Jesus
É muito freqüente no meio espírita a discussão sobre como Jesus o nosso modelo
e guia se apresentou aqui entre nós, quando de sua passagem pelo nosso planeta.
Afirmam em sua grande maioria, que o codificador do espiritismo a esse fato
não se referiu, preferindo analisar apenas a parte moral do evangelho que segundo
entendem, é comum a todas as correntes religiosas.
É claro que como espírita que somos, não podemos deixar de discordar peremptoriamente
de tantos quanto assim pensam, pois na própria codificação nós temos a resposta
clara, e absolutamente esclarecedora que não nos pode deixar a mínima dúvida quanto
ao assunto, vejamos o que nos fala a esse respeito o próprio Allan Kardec:
A Gênese
CAPÍTULO XV – Os Milagres do Evangelho
Superioridade da Natureza de Jesus
“…Como homem, tinha a organização dos seres carnais; porém,
como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual,
do que da vida corporal de cujas fraquezas não era passível” …( item 2).
“ A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que
se seguiu à sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção até o nascimento,
tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida.
Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas
diversas circunstâncias da sua vida, revela os caracteres inequívocos da corporeidade.
São acidentais os fenômenos de ordem psíquica que nele se produzem e nada têm de
anômalos, pois que se explicam pelas propriedades do perispírito e se dão, em graus
diferentes, noutros indivíduos. Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele revela
o ser fluídico. É tão marcada a diferença entre os dois estados, que não podem ser
assimilados.
O corpo carnal tem as propriedades inerentes à matéria propriamente dita, propriedades
que diferem essencialmente das dos fluidos etéreos; naquela, a desorganização se
opera pela ruptura da coesão molecular. Ao penetrar no corpo material, um instrumento
cortante lhe divide os tecidos; se os órgãos essenciais à vida são atacados, cessa-lhes
o funcionamento e sobrevém a morte, isto é, a do corpo. Não existindo nos corpos
fluídicos essa coesão, a vida aí já não repousa no jogo de órgãos especiais e não
se podem produzir desordens análogas àquelas. Um instrumento cortante ou outro
qualquer penetra num corpo fluídico como se penetrasse numa massa de vapor, sem
lhe ocasionar qualquer lesão. Tal a razão por que não podem morrer os corpos
dessa espécie e por que os seres fluídicos, designados pelo nome de agêneres, não
podem ser mortos.
Após o suplício de Jesus, seu corpo se conservou inerte e sem vida; foi
sepultado como o são de ordinário os corpos e todos o puderam ver e tocar.
Após a sua ressurreição, quando quis deixar a Terra, não morreu de novo; seu corpo
se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer vestígio, prova evidente
de que aquele corpo era de natureza diversa da do que pereceu na cruz; donde forçoso
é concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que carnal era o seu corpo.
Por virtude das suas propriedades materiais, o corpo carnal é a sede das sensações
e das dores físicas, que repercutem no centro sensitivo ou Espírito. Quem sofre
não é o corpo, é o Espírito recebendo o contragolpe das lesões ou alterações dos
tecidos orgânicos. Num corpo sem Espírito, absolutamente nula é a sensação. Pela
mesma razão, o Espírito, sem corpo material, não pode experimentar os sofrimentos,
visto que estes resultam da alteração da matéria, donde também forçoso é se conclua
que, se Jesus sofreu materialmente, do que não se pode duvidar, é que ele
tinha um corpo material de natureza semelhante ao de toda gente”. (item
65).
“Aos fatos materiais juntam-se fortíssimas considerações morais.
Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos,
ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim
haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera,
como exemplo de resignação. Se tudo nele fosse aparente, todos os atos de sua
vida, a reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras,
sua prece a Deus para que lhe afastasse dos lábios o cálice de amarguras, sua paixão,
sua agonia, tudo, até ao último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria
passado de vão simulacro, para enganar com relação à sua natureza e fazer crer
num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente
honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa
palavra: ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade. Tais
as conseqüências lógicas desse sistema, conseqüências inadmissíveis, porque o rebaixariam
moralmente, em vez de o elevarem”. (1)
Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico,
o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram
a existência. (Item 66).
(1) Nota da Editora: Diante das comunicações e dos fenômenos
surgidos após a partida de Kardec, concluiu-se que não houve realmente vão simulacro,
como igualmente não houve simulacro de Jesus, após a sua morte, ao pronunciar as
palavras que foram registradas por Lucas (24:39): – “Sou eu mesmo, apalpai-me
e vede, porque um Espírito não tem carne nem osso, como vedes que eu tenho.”
Ante o exposto na própria obra da codificação, como espírita que nos dizemos
ser, procuremos nos orientar pelos ensinamentos daquele que foi considerado como
o bom senso encarnado, e estarmos atentos aos ensinamentos do insigne codificador,
não nos deixando envolver por aqueles que querem de alguma forma encontrar brechas
no trabalho incomparável e insuperável desse espírito que realizou toda sua obra
com decência, dignidade, perseverança e maestria. Não temos razão para esse tipo
de dúvida, pois se raciocinarmos em tudo que aqui foi colocado por Kardec, Jesus
quando conosco esteve, também se utilizou do material que o nosso planeta lhe propiciava
para sua tarefa de transformação da humanidade, sendo por isso modelo e guia para
todos nós, mostrando-nos que é possível viver neste planeta tirando dele o melhor
para a nossa elevação moral como espíritos eternos que somos, mesmo tendo ainda
que nos valer deste instrumento ainda tão rude em termos de vida espiritual.
Não teria sentido algum fazer tudo o que Jesus fez usando de privilégio que se
a ele fosse dado, estaria ferindo o princípio da igualdade apregoada pelos espíritos
superiores a Kardec, onde afirmam em o Livro dos Espíritos que todos somos iguais
perante a lei de Deus nosso pai e criador.
Sua superioridade se dava por conta do grau de pureza espiritual, pelo seu completo
desenvolvimento intelectual e moral, e não por ter herdado do pai eterno um instrumento
melhor que o nosso para seu deleite. Por isso tudo que a codificação nos dá de esclarecimento
sobre esse assunto, cabe-nos uma simples pergunta: o que mais queriam esses nossos
irmãos que o codificador dissesse a respeito de assunto tão claro?
Francisco Rebouças.