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Medicina Pioneira

Richard Simonetti

– Ah!… doutor!… Eu queria tanto ter saúde, a fim de ser um pouquinho feliz!… – suspirava aquela senhora que se habituara a percorrer os consultórios médicos, presa de distúrbios diversos.

– Minha filha – responde bondosamente o experiente facultativo –, esse é o erro de muita gente, porque não se trata de procurarmos ter saúde para ser feliz, e, sim, de procurarmos ser felizes para ter saúde. Somente as pessoas em paz com a Vida, que guardam a euforia de viver, desfrutam do equilíbrio físico e mental que todos almejamos.

– Mas doutor!… como manter a euforia de viver, se a cada instante sou contrariada por aqueles que me rodeiam? Como sentir-me em paz com a existência se nunca concretizei meus sonhos? É impossível ensaiar sorrisos, se pisamos espinhos!…

– Você não sabe o que é felicidade. Julga que ser feliz é ver atendidos todos os seus desejos e necessidades. Ainda que isso acontecesse, continuaria infeliz, porque novos desejos e novas necessidades surgiriam. Quando nos acostumamos a pensar muito em nosso bem-estar, tornamo-nos insaciáveis. A felicidade não é oferta gratuita da Vida. Ser feliz é uma arte a exigir esforço e dedicação para que a dominemos. Poucos o conseguem porque os homens ainda se portam como crianças, acostumadas a bater os pés e reclamar em altas vozes quando não lhes dão o brinquedo desejado.

– Talvez tenha razão… E se for assim, como tornar-me adulta? Diga-me, também, o que revela a maturidade no indivíduo.

– É simples. Crescemos emocionalmente quando aprendemos a olhar dentro de nós mesmos, esforçando-nos por eliminar o que há de errado. Se formos sinceros e usarmos da mesma acuidade que nos permite enxergar facilmente as deficiências alheias, acabaremos por identificar o mal maior de nossa personalidade, o grande culpado de nossa infelicidade. Chama-se egoísmo, o sentimento desajustante que nos faz pensar muito em nós mesmos, com total esquecimento dos outros; que faz exijamos respeito, afeto, compreensão, sem oferecê-los a ninguém…

A partir do instante em que, sentindo o imenso prejuízo que o egoísmo nos impõe, buscamos eliminá-lo, começamos a ser adultos.

E o homem adulto, aquele que saber ser feliz, é o que tem plena consciência de suas responsabilidades diante da Vida e da sociedade em que vive, observando-as integralmente…

É o que jamais cogita em edificar um oásis particular, isolado dos sofrimentos e das misérias alheias, pois compreende que a solidariedade é dever elementar, indispensável à edificação da paz no Mundo, e à preservação da tranqüilidade na consciência…

É, enfim, o que observa, plenamente, o velho ensinamento da sabedoria oriental: Quando nasceste, todos sorriam e só tu choravas. Procura viver de forma que, quando morreres, todos chorem e só tu sorrias!

***

Esta entrevista hipotética define bem o esforço pioneiro de alguns médicos esclarecidos, conscientes de que muito mais eficiente que prescrever medicamentos para o corpo é cuidar do Espírito.

Os pacientes deixam seus consultórios com interessantes receitas: integrar-se em instituições de assistência social; participar de campanhas que visem ao bem-estar da coletividade; recolher livros para hospitais e prisões; angariar fundos para instituições socorristas; visitar doentes; atender necessitados, adotar órfãos…

Estes maravilhosos pioneiros colocam em prática as lições inesquecíveis de Jesus, que há dois mil anos já ensinava: a fórmula mágica do equilíbrio e da alegria é fazermos ao nosso semelhante o bem que desejaríamos nos fosse feito.

30-07-2001