De novo? Eu já a repelira uma vez, há uns dez anos. Agora lá vinha ela mais uma vez se insinuando, de jeito sutil e faceiro. E não vinha sozinha!
Chegava trazida pelas mãos generosas de dois dos meus melhores amigos: O casal Hugo e Cida Albuquerque. Mesmo correndo o risco de ser descortês com os meus amigos, novamente tentei repeli-la deixando claro que eu já estava com outra e em outra. Hugo e Cida, provavelmente para me deixar mais à vontade, foram embora e ficamos eu e ela. Tentei livrar-me dela o quanto antes!
– Por favor! Desculpe-me a sinceridade, mas entenda que eu não quero nada com você! Tenho outra e estou muito bem! Eu lhe disse.
– Mas não exijo exclusividade e nem sou ciumenta! Conheça-me melhor e depois eu aceitarei a tua decisão, seja ela qual for! Ela respondeu.
Admirei-a pela persistência, olhei-a melhor e passei a examiná-la munido com a lupa de quem procurava defeitos que fornecessem o pretexto que eu queria, para rejeitá-la definitivamente.
Enquanto conversávamos, eu a examinava e testava seus valores. Com certeza eu descobriria o suficiente para mandá-la ir embora e…
Mas ela era linda! Belíssima! Quando me olhava, parecia mergulhar no meu íntimo e mesmo quando via os meus defeitos, era bondosa o suficiente, para me encorajar a mudar e me fazer acreditar que seria possível sim, eu me melhorar!
Eu precisava de mais tempo para encontrar a desculpa necessária para mandá-la embora de uma vez por todas!
Tempo! Mais um tempinho e eu descobriria que… Nossa! Além de bela e bondosa, ela era de uma coerência e de uma lógica que beiravam o absurdo!
Não! Ela não poderia ser tão perfeita assim… Eu iria estudá-la mais um pouco para descobrir. Com tantas qualidades, provavelmente ela seria muito impositiva, exigente, dispendiosa…
Como se adivinhasse meus pensamentos, ela disse-me nas entrelinhas:
– Não! Eu não imponho, uma vez que adoro conscientizar! Não exijo, porque sem o livre arbítrio, qual seria o mérito em fazer algo apenas por que eu exigi? Dispendiosa? Também não, uma vez que a única coisa que realmente cobro, é que você assuma a responsabilidade de me dividir com as outras pessoas!
– Dividir? Aquilo me desnorteou e do fundo meu peito, agora descompassado pela felicidade que nascia, eu entreguei os pontos e lhe disse:
– Você é uma dádiva divina e eu agradeço a Deus por você ter aparecido na minha vida. Hoje, com a mais absoluta certeza, eu confesso que é a Primeira Vez que eu estou perdidamente apaixonado!
– Apaixonado por mim, Agnaldo Cardoso? Tem certeza? Se tem, então não seja egoísta e não me queira apenas para si. Torne seus sentimentos públicos, para que outros também possam se apaixonar.
– Está bem. Agora?
– Agora. Grite bem alto, para que o mundo te ouça.
– Eu te amo! Querida Doutrina dos Espíritos! Eu te amo!
Agnaldo Cardoso