Wellington Balbo – Salvador BA.
Dia desses recebi email de uma mãe alegando sofrer demais com a ingratidão do filho. Estava ela numa cadeira de rodas, com o pé quebrado, e o rapaz, forte e saudável, recusou-se a ajudá-la. Naturalmente que, como mãe e ser humano que é, ficou chateada a indagar:
Que fiz eu, meu Deus, para merecer filho tão ingrato, que em nada ajuda a mãe, mesmo quando ela necessita?
Santo Agostinho, em O evangelho segundo o espiritismo, dá-nos sábias lições em mensagem intitulada – A ingratidão dos filhos e os laços de família.
Diz-nos o Espírito de Agostinho que Deus não faz provas superiores às nossas forças, e que podemos vencer o complicado desafio da ingratidão dos filhos.
Indica deixarmos de olhar apenas o presente e voltarmos os olhos ao passado para, com a ideia das múltiplas existências, encontrarmos um consolo e forças para prosseguir.
Pois bem, não é tarefa fácil deixar de esperar reconhecimento, ainda mais de alguém tão ligado a nós pelos laços do coração e do sangue, como os filhos.
O próprio Agostinho reconhece como é complicado assuntos pertinentes ao coração. Muito mais difícil enfrentar a ingratidão do que a mesa escassa.
Seria mesmo grande ingenuidade considerar que não brotará um mínimo de decepção no indivíduo que recebe a indiferença, quando não a aversão de alguém tão querido.
Entretanto, vale lembrar que estamos no Planeta Terra, orbe de provas e expiações e, portanto, o impossível é Deus errar. Logo, ingratidão, venha de quem vier é sempre algo possível e até comum de acontecer.
Aliás, eis a vida mostrando isto a todos os instantes.
O grande ponto é aprendermos a lidar com ela, a ingratidão, principalmente dos mais caros a nós.
Ou, melhor, iniciarmos o processo de não esperar nada, absolutamente nada de quem quer que seja.
Como fazer isto?
É um trabalho íntimo que requer muito esforço, porém, é possível realizá-lo.
Evoluir de tal modo que nosso agir seja sempre no bem, independentemente do que outras pessoas irão pensar ou falar, até porque isto não nos diz respeito.
Treinar o desapego do reconhecimento, pois será isto que nos dará a independência do “Obrigado”.
E buscar modificar a visão de caridade.
A caridade que praticamos, o amor que doamos, as provas de renuncia e abnegação, o suor que vertemos em benefício alheio, em realidade ajuda muito mais a nós do que ao outro, pois somos sempre os primeiros beneficiados da caridade praticada.
É como consta em O evangelho segundo o espiritismo, na mensagem de Lázaro denominada – O dever. O dever, em primeiro lugar é para comigo, depois com o outro. Ora, se o dever é para comigo, então vou estender minha mão ao outro, pois será assim que trabalharei pela minha própria evolução.
Quem acende em si a luz da caridade ilumina quem está ao redor e jamais ficará imerso nas trevas.
Portanto, agradecer é dever de quem recebe, mas nem todos cumprem o dever.
Entretanto, não esperar gratidão, reconhecimento ou mesmo um mero obrigado é o antídoto para livrar -se da decepção.
Tornar a prática do bem um hábito, de tal modo que, dia chegará em que agiremos no bem sem perceber, e de forma tão espontânea que agradeceremos quando recebermos e não cobraremos quando beneficiarmos…
Assim, livres de nos sentirmos vítimas da ingratidão alheia, seguiremos nosso caminho sempre fazendo o bem, não por recompensa, mas porque é um hábito que adquirimos com muito treino e vontade de gozar um pouco de liberdade que só o bem nos concede.
Pensemos nisto.