É mesmo impressionante como um determinado assunto, acontecimento ou situação corriqueira da vida tem diferentes significados para as pessoas. Sim, somos completamente diferentes, não há como negar. Enquanto para uns a chuva vem abençoada, para outros é desmancha prazeres. Enquanto para uns o verão é uma estação agradável, para outros é tormento constante. Enquanto para uns a vida é mera brincadeira, para outros é coisa séria. Enquanto para uns as dificuldades são degraus para o progresso, para outros representam obstáculos intransponíveis.
Digo isto baseado em conversa que tive com irmãos gêmeos, portanto, criados pela mesma família, nas mesmas escolas, mesma religião, mesmo grupo de amigos, enfim, realidades bem parecidas, entretanto, visões de mundo totalmente díspares.
Propus a ambos mesma pergunta sobre o tema: vida.
A resposta do irmão A foi: A vida é uma sucessão de perdas. Perdemos a infância e entramos na adolescência, perdemos a adolescência e entramos na idade adulta, perdemos a idade adulta e adentramos a chamada terceira idade e, por fim, morremos.
A resposta do irmão B sobre o mesmo tema foi: Eu vejo a vida como uma sucessão de conquistas. Saímos da infância com experiência para entrar na adolescência, saímos da adolescência mais experientes para entrar na idade adulta, ganhamos maturidade na terceira idade e, por fim, iniciamos nova fase existencial com a chegada da chamada morte do corpo físico.
Qual deles está certo? Qual está errado? Em verdade, não há certo ou errado, pois cada um possui sua própria impressão acerca do mundo.
Mas, é intrigante: mesmo tema, respostas diferentes. Por quê? Naturalmente que no caso acima não podem ser alegados fatores, sociais, culturais, geográficos ou religiosos para respostas tão contraditórias. Ambos tiveram formações semelhantes. Como explicar então diferenças gritantes na forma de encarar a questão? Só há mesmo uma resposta lógica para isto: as existências sucessivas, ou seja, nossas múltiplas experiências no cenário da vida vestindo diversas roupagens de carne que nos proporcionam enfrentar incontáveis situações, nos mais distintos locais sob as mais variadas formações sociais, culturais, psicológicas e religiosas. Em nossa jornada evolutiva adquirimos conhecimentos dos mais diversos que nos transformam em criaturas singulares, únicas, portanto, com visões totalmente incomparáveis das realidades apresentadas pela vida. A sabedoria está em saber lidar com as diferenças para que não nos tornemos pessoas agressivas e desrespeitemos a maneira que o outro tem de encarar a vida.
Muitas vezes vemos pais fazendo comparações entre filhos, na irracional tentativa de querer que um pense ou aja como o outro. Impossível, porque somos um espírito, uma individualidade com características próprias. A bondade divina presenteou-me com dois filhos, um casal: Olívia e João. Ela com 17 anos é meiga, ele com 11 anos é mais extrovertido, ela gosta de escrever, ele adora desenhar, ela aprecia maçã, ele é movido a base de uva. Enfim, são duas individualidades com suas próprias bagagens, preferências e conquistas espirituais. Minha tarefa como pai é orientá-los, mas, sobretudo, respeitar suas escolhas envolvendo profissão, cidade onde morar e objetivos a alcançar. Afinal, antes de serem meus filhos são filhos de Deus, almas em busca de aprimoramento e, para tanto, necessitam ter liberdade para escolher seus caminhos a fim de que desenvolvam também a responsabilidade, porque será escolhendo os próprios destinos que sentirão na pele os imperativos da vida a mostrar que toda ação gera uma reação.
A propósito, nas fileiras iluminadas de “O Livro dos Espíritos”, Kardec faz instigante pergunta às inteligências invisíveis na questão de nº 804:
P – 804 – Por que Deus não deu as mesmas aptidões a todos os homens?
Segue resposta:
R – Deus criou todos os Espíritos iguais; mas, como cada um viveu mais ou menos, conseqüentemente, adquiriu maior ou menor experiência; a diferença está na experiência e na vontade, que é o livre-arbítrio. Daí uns se aperfeiçoarem mais rapidamente do que outros, o que lhes dá aptidões diversas. A variedade dessas aptidões é necessária, para que cada um possa concorrer com os desígnios da Providência no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais. O que um não pode ou não sabe fazer o outro faz; é assim que cada um tem o seu papel útil. Depois, todos os mundos sendo solidários uns com os outros, é natural que habitantes de mundos superiores, na sua maioria criados antes do vosso, venham aqui habitar para dar o exemplo. (Veja a questão 361.)
Resposta elucidativa. Fomos criados simples e ignorantes e ao longo dos milênios, em incontáveis experiências na carne conquistamos habilidades, virtudes e aptidões diferentes dos demais Espíritos. Natural, portanto, tenhamos visões de mundo diferentes uns dos outros. Mas o interessante nisso tudo é que as diferenças concorrem para a união e o progresso. Como afirmam os filósofos do além, são as diferentes aptidões por parte dos Espíritos que proporcionam o equilíbrio no mundo. Importante, pois, respeitar o ponto de vista alheio, suas escolhas e habilidades, porquanto são graças a essas disparidades que obtemos conhecimentos múltiplos em nossa escalada evolutiva como espíritos imortais.
Pensemos nisso.