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Kardec e a Megatendência Religiosa do Terceiro Milênio

Kardec e a Megatendência Religiosa do Terceiro Milênio

Os espíritas não poderiam ficar alheios a um fato auspicioso para a Doutrina
dos Espíritos, confirmando a sua natureza predominantemente evangélica. Trata-se
do apareci­mento de um dos maiores best-sellers mundiais desta década, isto é,
“Megatrends 2.000”, já na 6ª edição. Seus autores, John Naisbit e Patrícia
Aburdene, reconhecidamente os mais importantes especialistas em tendências
sociais do mundo, oferecem-nos um panorama das Megatendências para o Terceiro
Milênio, com base em dados e pesquisas estatísticas, destacando-se o capítulo
intitulado O renascimento religioso do Terceiro Milênio, onde demonstram o
retorno à Religião como sentimento, como “vivência espiritual”, contrariando a
tese de que Deus estaria morto e que a Religião definharia com o tempo em função
da modernidade, presente na Ciência e na Tecnologia.

Entre outras coisas, é deles a afirmativa:

“(… nesse século testemunhou-se a criação de diversas religiões importantes
made in América – mórmons, adventistas, testemunhas de Jeová e
cientistas-cristãos -, juntamente com a ascensão dos transcendentalistas e a
popularidade do Espiritismo”).

Por outro lado, registraram a incapacidade da Ciência e da Tecnologia de
fazerem tudo, inclusive não nos dizendo o que a vida significa, e detectando
principalmente o declínio das Religiões tradicionais, “organiza­das”, e a
ascensão de um “senti­mento de espiritualidade”, sem que as pessoas pertençam a
uma Religião “organizada”, mas acre­ditando em Deus ou numa “força espiritual
ativa e positiva”. E mais ainda, buscando respostas para as situações-problema
nas Religiões orientais, de bases reencarnacionistas, com rejeição à autoridade
exterior, e objetivando a conquista de uma “experiência” viva de espiritualidade
como acontece com os adeptos da “New Age” nos Estados Unidos, os quais acreditam
que a questão “não é mudar o mundo” mas mu­dar nós mesmos com “vivências” reais
de cunho espiritual, uma vez que as “Religiões organizadas” não tem capacidade
para evocá-las.

Tais pesquisas, embasando esse entendimento de Religião como ‘sentimento
divino’ que prende o Homem ao Criador” (Emmanuel), independentemente de
formalismos e práticas exteriores, casa-se perfeitamente com o do Cristianismo
primitivo, que repousa no “culto interior”, tão expressivamente colocado por
Jesus no diálogo com a Samaritana, quando afirma que Deus é Espírito e deve ser
adorado no templo dos corações!… E mais que isso, feitas por um casal
americano, crescem de importância se levar­mos em consideração o sentido
“prático”, ou “pragmático” do americano do norte em pesquisas dessa natureza.

É exatamente esse sentido filosófico, substancial e não formalístico de
Religião que caracterizou o Cristianismo primitivo e que consubstancia a tônica
do Espiritismo como sendo:

“aquele Consolador prometido às criaturas humanas pelo Divino Mestre,
consagrado a explicar-lhes, em momento oportuno, as verdades eternas. Temos,
as­sim, na Doutrina Espírita, a Religião da Sabedoria e do Amor, vigente em
quaisquer plagas do Universo, a estabelecer o nosso reencontro com o Evangelho
de Jesus”. (“No Portal da Luz”, Emmanuel, F. C. Xavier.)

Prescindindo do “culto exterior”, da “organização hierárquica”, da chefia
humana, a Doutrina Espírita coloca o “Amai-vos uns aos Outros” de Jesus,
corporificado na prática da Caridade e na “reforma íntima”, como condições de
evolução dos seres humanos.

Há, nesse “conceito substancial”, não formalístico de Religião, um
encadeamento lógico que vem desde os primeiros “Profetas” (de Jeremias a
Malaquias), que se consolidou no Cristianismo primitivo e, chegando até nós com
o Espiritismo que o revive, sempre recordado por pensadores notáveis, a exemplo
de um Pestalozzi, que falou de uma Religião espiritual, e de um Bergson com sua
Religião “dinâmica” em contraposição à“estática” ou “social” (organiza­da),
entendimento esse que Kardec defenderia no seu último discurso (Revista
Espírita, dezembro de 1868), quando disse:

“O Espiritismo é uma Religião? Perfeitamente! Sem dúvida; no sentido
filosófico o Espiritismo é uma Religião e nós nos ufanamos disso, porque ele é a
doutrina que fundamenta os LAÇOS DA FRATERNIDADE e da COMU­NHÃO DE PENSAMENTOS,
não sobre uma simples convenção, mas sobre as mais sólidas bases: as leis da
própria natureza.” (Destaques nossos.)

E tais pesquisas reforçam a posição do Espiritismo que será a crença do
futuro (Questão 798 de “O Livro dos Espíritos”) a embasar um novo tipo de
Cultura que está nascendo dos escombros da cultura materialista, reorientando os
valores, espiritualizando a mentalidade, enobrecendo a conduta humana e
demonstrando a absoluta atualidade de Kardec!…

Por isso, as pesquisas dos autores de “Megatrends 2.000” têm um valor
considerável, sendo válida a sua afirmativa:

“ESPIRITUALIDADE, SIM. RELIGIÃO ORGANIZADA, NÃO!”

Reformador nº 1984 de julho de 1994