Há 50 anos atrás Gandhi conquistava a Independência da Índia, e a mensagem
de vida do Mahatma Gandhi, acerca da não-violência, é mais atual do que nunca,
nestes dias conturbados, difíceis e violentos.
No último dia 15 de agosto comemoraram-se exatamente 50 anos da Independência
da Índia. Uma das civilizações mais antigas do mundo, a Índia comemora o
cinqüentenário da sua libertação do Império Britânico, conquistada após uma luta
política pacífica comandada por Gandhi e Nehru.
Em 15 de agosto de 1947, aquela Nação, hoje com mais de 900 milhões de
habitantes, livrou-se do imperialismo inglês.
Mas quem foi Mahatma Gandhi? Qual a sua proposta de vida da não-violência,
já que libertou 700 milhões de pessoas (em 1947) sem o derramamento de uma só
gota de sangue da sua parte?
Vamos conhecer um pouco mais deste Apóstolo da religiosidade indiana e
mundial, começando pela sua desencarnação, continuando com a análise da sua
proposta da não-violência para o mundo todo e tecendo ao final algumas
considerações sobre Nosso Senhor Jesus, acerca de Gandhi e da Doutrina Espírita.
A morte de Gandhi
Ao mesmo tempo em que aconteceu a Independência da Índia, este país foi
dividido em dois Estados: a União Indiana (hindu), e o Paquistão
(muçulmano), uma «vivissecção» que Gandhi considerou inaceitável.
Dedicou-se, então, o Mahatma, a reconciliar as duas comunidades, mas este
fato provocou o ódio de ambas as partes, até que aconteceu um fato muito
lamentável para aquele país e para o mundo. Era o dia 30 de janeiro de 1948.
Mohandas Karamchand Gandhi tinha 78 anos. Quando se dispunha para orar junto a
500 pessoas, foi assassinado brutalmente com vários tiros de revólver por
Nathuran Vinayak Godse, um hindu fanático que nunca aceitou seus sentimentos
fraternos para com os muçulmanos. Suas últimas palavras foram: He Rama!
(Oh, meu Deus!)
O Mahatma e a não-violência
Analisando a Vida e a Obra do Mahatma (denominação que significa
Alma Grande, dada a Gandhi por um dos maiores poetas e escritores
da Índia: Rabindranath Tagore, contemporâneo seu e Prêmio Nobel de Literatura em
1913), percebemos que toda ela tem uma coerência formidável, entre o que
disse e o que fez, fato muito difícil de encontrarmos na vida de um homem dos
nossos dias. Notemos o que disse outrora o líder pacifista indiano: «A força
de um homem e de um povo está na não-violência;
experimentem». (Os grifos são nosssos.)
E as suas idéias e sua conduta (discurso e ação) liberaram a mais de
700 milhões de indianos e muçulmanos do jugo, da opressão e domínio do império
inglês, sem o derramamento de uma só gota de sangue da sua parte.
Mas o que é a não-violência? Em que consiste a sua prática?
Nas seguintes palavras textuais de Gandhi entenderemos melhor qual é a
essência do pensamento-ação da não-violência: «O que quer que façam conosco,
não iremos atacar ninguém nem matar ninguém; estou pedindo que vocês lutem, que
lutem contra o ódio deles (do governo inglês), não para provocá-lo. Nós não
vamos desferir socos, mas tolerá-los, e através do nosso sofrimento faremos com
que vejam suas próprias injustiças e isso irá ferí-los, como todas as lutas
ferem, mas não podemos perder, não podemos… Eles poderão torturar meu corpo,
quebrar meus ossos, até me matar, então terão meu corpo inerte, mas não a minha
obediência».
Jesus, Gandhi e o Espiritismo
Estas significativas palavras-atos nos fazem lembrar as sábias palavras do
Nosso Senhor e Mestre Jesus há quase dois mil anos: «Vós tendes ouvido o que
se disse: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos que não resistais
ao mal; mas se alguém te ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra»
(Evangelho de Mateus, cap. 5: vv. 38 e 39).
