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Limites da evolução

Limites da evolução

Grande parte das dificuldades encontradas no dia-a-dia
do centro espírita provém da falta de preparo doutrinário que os adeptos possuem
quando deixam a teoria e passam a lidar com a prática do Espiritismo. Por que há
tantos despreparados? A questão merece uma análise detalhada. As pessoas estranhas
à Doutrina procuram os centros para beneficiarem-se dos seus serviços, porém, quase
ninguém se interessa em transformarem-se em seus servidores. Isto faz com que os
poucos que aparecem munidos desta intenção, sejam aceitos sem qualquer critérios
seletivos.

À primeira vista pode parecer que uma “seleção”, tendo em vista o serviço interno,
seja discriminação. Mas, se recorrermos à razão, vamos concluir ao contrário: que
trata-se de um ato de bom-senso. Qualquer organização humana que pretende chegar
a algum lugar, age deste modo pois há elementos que não servem para fazer certas
coisas. O Espiritismo é uma delas. A idéia de que a casa espírita deve ser aberta
a todos indistintamente tem, no entanto, prevalecido, e isso vem fazendo com que
pessoas sem condições doutrinárias básicas, assumam tarefas de responsabilidade.
Temos que criar mecanismos administrativos na casa, para evitar que isso aconteça.
Uma pessoa cheia de boa vontade, mas sem conhecimentos, trabalhando na Seara Espírita,
cria inúmeros obstáculos ao seu bom funcionamento.

É, pois, necessário que se tenha mais cautela com a admissão de trabalhadores,
a fim de evitar que pessoas imaturas transformem-se em médiuns, passistas, oradores
e mesmo dirigentes dos núcleos espíritas. Ao contrário do que se pensa, as criaturas
não são todas iguais. Vejamos o que Jesus e Kardec nos falam da diferente capacidade
que cada um possui de realizar o bem.

Cafarnaum, cidade a noroeste do mar da Galiléia, era um centro cobrador de impostos.
Os estudiosos consideram que foi a “cidade de Jesus”, pois, logo no início do seu
ministério, mudou-se de sua terra natal para lá. Foi onde realizou a maioria de
sua obras, promoveu fenômenos mediúnicos em que pessoas portadoras de doenças físicas
e obsessões foram curadas de maneira incomum. Dentre outros, curou a sogra de Pedro
e o servo do centurião. Proferiu em nas sinagogas, importantes discursos. Aí, encontrou
Mateus, o cobrador de impostos, transformando-o num dos seus mais dedicados seguidores.

Cafarnaum era muito querida. Suas nascentes regavam as planícies de Genesaré
e se tornaram muito conhecidas por sua abundância em peixes. O amanhecer fazia-se
sereno quando o Mestre Divino colocou-se a caminhar em direção ao mar. Ali, reunido
junto aos seus discípulos e uma pequena multidão, o Rabi pronunciou a Parábola do
Semeador.

“Eis que o semeador saiu a semear. E, quando semeava, uma parte da semente caiu
ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na; E outra parte caiu em pedregais,
onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda; Mas,
vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos,
e os espinhos cresceram, e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto:
um a cem, outro a sessenta e outro a trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”
– (São Mateus, capítulo 13, versículos 1 a 9).

Os apóstolos haviam acabado de ouvir a lição do Semeador, mas tinham dúvidas
quanto ao seu verdadeiro entendimento. Pediram a Jesus em particular, que lhes explicasse
como interpretar a lição do dia. E, nos seus ensinamentos, pode-se identificar situações
encontradas nos centros espíritas: a pessoa a quem socorremos e que não pareceu
“ouvir” nossa palavra; o companheiro eufórico a quem chamamos para o convívio que
nos decepcionou depois; e aquele amigo que, embora tivesse boa vontade, fez de sua
vida um obstáculo para o serviço do Alto.

