História do Cristianismo I
A concepção que o ser humano faz de Deus se amplia com o passar do tempo. O
homem, nos primórdios da civilização, carente de um pensamento abstrato que lhe
possibilitasse uma postura mental reflexiva, e com um desenvolvimento psíquico
ainda muito incipiente, mantinha suas percepções tão-somente da realidade física
que o cercava.
Assim, incapaz, pela sua ignorância, de conceber um ser imaterial, sem forma
determinada, atuando sobre a matéria, conferiu-lhe o homem atributos da natureza
corpórea, isto é, uma forma e um aspecto, desde então, tudo o que parecia
ultrapassar os limites da inteligência comum era, para ele, uma divindade. Tudo
o que não compreendia devia ser obra de uma potência sobrenatural.
Podemos assim, definir Politeísmo como sendo a crença religiosa numa
pluralidade de deuses ou a adoração de mais de um deus.
A palavra deus tinha, entre os antigos, acepção muito ampla. Não indicava,
como presentemente, uma personificação do Senhor da Natureza. Era uma
qualificação genérica, que se dava a todo ser existente fora das condições da
Humanidade.
Entre os vários fatores responsáveis pela criação e multiplicação dos deuses
devemos salientar: a) a personificação das forças da natureza (mit. astral,
deuses telúricos e subterrâneos, deuses da fecundidade) e a sua conseqüente
elevação ao reino da divindade; b) a divinização de antepassados e heróis; c) a
centralização política dos grandes Estados, provocando a fusão e a unificação de
culturas e crenças.
O Politeísmo expressou-se, através dos tempos, segundo a cultura de cada
povo, em três principais sistemas: a idolatria, adoração de muitos deuses
personificados por ídolos grosseiros; o sabeísmo, culto dos astros e do fogo sem
intermédio de emblemas representativos, e o Fetichismo, adoração de tudo quanto
impressiona a imaginação e a que se atribui poder. Não é raro encontrar estas
três formas estreitamente unidas.
2 – Politeísmo e Paganismo
A palavra paganismo é comumente usada como sinônima de politeísmo. Em sua
essência, os dois termos guardam a mesma idéia. Entretanto, do ponto de vista
histórico e teológico, não. Quando Constantino consagrou o Cristianismo como a
nova religião do Império Romano os não-cristãos eram chamados de pagãos:
praticantes do paganismo. Neste aspecto, foram generalizados como pagãos tanto
os politeístas propriamente ditos, como os monoteístas não-cristãos.
Feiticistas (1) na sua origem, como o são ainda hoje entre
os povos selvagens, as religiões da Antiguidade eram politeístas, com uma
tendência mais ou menos acentuada para o antropomorfismo. Tais eram as religiões
dos principais povos antigos: egípcios, assírios, fenícios, persas,
cartagineses, gregos e romanos, gauleses, germanos.
J. Lubbock dividiu em seis períodos a história religiosa da Humanidade: 1o. –
ateísmo; 2o. – fetichismo (do português feitiço, sortilégio); 3o. – culto da
natureza; 4o. – xamanismo (a religião dos xamãs, feiticeiros profissionais); 5o.
– antropomorfismo; 6o. – crença em um deus criador e providencial.
A partir de um conceito desenvolvido por N. S. Bergier, em 1767, de que a
mentalidade do homem primitivo era semelhante à de uma criança, que empresta uma
alma e uma personalidade ativa a cada um dos objetos que a rodeiam, E. B. Tylor
retomou e desenvolveu esse conceito. Segundo ele (Primitive Culture, 1872), o
homem pré-histórico ter-se-ia formado de início de uma determinada noção da
própria alma a qual não tardaria a assimilar a alma dos animais e das plantas,
para depois passar a concebê-la sob a forma de espíritos individuais
disseminados por toda a natureza. Em resultado de uma lenta seleção, daí se
teria originado o politeísmo. Em algumas raças superiores (civilizadas) o deus
supremo se teria tornado deus único.
Em resumo, as religiões politeístas, em geral, adoravam vários deuses,
semideuses ou heróis, formando mitologia mais ou menos rica, fértil em lendas; a
cosmogonia e a teogonia se assemelhavam bastante; eram dadas a hábitos de
sacrificar animais ou pessoas a fim de obter boas graças das divindades. As
características físicas, morais e espirituais dos deuses eram semelhantes às dos
homens, só que em grau mais elevado.
3 – Características Comuns das Religiões Politeístas
Reconhece-se a existência de uma religião sempre que alguma sociedade
manifeste, entre as suas expressões culturais um corpo organizado de crenças que
ultrapassam a realidade da ordem natural. Essa definição abrange tanto as
religiões dos povos primitivos quanto as formas mais complexas de organização
dos vários sistemas religiosos., embora variem muito os conceitos sobre o
conteúdo e a natureza da experiência religiosa.
