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História do Cristianismo VII

História do Cristianismo VII

A partir de 325, com o Concílio de Nicéia, começam os concílios
maiores, chamados ecumênicos, convocados para estabelecer a posição da Igreja
ante doutrinas consideradas heréticas. Nesse primeiro concílio geral aprova-se o
credo de Nicéia, como resposta ao arianismo; em 381 (Constantinopla I)
define-se a natureza da divindade do Espírito Santo; em 431 (Éfeso)
trata-se da unidade pessoal de Cristo e da Virgem Maria; em 451 (Calcedônia)
definem-se as naturezas divina e humana de Cristo; em 553 (Constantinopla II)
condenam-se os ensinos de Orígenes e de outros; em 680-681 (Constantinopla
III
) são dogmatizadas as duas naturezas de Cristo; em 787 (Nicéia II)
é regulada a questão da veneração das imagens.

5 – Ascensão do Papado

O Papa era o Bispo de Roma. Seu papel, porém, envolvia muito mais do que a
supervisão da diocese romana, pois ele afirmava ser o chefe espiritual da
Igreja, abençoado com a orientação especial do Espírito Santo, e todos os
católicos romanos conheciam essa afirmação. Repousava ela na base de que Jesus
designara o Apóstolo Pedro como chefe da nova Igreja e Pedro, que se tornara o
primeiro Bispo de Roma, passara a direção de toda a Igreja, e não somente a
diocese de Roma, aos seus sucessores no Bispado Romano.

A coexistência entre a Igreja e o Estado Romano não se manifesta somente ao
nível institucional e político, mas também no mundo teológico e filosófico. Os
cristãos se abrem cada vez mais à filosofia pagã, particularmente ao
neo-platonismo e ao estoicismo. O primeiro dá ao cristianismo a sua cosmovisão e
novas categorias teológicas; o segundo, a sua formulação ética. A situação
parecia concretizar o que Justino escrevera no séc. II: “Todos os princípios
justos que os filósofos e os legisladores descobriram, eles o devem ao fato de
haverem contemplado parcialmente o lógos. A doutrina de Platão não é estranha à
do Cristo, assim como a dos estóicos. Mas cada um deles não pode exprimir senão
uma verdade parcial
“.

Clemente de Roma também afirmara que um centro de unidade política poderia
ser fator da unificação institucional das Igrejas.

A pax romana, com a vertiginosa expansão da Igreja e suas lutas
internas, sente-se ameaçada. Com a morte de Constantino (337) e a divisão do
império entre os seus três filhos, novamente a situação torna-se hostil para a
Igreja. Entretanto, Teodósio o Grande proíbe o culto pagão, quando a partir de
então muitos templos pagãos são destruídos ou transformados em igrejas.

No início do séc. V, o bispo de Roma já havia conquistado posição de
destaque. Devia-se isso não somente à crença de que o apóstolo Pedro ali fundara
uma Igreja, como também à ortodoxia do bispado em meio à crise ariana e sua
firmeza durante as invasões germânicas. Em 445, Leão I conseguiu que
Valentiniano III, imperador do Ocidente, promulgasse um edito estabelecendo a
primazia do bispo de Roma como sucessor do “primado de São Pedro”. Tal fato
levou Constantinopla, em 451, a declarar-se com a mesma autoridade de Roma.
Esboçava-se a futura separação, que seria mais política do que religiosa, entre
as Igrejas do Oriente e do Ocidente.

Outras circunstâncias ajudaram o Papa a ganhar uma posição de liderança. Num
tempo em que todo o Império se acostumara a olhar para Roma como o centro
político do mundo civilizado, era natural que os cristãos de todo o Império
buscassem em Roma orientação espiritual. Assim, o Papa se tornou uma réplica do
imperador. Mais tarde, quando o Império se dividiu em duas partes e o imperador
se estabeleceu em Constantinopla, o Papa conseguiu prestígio ainda maior, pois
continuou a representar o princípio da liderança romana. Além disso, vários dos
primeiros papas foram homens de notável estatura, que fizeram bom uso de sua
posição para manter o poder da Igreja sobre o Estado. No oriente, os imperadores
em geral controlavam as igrejas; ao contrário de Roma com o césaro-papismo, a
Igreja do Oriente nunca exerceu o poder temporal. E, enquanto as igrejas do
leste (onde a tradição grega de especulação filosófica permanecia forte) muitas
vezes se embaralhavam em controvérsias doutrinárias, tais lutas raramente
agitavam as igrejas do Ocidente. Desse modo, Roma veio a ser conhecida como o
baluarte da doutrina ortodoxa cristã.