Ensina-nos o Cristo que a semente lançada à beira do caminho é a palavra ensinada
a pessoas que, limitadas pelo seu estado evolutivo, ainda não podem conceber os
princípios básicos da moral evangélica. Escutam, mas não ouvem. A inteligência está
limitada e muitas encarnações serão necessárias para se complementar a capacidade
de raciocínio. A vida será sua grande escola. Estas criaturas aparecem nas casas
de caridade, buscam beneficiar-se materialmente delas, mas seu coração está longe
dos ensinos.

O terreno comparado aos pedregais é a figura dos discípulos que ouvem a palavra,
alegram-se a princípio com ela, dando a impressão de que vão se constituir em servos
da causa, mas depois vem a decepção: voltam a ser o que eram. A vida dos verdadeiros
convertidos, sabemos, será de provações. É natural que sejam provados pelas forças
do mundo, como Ele o foi. A criatura imatura não suporta este tipo de dificuldade
e logo desiste.

Aquela terra onde estão os espinhos é a imagem dos que deixam os interesses materiais
falarem mais alto. Trazem em si adiantadas condições para compreenderem as coisas
de Deus, porém, neles, a semente não toma vida. Os interesses profissionais, familiares
e mundanos predominam em suas mentes.

Finalmente, a boa terra é símbolo dos homens de Deus, que amam a obra que abraçaram
em espírito de verdade. Neles, a semente multiplica-se. Dá frutos de paz e de iluminação
aos que dela necessitam. Assim como as videiras vindimam uvas segundo sua idade,
cada indivíduo de bem produz de acordo com sua capacidade. Um a cem, outro a sessenta
e outro a trinta por um. Constitui-se num grande engano julgar a capacidade dos
outros pela própria capacidade.

A parábola do Semeador é de fundamental importância para orientar quem dirige
um núcleo espírita. Isto porque mostra que são variadas as categorias dos espíritos
encarnados na Terra. Ao nos conscientizarmos disso, fica mais fácil compreender
os problemas do centro e entender a necessidade de existir nele um espírito de direção.
Seria maravilhoso se a Doutrina Espírita tivesse a capacidade de transformar em
sábios todos os que a procurassem. A experiência, porém, demonstra que isso não
é verdade.

Allan Kardec, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo 17, item 4,
comenta a respeito dos diferentes estados de entendimento em que se encontram os
encarnados. Depois de falar sobre as características do homem de bem, explicando
que para ser chamado cristão a pessoa precisa compreender com clareza os ensinamentos
do Cristo, discorre o Codificador acerca das classes em que se dividem os espíritas.
Alguns, dizia ele, acreditam na realidade das manifestações mas não compreendem
suas conseqüências nem seu alcance moral, e se os compreendem, não aplicam as lições
a si mesmos. Noutros, os laços materiais ainda são tão fortes que o espírito não
se desprende facilmente das coisas terrenas. O nevoeiro que os envolve, dizia o
Codificador, não permite a visão de mais amplos horizontes. Eis porque não conseguem
desligar-se de seus gostos e hábitos. Não entendem que haja algo melhor do que aquilo
que possuem.

Por derradeiro, aparecem os espíritas verdadeiros que, segundo Kardec, foram
tocados nas fibras do coração, segundo Kardec. Sua fé é inabalável e os interesses
espirituais se sobrepõem aos da matéria. Enquanto o espírita imperfeito se compraz
naquilo que tem, o verdadeiro espírita trabalha constantemente, numa atitude de
luta, para modificar-se moral e intelectualmente nos caminhos da evolução.

Pelos ensinamentos de Jesus e do Mestre de Lyon, é possível deduzir que nem todos
os que se aproximam das casas espíritas podem ser transformados em espíritas potenciais,
ou mesmo trabalhadores da causa. Ao impedir que personalidades sistemáticas participem
de responsabilidades mais graves no centro espírita, certamente não estaremos faltando
com a caridade, mas contribuindo para a harmonia do conjunto.

17/09/99

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