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Médiuns Curadores

Médiuns Curadores

Eis um assunto sempre alvo de polêmicas e em última análise também sempre beneficiando muita gente: os enfermos que são os maiores beneficiados. As polêmicas surgem em virtude do endeusamento de médiuns ou explorações de que são vítimas ou se permitem. O fato, porém, é que a faculdade de curar pela mediunidade existe e deve ser alvo de atento e cuidadoso estudo para evitar-se fraudes e uso indevido da notável capacidade de curar enfermidades através da intervenção dos espíritos.

E também há a questão das cirurgias espirituais sem anestesia, sem dor ou sangue e muitas vezes com cicatrização imediata. Ou o tema dos “benzimentos”, “leitura” das linhas das mãos, etc., etc. Assuntos interessantes estes. Mas o que a Doutrina diz destes fatos?

Busquemos algumas definições e transcrições das obras da Codificação:

a) “(…) Todos os fenômenos espíritas tem por princípio a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo e suas manifestações. Sendo tais fenômenos baseados numa lei da natureza, nada têm de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar destes vocábulos. Muitos fatos só são considerados sobrenaturais porque se lhes desconhece as causas; assinando-lhe uma causa, o Espiritismo os faz entrar no domínio dos fenômenos naturais. Entre os fatos qualificados como sobrenaturais, há muitos cuja impossibilidade é demonstrada pelo Espiritismo, que os coloca entre as crenças supersticiosas. Posto que o Espiritismo reconheça em muitas crenças populares um fundo de verdade, de modo algum aceita a solidariedade de todas as histórias fantásticas, criadas pela imaginação. (…) (1)

b) “(…) O poder da fé recebe uma aplicação direta e especial na ação magnética; por ela o homem age sobre o fluido, agente universal, lhe modifica as qualidades e lhe dá uma impulsão, por assim dizer, irresistível. Por isso aquele que, a um grande poder fluídico normal junta uma fé ardente, pode, apenas pela vontade dirigida para o bem, operar esses fenômenos estranhos de cura e outros que, outrora, passariam por prodígios e que não são, todavia, senão as consequências de uma lei natural. (…) Mas o Cristo (…) mostrou (…) o que pode o homem quando tem fé, quer dizer, a vontade de querer(…) Ora, que eram esses milagres senão efeitos naturais cuja causa era desconhecida dos homens de então, mas que se explica em grande parte hoje, e que se compreenderá completamente pelo estudo do Espiritismo e do Magnetismo? (…) (2)

c) “(…) O Espiritismo e o Magnetismo nos dão a chave de uma infinidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu muitas fábulas, em que os fatos são exagerados pela imaginação. O conhecimento esclarecido dessas duas ciências, que se resumem numa só, mostrando a realidade das coisas e sua verdadeira causa, é o melhor preservativo contra as idéias supersticiosas, porque revela o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de crença ridícula. (…)”(3)

E qual a definição de Magnetismo?

Magnetismo: designação comum às propriedades características dos campos de influência magnética das pessoas, dos animais e das coisas. Considera-se magnetismo a influência exercida por um indivíduo ou grupo de indivíduos na vontade ou na organização de outrem. Chamamos também magnetismo ao fenômeno oficialmente aceito e utilizado pela Ciência, que pertence à Física e se define como sendo apropriedade essencial do imã.(*)

Sem adentrar no domínio das leis materiais do magnetismo – que deixamos ao estudo da Física – pensemos na questão espiritual, baseando-nos nas transcrições acima.

O princípio é o mesmo: há uma atração, uma concentração de forças. Em curas e cirurgias sem anestesia, curas ou salvamentos inesperados em situações de extremo perigo ou nos inúmeros casos relatados ou não no início do artigo, existe a formação do que podemos designar de campo magnético. Trata-se da concentração de forças para determinado fim, alcançado de maneira consciente ou não, induzido ou assessorado por espíritos ou pela própria capacidade humana individual ou coletiva. Assim é que por força magnética, médiuns curam

Os fenômenos de origem mediúnica ou anímica prendem-se às qualidades da alma, esteja encarnada ou desencarnada. A potencialidade na produção de fenômenos conscientes ou inconscientes está no espírito, que alcançou este estágio através de seu esforço nas sucessivas reencarnações. Não há, portanto, nada de sobrenatural em fatos aparentemente inexplicáveis. Ficamos apenas na pendência de conhecer para julgar melhor. E neste caso considere-se que muitos fatos e fenômenos ainda escapam à compreensão humana.

O fato final, porém, é que os pensamentos, a potencialidade da alma alcançada pelo esforço e experiência determinam o ambiente próprio em que o ser se movimenta. Sua própria vontade persistente, suas conquistas anteriores possibilitam-lhe realizar ações ou provocar fenômenos – e aqui é importante repetir, consciente ou inconscientemente – nem sempre compreendidos, mas perfeitamente enquadrados nas Leis Naturais.