No séc. XIX, mais precisamente em 1870, a teoria gregoriana do primado do
papa é consolidada no Concílio Vaticano I, com a declaração da infalibilidade
papal.


(1) Escatologia – 1 – Doutrina sobre a consumação do
tempo e da história. 2 – Tratado sobre os fins últimos do homem.
(2) Presbítero – Sacerdote, padre.
(3) Diocese – Circunscrição territorial sujeita à
administração eclesiástica de um bispo.
(4) Sínodo – Assembléia regular de párocos e outros
padres, convocada pelo bispo local.
(5) Catecúmeno – Aquele que se prepara e instrui para
receber o batismo.
(6) Diácono – Clérigo no segundo grau das ordens
maiores, imediatamente inferior ao presbítero, ou padre.
(7) Laicato – Relativo a leigo.
(8) Burguesia – Classe social que surge na Europa em
fins da Idade Média, com o desenvolvimento econômico e o aparecimento das
cidades, e que vai, gradativamente, infiltrando-se na aristocracia, e passa a
dominar a vida política, social e econômica.
(9) Ecumênico – O sentido empregado no texto é o de
universal.


TEXTOS EXTRAÍDOS DE:

  • DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo.
  • Atlas da História Universal.
  • SAVELLE, Max. História da Civilização Mundial.
  • Dicionário Prático Ilustrado. Lello & Irmãos Editores, Porto.
  • Enciclopédia Britânica.
  • MIRANDA, Hermínio C. Cristianismo: a mensagem esquecida.
  • Diversas Religiões. Abril Cultural.

ANEXO

O texto abaixo foi extraído do livro “Cristianismo e Espiritismo”, de Léon
Denis, no qual o autor, embora criticando os erros e omissões da Igreja, não
deixa de reconhecer o papel fundamental exercido por ela na construção da
sociedade atual.

“Apesar de todas as críticas, fundadas ou infundadas, tecidas ao longo destes
vinte séculos, é justo recordar os serviços prestados pela Igreja à causa da
Humanidade. Sem a sua hierarquia e sólida organização, sem o papado, que opôs o
poder da idéia, posto que obscurecida e deturpada, ao poderio do gládio, tem-se
o direito de perguntar o que se teria tornado a vida moral, a consciência da
Humanidade. No meio desses séculos de violência e trevas, a fé cristã animou de
novo ardor os povos bárbaros, ardor que os impeliu a obras gifantescas como as
Cruzadas, à fundação da Cavalaria, à criação das artes na Idade Média. No
silêncio e na obscuridade dos claustros o pensamento encontrou um refúgio. A
vida moral, graças às instituições cristãs, não se extinguiu, a despeito dos
costumes brutais da época. Aí estão serviços que é oreciso agradecer à Igreja,
não obstante os meios de que ela se utilizou para a si mesma assegurar o domínio
das almas.

Em resumo, a doutrina do grande crucificado, em suas formas populares, queria
a obtenção da vida eterna mediante o sacrifício do presente. Religião de
salvação, de elvação da alma pela subjugação da matéria, o Cristianismo
constituía uma reação necessária contra o politeísmo grego e romano, cheio de
vida, de poesia e de luz, mas não passando de foco de sensualismo e corrupção. O
Cristianismo tornava-se um estágio indispensável na marcha da Humanidade, cujo
destino é elevar-se incessantemente de crença em crença, de concepção em
concepção, a sínteses sempre e cada vez mais amplas e fecundas.

O Cristianismo, com os seus doze séculos de dores e trevas, não foi uma era
de felicidade para a raça humana; mas o fim da vida terrestre não é a
felicidade, é a elevação pelo trabalho, pelo estudo e pelo sofrimento; é, numa
palavra, a educação da alma; e a via dolorosa conduz com muito mais segurança à
perfeição que dos prazeres.

O Cristianismo representa, pois, uma fase da história da Humanidade, a qual
lhe foi incontestavelmente proveitosa; ela, a Humanidade, não teria sido capaz
de realizar as obras sociais que asseguram o seu futuro, se não se tivesse
impregnado do pensamento e da moral evangélicos.”

(Publicado no Boletim GEAE Número 414 de 3 de abril de 2001)