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Melhorar para progredir

“E a um deu cinco talentos e a outro dois e a outro um, a cada um segundo
sua capacidade…”
– Jesus (Mateus, 25:5)

O Senhor da vida nos concede a todos talentos, ou seja, recursos para trabalharmos
com eles e progredir. Desenvolver nossas potencialidades, nossas qualidades. Estas
qualidades já estão em nós, em latência, precisam desabrochar, desenvolver. Nosso
trabalho visa esse objetivo, pois, desenvolvendo-nos, compreenderemos as leis divinas.
E vivendo em harmonia com elas seremos felizes. Os talentos são distribuídos em
quantidade desigual, mas “a cada um segundo sua capacidade”. Estamos em diversos
graus evolutivos, daí a capacidade também desigual, a diversidade de talentos. Mas
esta desigualdade é diferença de percurso, Partimos de um mesmo ponto, estamos subordinados
às mesmas leis, e destinados ao mesmo fim, que é a perfeição relativa, e, conseqüentemente,
a felicidade. Afirma Emmanuel: “Passa o rio dos dons divinos em todos os continentes
da vida, contudo, cada ser recolhe as águas, segundo o recipiente de que se faz
portador”. O mar é imenso. Mas se formos ali pegar água, cada um pegará conforme
o tamanho de sua vasilha. Se não recebemos recursos mais expressivos do Criador
é porque ainda não ampliamos nosso recipiente.

O próprio Emmanuel alerta para não nos perdermos em lamentações, nem anular nosso
tempo com queixas. Muitas vezes suspiramos por tarefas de amor, mas nos entregamos
à aversão e à discórdia. E outros sonham servir à luz e se deixam ficam nas trevas
da ociosidade e da ignorância.

Geralmente atribuímos a outras pessoas a causa de nossas dificuldades, de nossas
aflições. A pessoa acha que sofre devido aos defeitos morais de parentes, de vizinhos,
de companheiros de trabalho, do governo, enfim males de muitas origens, quando,
na realidade, a causa de tudo está em nós. As dificuldades, ou o que chamamos de
sofrimento, seja ele físico, moral, ou carências diversas, chegam até nós conforme
nossas necessidades de aprendizado, nossas carências evolutivas. A medida que compreendermos
as leis divinas, afeiçoando-nos a elas, vivenciando-as, tudo se soluciona, paulatinamente,
porque aprendemos lidar com as referidas dificuldades. Daí a frase de André Luiz:
“A medida que melhoramos nosso mundo íntimo, tudo melhora em torno de nós.” Não
é que a situação externa se modifique para melhor. Nós que passamos a ver esse mundo
de fora com outros olhos. A pessoa mesquinha, atrasada, egoísta, maledicente, só
vê esse tipo de coisa nas outras pessoas, pois ela não tem capacidade de perceber
o altruísmo, generosidade, grandeza de alma. Da mesma forma que alguém que não conhece
música não consegue apreciar um concerto, a boa música, também para percebermos
o bem, a bondade, a beleza de caráter nos outros precisamos edificar essas qualidades
em nós.

Allan Kardec, na questão 619, de O Livro dos Espíritos perguntou se Deus proporcionou
a todos os homens os meios de conhecerem a sua Lei. Resposta: todos podem conhecê-la,
mas nem todos a compreendem. Os que melhor a compreendem são os homens de bem e
os que desejam pesquisá-las. Mas todos um dia a compreenderão. Os homens de bem
são os que melhor compreendem as Leis Divinas porque já evoluíram um tanto, já aumentaram
seu recipiente, para compreender a Lei. Não há privilégios na obra do Criador. Dessa
resposta se infere que essa compreensão só pode ocorrer ao longo do tempo, em muitas
existências, pois numa só é evidente que isto não se realiza. Também se diz, no
mesmo livro, questão 621, que a Lei de Deus está escrita na consciência do ser humano.
Se a Lei está em nossa consciência, porque a diversidade no modo de entendê-la?
Porque uns tem uma consciência tão sensível, exigente, que cobra por qualquer falta
praticada, enquanto outros fraudam, praticam crimes, cometem as mais sérias transgressões
à lei, e, ao que parece, suas consciências não os acusam? A resposta para o fato
está nos graus diferentes de despertamento da consciência. De fato a Lei de Deus
está escrita na consciência, mas esta reflete o estágio evolutivo da criatura. Há
consciências adormecidas, semidespertas, despertas, e lúcidas. Um espelho coberto
de lama não reflete a luz. A medida que limpamos sua superfície, irá refletindo
a luz. Quanto maior for a parte da superfície limpa, maior a quantidade de luz refletida.
Nossa consciência seria esse espelho, que vamos livrando da sujeira pela evolução,
e a medida que ele se torna limpo, reflete a luz, que é a verdade, o amor, ou seja,
a lei divina.

O bem-estar íntimo, a paz, o sentir bem que todos desejamos vai sendo conseguido
a medida que realizamos nossos ideais, de libertação e aperfeiçoamento. Para conseguir
esse grande bem, elucida-nos Emmanuel: “Se te afeiçoas aos ideais de aprimoramento
e progresso, não te afastes do trabalho que renova, do estudo que aperfeiçoa, do
perdão que ilumina, do sacrifício que enobrece e da bondade que santifica. Lembra-te
de que o Senhor nos concede tudo aquilo de que necessitamos para comungar-Lhe a
glória divina, entretanto, não te esqueças de que as dádivas do Criador se fixam,
nos seres da Criação, conforme a capacidade de cada um” 1

1 – Palavras de Vida Eterna, cap. 7 – Psicografia de Francisco C.
Xavier

(Jornal Verdade e Luz Nº 189 de Outubro de 2001)