É pela aplicação desta fabulosa possibilidade que agem os espíritos protetores – na manipulação fluídica em favor do homem – utilizando-se dos próprios homens na produção de fenômenos inesperados ou direcionando inúmeros fatos que despertem o homem dessa sonolência espiritual em que muitos ainda nos vinculamos. É por esta lei que os afins se atraem, que um ambiente onde se reúnam pessoas amigas e simpáticas entre si provoca grande bem estar ou o oposto; é por ele que os sonhos se concretizam – cria-se um campo magnético que é alimentado pelo esforço diário e continuado para alcance desse sonho; é também, infelizmente, onde se engendram grandes tragédias – justamente pela força direcionada. Mas é também por ele, finalmente, entre tantas outras situações, que há permanente solidariedade entre os seres e os mundos, pois estamos todos ligados entre si – mesmo que a distâncias incomensuráveis – pois que filhos do mesmo Bondoso Pai de Amor, caminhamos para a felicidade e o progresso.

Allan Kardec na Revista Espírita (4) citou: “O Magnetismo preparou o caminho do Espiritismo, e os rápidos progressos desta última Doutrina são devidos, incontestavelmente, à vulgarização dos conhecimentos sobre o primeiro. Dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas não há mais que um passo; sua conexão é tal que é, por assim dizer, impossível falar de um sem falar do outro.”

Isto tudo porque estamos imersos num permanente campo de forças que se concentram, atraem ou se dispersam por influência do pensamento, mas também regido pelas leis físicas do Universo, determinantes do equilíbrio deste em todas as áreas e conhecimentos. Basta ao homem aprofundar esse conhecimento. O leitor poderá encontrar muitas referências do Codificador em tão empolgante assunto. Em todas as obras da Codificação, bem como na Revista Espírita, há estudos e citações. É um assunto para vasta pesquisa que não se resume apenas nas leis físicas, mas tem alcance moral pelo uso que permite. São forças da alma que concentradas ou atraídas permitem a formação de um campo magnético que envolve lugares ou pessoas, com poder de ação nas diversas situações da vida humana.

Observemos o pensamento do Codificador, referindo-se aos fluidos espirituais: “(…) Quem quer que traga os pensamentos de ódio, inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, animosidade, cupidez, falsidade, hipocrisia, murmuração, malevolência, numa palavra, pensamentos colhidos das más paixões, espalha em torno de si eflúvios fluídicos que reagem sobre os que o cercam. Ao contrário, na mesma assembléia em cada um só trouxe sentimentos de bondade, caridade, humildade, devotamento desinteressado, benevolência e amor ao próximo, o ar é impregnado de emanações salutares em meio às quais sente viver mais à vontade (…) Os fluidos espirituais representam um importante papel em todos os fenômenos espíritas, ou melhor, são o princípio mesmo desses fenômenos (…)” (5).

Sobre fluido magnético, expõe Kardec (6) “(…) Sabe-se que o fluido magnético ordinário pode dar a certas substâncias propriedades particulares ativas. (…) não há, pois, nada de admirar que possa modificar o estado de certos órgãos; mas compreendam igualmente que sua ação, mais ou menos salutar, deve depender de sua qualidade; daí as expressões ‘bom ou mau fluido; fluido agradável ou penoso’(…)”.

A verdade é que os espíritos atuam sobre os fluidos, não manipulando-os como os homens, mas empregando o pensamento e a vontade. Para os espíritos, o pensamento e a vontade são o que é a mão para o homem. Neste processo, eles imprimem direção, aglomeram ou combinam, ou dispersam; organizam aparências, formas, coloração. Isto tudo pela intenção ou pensamento, de forma consciente ou inconsciente. Aí está a origem das regiões umbralinas ou trevosas, das colônicas espirituais e a ação dos construtores celestes – na formação dos mundos ou na condução dos seres vivos –, das ocorrências de imagens plasmadas em reuniões mediúnicas para socorro de espíritos em desequilíbrio; também da proteção fluídica superior ou de verdadeiros cercos fluídicos organizados por obsessores. Também está aí a atmosfera espiritual de encarnados, a ocorrência do processo obsessivo ou os benefícios da fluidoterapia, etc. Como também as sensações de paz, harmonia, entusiasmo ou desânimo, mal estar, causados por influências espirituais. E até as modificações causadas no períspirito, como num espelho, das imagens criadas pela força do pensamento. Enquadram-se neles também as reflexões sobre vibrações à distância, curas, manifestações de fenômenos físicos (movimento de objetos e outros), vestuário dos espíritos e outros temas que se podem estudar inclusive no capítulo VIII de O Livro dos Médiuns: Laboratório do Mundo Invisível.

