Na Codificação espírita não existe lei de causa e efeito. Kardec fala em consequências naturais às escolhas feitas. O conceito de lei de causa e feito vem do matemático e físico Isaac Newton, em relação as leis físicas do planeta. Fizeram uma adaptação dessa lei física, para a vida em sua totalidade material e moral, associada a prêmios e castigos divinos. Essa adaptação combina com a concepção judaico-católica de Deus e está muito presente na literatura religiosa espiritualista, de espíritas e de Espíritos. E tem trazido grande complicação para o entendimento do Espiritismo.
Kardec usou a idéia de causa e efeito, sem chamar de lei, apenas referindo-se a Deus e as coisas materiais. Para o comportamento, diz causas e consequências que variam, sem nenhuma conotação determinista.
Revendo essa adaptação indébita, didaticamente adotamos a denominação Lei das Consequências Naturais, àquilo que Kardec nos apresenta como parte integrante do arbítrio. Ele não diz lei, mas funcionando para todos os Espíritos, consideramos que esse termo facilita os estudos, separando o arbítrio em duas partes: escolha e resultado.
Por ser sequência do arbítrio, a lei das consequências naturais origina leis físicas e morais, adequadas a cada corpo celeste. Isso se dá porque, estando na estrutura dos Espíritos e sendo estes os agentes de tudo, vão dando a matéria características específicas, derivadas deles mesmos. Por exemplo, os construtores de corpos celestes, “agregam” matéria dando-lhe organização e propriedades, segundo o objetivo que planejaram alcançar.
Essa adequação visa o grau de evolução dos Espíritos que habitarão o astro, enquanto ele puder existir, e pode ser reconhecida nas leis morais e nas leis físico-químico-biológicas que o caracterizam.
A Astronomia e a Astrofísica mostram que há diversidade na composição material e no funcionamento de cada planeta que podem examinar, em comparação a Terra. Isso apóia a informação espírita de que cada corpo celeste difere, física e moralmente, em função da sua população. Porque, como dissemos, os corpos celestes são formados em condições coerentes e derivadas do tipo de Espíritos que evoluirão nele.
Em nosso planeta, do ponto de vista moral, os valores mudaram de tempos em tempos, conforme os povos e seu crescimento espiritual; mas podemos dizer que no presente, o princípio moral trazido por Jesus, de agirmos com os outros como queremos que ajam conosco, resume a melhor postura comportamental que podemos ter.
Do ponto de vista físico, na Terra, as ciências descobrem as leis que regem a matéria, minuciosamente. A evolução dessas ciências é determinada pelo quanto os cientistas podem confirmar o que consideram ser uma lei e depois disso, avançam em suas descobertas.
A suposição de que um desses ramos do conhecimento tenha dominado toda sua abrangência, cai constantemente por terra, mostrando que há nessas leis, uma amplitude e uma profundidade maiores do que se possa pensar. Até porque, só consideram a matéria densa, mas ela é matéria fluidica condensada e manipulada por todos os Espíritos que aqui estão.
Certamente, quanto mais a tecnologia estiver desenvolvida, mais poderemos constatar essas diferenças que caracterizam cada mundo.
Entender a lei das consequências naturais por esses dois aspectos, moral e físico, é fundamental para que não façamos confusões ou falsas idéias.
Ela não é somente a Pena de Talião (receber exatamente o que se deu) e também não é somente a lei da física mecânica, segundo a qual uma causa produz efeitos iguais, mas em sentido contrário. Esses são apenas dois detalhes possíveis da aplicação da Lei geral, os quais podem funcionar em certas circunstâncias e não em outras. Por isso, ela é universal: serve para tudo e todos, em todos os tempos!
No aspecto moral ou seja, comportamental, nossas escolhas, vindas do Livre Arbítrio, disparam consequências naturais, isto é, resultados coerentes com a causa, que é a escolha feita. Esses resultados são parte de cada escolha e por isso não são prêmios ou punições divinas, como foi interpretado pelas religiões, fruto do desconhecimento de que somos os específicos autores da nossa vida. Com o Espíritismo, sabemos que somos os únicos responsáveis pelo que nos acontece e pelo que fazemos à partir de cada situação.
As causas morais, que começam pela escolha de como pensamos e sentimos, refletem-se em como agimos, bem como na qualidade do corpo perispiritual, na do físico e no ambiente exterior. Por exemplo, deixo cair um vaso de vidro e ele se quebra. Porém, o que me levou a isso? Peso maior do que suporto, distração, nervosismo, descuido, disfunção motora, intenção, susto, vontade, sofrimento moral, desatenção, inseguranças, medo de quebrá-lo… Seja o que for, essa é a verdadeira causa do vaso ter caído. Causa: o estado emocional, espiritual ou orgânico. Consequência: o vaso caiu e quebrou.
As consequências físicas e morais advindas, são sempre fruto natural da verdadeira causa, ou seja, de nossa forma de ser, e não dos atos decorrentes. Observar isso é entender, ampla e profundamente, como a Vida funciona. Atos têm valor, mas o que os produz é a causa moral, que precisa ser examinada e reciclada.
Mantemos formas de sentir, pensar e agir, equivocadas, condicionadas e sem auto-exame, que podem ser causas de situações difíceis, por várias encarnações. A evolução se faz pelo despertar do que nos move internamente e pelo discernimento das consequências. Toda melhoria interior, ou seja, das causas, produz melhoria nas consequências.
Autora: Cristina Sarraf