Estes eternos ensinamentos do Cristo foram interpretados em espírito e
verdade pelo ínclito Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec, quando
esclarece: «Por essas palavras Jesus não proibiu a defesa, mas
condenou a vingança. Dizendo-nos para oferecer uma face quando formos
batidos na outra, disse, por outras palavras, que não devemos retribuir o mal
com o mal; que é mais glorioso para ele ser ferido que ferir, suportar
pacientemente uma injustiça que cometê-la; que mais vale ser enganado que
enganar, ser arruinado que arruinar os outros. A fé na vida futura e na justiça
de Deus, que jamais deixa o mal impune, é a única que nos pode dar a força de
suportar pacientemente os atentados aos nossos interesses e ao nosso
amor-próprio». (In «O Evangelho segundo o Espiritismo», cap. XII: Amai
os vossos inimigos.) (Os grifos são de A. Kardec.)
Fazer o bem em troca do mal
Voltemos a Gandhi: «Foi a minha mulher (Kasturbai Makanji Gandhi)
que me ensinou a não-violência, quando tentei dobrá-la à minha vontade. A sua
obstinada resistência, de um lado, e, do outro, a tranqüila submissão no
sofrimento que padecia por causa da minha estupidez, agiu de tal modo em mim que
comecei a envergonhar-me e deixei de acreditar que tinha por natureza o direito
de dominá-la. Destarte, ela tornou-se o meu mestre da não-violência».
«A verdadeira beleza, aquela que eu pretendo, está em fazer o
bem em troca do mal». (Grifos nossos.)
Amai os vossos inimigos
Agora é a vez de voltarmos, primeiramente, aos profundos e atuais
ensinamentos do Cristo, e logo após às esclarecedoras interpretações do eminente
Codificador Allan Kardec: «Tendes ouvido o que foi dito: Amarás ao teu
próximo e aborrecerás ao teu inimigo. Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos,
fazei bem ao que vos odeia, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para
serdes filhos de vosso Pai, que está nos Céus, o qual faz nascer o seu Sol sobre
bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos» (Mateus, V: 20,
43-45).
E Allan Kardec sabiamente complementa: «Amar aos inimigos não é, pois, ter
por eles uma afeição que não é natural, uma vez que o contato de um inimigo faz
bater o coração de maneira inteiramente diversa que o de um amigo. Mas é não
lhes ter ódio, nem rancor, ou desejo de vingança. É perdoá-los sem
segunda intenção e incondicionalmente, pelo mal que nos fizeram. É
não opor nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem em vez do mal. É
alegrar-nos em lugar de aborrecer-nos com o bem que os atinge. É estender-lhes a
mão prestativa em caso de necessidade. É abster-nos, por atos e
palavras, de tudo o que possa prejudicá-los. É, enfim, pagar-lhes em
tudo o mal com o bem, sem a intenção de humilhá-los. Todo
aquele que assim fizer, cumpre as condições do mandamento: Amai os vossos
inimigos» (Idem Obra espírita citada). (Os grifos são
originais.)
Notemos que Gandhi não era cristão! Ele era seguidor dos ensinos do livro
sagrado indiano: o Bhagavad Gita, e em certa feita manifestou (após ter lido
o Sermão da Montanha, do Evangelho de Jesus) que qualquer pessoa, que
seguisse e vivenciasse os ensinamentos do Sermão do Monte, seria imensamente
feliz. Este era Gandhi, digno de ser, sem sombra de dúvida, um dos Guias da
Humanidade.
Conclusão
Para concluir, gostaríamos de deixar – para os nossos leitores – outras
idéias-ações do Mahatma, que particularmente tocaram muito fundo a nossa alma,
extraídas do livro «O Pensamento de Gandhi» (Editora Martin Claret):
«A não violência é o meio. A verdade é o fim». «O amor à
Verdade supõe a vontade de querer entender sempre o ponto de vista do
adversário». «Não desejo morrer pela paralisação progressiva das minhas
faculdades, como um homem vencido. A bala de meu assassino poderia pôr fim à
minha vida. Acolhê-la-ia com alegria». «Aquele que não é capaz de governar a si
mesmo, não será capaz de governar os outros». «Se um único homem
chegar à plenitude do amor, neutraliza o ódio de milhões».
Aquele que não é capaz de governar a si mesmo, não será capaz de governar
os outros. (Gandhi)
(Jornal Mundo Espírita de Outubro de 1997)