Especificamente sobre a mediunidade de cura, em O Livro dos Médiuns (capítulo XIV da segunda parte), nos itens 175 e 176, encontramos “(…) Diremos somente que esse gênero de mediunidade consiste principalmente no Dom que certas pessoas têm de curar pelo simples toque, pelo olhar, por um gesto mesmo, sem o socorro de nenhuma medicação. Dir-se-á, sem dúvida, que isso não é outra coisa do que o magnetismo. É evidente que o fluido magnético desempenha aqui um grande papel; mas, quando se examina este fenômeno com cuidado, pode-se reconhecer sem esforço que há alguma coisa a mais. (…) Todos os magnetizadores estão mais ou menos aptos a curar, se sabem portar-se convenientemente, ao passo que nos médiuns curadores a faculdade é espontânea , e alguns a possuem mesmo sem jamais ter ouvido falar do magnetismo. A intervenção de uma potência oculta, que constitui a mediunidade, torna-se evidente em certas circunstâncias, sobretudo quando se considera que a maioria das pessoas que se pode com razão qualificar de médiuns curadores, recorre à prece, que é uma verdadeira evocação. (…)”. E mais adiante, as indagações:

“Podem-se considerar as pessoas dotadas do poder magnético como formando uma variedade de médiuns?

Disso não podeis duvidar.”

Na seqüência das indagações, eis trechos interessantes das respostas dos espíritos:

a) “(…) a potência magnética reside, sem dúvida, no homem, mas é aumentada pela ação dos espíritos que chama em sua ajuda. Se tu magnetizas para curar, por exemplo, e evocas um bom espírito que se interessa por ti e pelo teu doente, ele aumenta tua força e tua vontade, dirige teu fluido e lhe dá qualidades necessárias”.

b) “(…) Os que magnetizam pelo bem são secundados pelos bons Espíritos. Todo homem que tem o desejo do bem os chama sem disso desconfiar. (…)” (7).

Para concluir, deixemos a palavra, em transcrição parcial, com O Espírito de Verdade, em O Livro dos Médiuns (7), capítulo XXXI, da segunda parte, na coletânea que Kardec agrupou com o título Dissertações Espíritas, cuja mensagem (é a XV) está sob título Sobre os Médiuns: “Todos os médiuns são incontestavelmente chamados a servir à causa do Espiritismo, na medida da sua faculdade, mas há bem poucos deles que não se deixam prender na armadilha do amor-próprio; é uma pedra de toque, que raramente não alcança seu efeito; do mesmo modo, com dificuldade encontrareis sobre cem médiuns, um, por ínfimo que seja, que não se tenha acreditado nos primeiros tempos de sua mediunidade, chamado a obter resultados superiores e predestinado a grandes missões. Os que sucumbem a essa vaidosa esperança, e seu número é grande, tornam-se presa inevitável de Espíritos obsessores, que não tardam em subjugá-los, adulando seu orgulho e prendendo-os pela sua fraqueza; (…) Que se persuadam de que, na esfera modesta e obscura onde estão colocados, podem prestar grandes serviços, ajudando a conversão dos incrédulos, ou dando consolações aos aflitos (…)”.

A última frase do parágrafo parcialmente transcrito define bem o papel dos médiuns curadores, instrumentos a serviço da grande obra de regeneração da humanidade, pois que a Providência Divina, ciente das fragilidades humanas, estando sempre atenta, envia com constância os Benfeitores e autênticos Missionários para amenizar tais fragilidades. Dentre eles, os médiuns curadores, que, para bem cumprirem seu mandato, necessitam dos instrumentos da prudência, do conhecimento e especialmente do amor ao próximo, razão maior da evolução.

Orson Peter Carrara

*Do livro Léxico Kardequiano, de L. Palhano Jr., editora CELD.; grifos nossos.

(1) Revista Espírita, de setembro de 1860 (vol. 9, ano III), Edit. Edicel, tradução de Júlio Abreu Filho. O mesmo artigo foi transcrito pelo Codificador para composição do capítulo II de O Livro dos Mëdiuns

(2) O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XIX, itens 5 e 12 (páginas 245 e 250 da 107ª edição IDE-Araras-SP, tradução Salvador Gentile.

(3) O Livro dos Espíritos, comentário de Kardec à questão 555, 3ª edição FEESP, tradução J. Herculano Pires;

(4) Revista Espírita, de março de 1858 (ano I, vol. 3), Edit. Edicel, tradução de Júlio Abreu Filho.

(5) Revista Espírita, ano 1867, página 133, edição Edicel.

(6) Revista Espírita, ano 1864, página 8, edição Edicel

(7) 49a edição IDE, tradução Salvador Gentile, junho de 1999, Araras-SP.