nem pesquisas. Com razão, pois, é a
riqueza considerada elemento de progresso.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo,
Allan Kardec, cap. XVI, item 7.)

Texto extraído do livro Estudos Espíritas, de Divaldo Pereira Franco pelo
espírito de Joanna de Ângelis.