Apesar dessa variedade e da universalidade do fenômeno no tempo e no espaço,
as religiões têm como característica comum o reconhecimento do sagrado e a
dependência do homem de poderes supramundanos. A observância e a experiência
religiosas têm como objetivo prestar tributos e estabelecer formas de submissão
a esses poderes, nos quais está implícita a idéia da existência de ser ou seres
superiores que criaram e controlam o cosmos e a vida humana.
Assim, poderíamos definir algumas características das religiões politeístas:
MITOLOGIA – É o estudo dos mitos. Nem toda religião está ligada a uma
mitologia, mas as religiões de caráter politeísta e antropomórfico oferecem, em
princípio, à imaginação mítica, matéria própria.
MITO – É uma narração poética referente ao nascimento, vida e feitos
dos antigos deuses e heróis do paganismo.
LENDA – Relato transmitido pela tradição.
ORIGEM DOS MITOS – Guarda relação com a observação da natureza e seus
variados e multiformes elementos. A imaginação humana personificou os fenômenos
naturais e os imaginou como individualidades livres, independentes, cuja atuação
estava submetida a invariáveis leis morais e dotados, também, de uma
corporeidade muito próxima da forma humana (antropomorfismo).
EVOLUÇÃO DOS MITOS – A mitologia grega era muito mais rica que a dos
romanos e de outros povos, devido o espírito helênico ter sido altamente criador
e o romano mais prático.
FONTE DA MITOLOGIA – Baseia-se no legado dos poetas gregos e latinos.
Merece destaque a obra deixada pelo grego Homero.
COMO ERAM OS DEUSES – A aparência dos deuses era totalmente humana,
porém melhorada, mais bela e majestosa; mais fortes, mais vigorosos. Possuíam
todas as faculdades humanas em escala ampliada. Necessitavam, como os homens, do
sono, da comida e da bebida. A comida não era igual à vulgar alimentação humana,
mas se alimentavam do néctar e ambrosia. Necessitavam andar vestidos, sobretudo
as deusas que escolhiam as vestes e os adornos com capricho. O nascimento era
semelhante ao dos humanos, porém os deuses eram precoces e o período da infância
bem reduzido. A mais importante vantagem dos deuses sobre os homens era o fato
de serem imortais, nunca envelheciam, não eram atingidos por doença alguma.
Moralmente, eram muito superiores aos mortais e como a maldade, a impureza e a
injustiça os aborreciam não hesitavam em castigar as maldades e injustiças
humanas. Apesar de toda superioridade física, moral e espiritual, os deuses
estavam presos aos seus destinos, fixados desde a eternidade. Os deuses passavam
a vida desocupados, num verdadeiro far niente (nada fazendo), por isto buscavam
toda sorte de divertimentos e passatempos. Os deuses viviam numa grande
comunidade, reunidos em torno do pai dos deuses e dos homens (o deus principal).
A COSMOGONIA – (Mitos referentes às origens do mundo) era mais ou
menos semelhante entre os diversos povos politeístas, apesar de que os romanos
não se cuidaram de ter idéias próprias sobre tal coisa. De um modo geral, os
antigos acreditavam que o mundo surgiu a partir do caos, ou seja, de um espaço
infinito e tenebroso.
A TEOGONIA – (Mitos que explicam o nascimento e descendência dos
deuses), entre os diversos povos politeístas, também é similar, mudando, às
vezes, nomes, locais e as lendas.
SACRIFÍCIOS – Os povos primitivos e politeístas adoravam os deuses
através de oferendas, cultos, rituais que, geralmente, comportavam sacrifícios
de animais ou de seres humanos. Como nos esclarece a questão 669 de O Livro dos
Espíritos, os sacrifícios existiam. Primeiramente, porque não compreendia Deus
como sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos a matéria sobrepuja o
espírito; eles se entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em
geral, são cruéis; é que neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. Em
segundo lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura
animada muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isto
que os levou a imolarem, primeiro animais e, mais tarde, homens.
(1) FEITICISMO E FETICHISMO – Ambas as formas são
aceitáveis, sendo que no Brasil a mais usada é a segunda.
TEXTOS EXTRAÍDOS DE:
- Enciclopédia Barsa.
- Enciclopédia Britânica.
- Apostila FEB. Aspecto Religioso.
- Atlas da História Universal.
- SAVELLE, Max. História da Civilização Mundial.
- Dicionário Prático Ilustrado. Lello & Irmãos Editores, Porto.
(Publicado no Boletim GEAE Número 408 de 9 de janeiro de 2001)