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A música no espaço

“Como conclusão ao que expus a respeito da arte musical no espaço, vou tentar
fazê-los compreender as sensações harmônicas experimentadas pelo espírito nas
esferas onde vivemos. Em nossa última conversa falamos das correntes provocadas
por seres angélicos. Resta-nos falar dos “trens de ondas” (expressão retirada do
cérebro do médium, que possui algum conhecimento sobre telegrafia sem fio).
Tomaremos, portanto, como termo de comparação, esse telégrafo sem fio que lhes
dá uma primeira idéia desses trens de ondas harmônicas dos quais lhes falarei.

“Recentemente vocês me interrogavam a respeito da música das esferas. Eis sua
explicação: forças dirigidas por vontades superiores produzem uma corrente
fluídica cuja potência vibratória é considerável mas uniforme. Essas ondas vão
percorrer um espaço imenso e impressionarão espíritos menos evoluídos do que
aqueles que podem abordar as esferas musicais das quais lhes falamos; esses
espíritos, menos evoluídos, possuem ao menos por seu perispírito a faculdade de
sentir certas ondulações. Tocando esses seres, que são em grande número, as
ondas, segundo sua velocidade, produzem uma vibração que se traduz sobre todos
os espíritos por uma repentina iluminação. Qualquer espírito que encontre essa
corrente no espaço sentirá seu perispírito colorir-se de tonalidade mais viva
segundo a intensidade da corrente emitida, e através dela, sentirá uma
satisfação adequada à coloração.

Como em geral esses trens ou correntes de ondas são provocados por
sentimentos que emanam de seres quase angélicos ou divinos, vocês podem conceber
que se pode compará-los a banhos de azul celeste apagando, tanto quanto
possível, as paixões, que são ainda um resquício de matéria. Se a vontade do
espírito que os percebe é suficiente, ele pode com eles se beneficiar
amplamente, pois essas ondas constituem uma espécie de transmissão que pode
auxiliar em sua elevação, uma vez que elas emanam das regiões divinas.

“Essas correntes giram com freqüência em torno dos mundos e purificam sua
atmosfera. Quando partem de um ponto diferente, essas correntes se revestem de
cores distintas que podem se confundir e determinar uma dupla sensação. Assim se
explica o que lhes disseram certos espíritos, que falam que no espaço “ouvem-se
liras vibrando”.

“Em geral a tonalidade permanece a mesma, sendo a palavra tonalidade tomada
no sentido de cor. Para nós a cor exprime as sensações colhidas pelo pensamento.
Porém muitos seres permanecem insensíveis a essas correntes devido a sua pouca
evolução. Alguns há que preferem as sensações produzidas por antigas paixões
carnais, e as procuram; outros, impressionados por essas correntes, pedem
através da prece para penetrar em esferas onde o êxtase é mais habitual.

“Vocês sabem que no espaço os planos são diversos, porém Deus permitiu que
todos os seres tivessem consciência de seus bons atos. Os prazeres
experimentados não se comparam aos que vocês poderiam experimentar olhando um
belo quadro ou ouvindo um trecho de música: as sensações são muito mais
completas e não são absolutamente mecânicas como as de vocês. A música terrestre
é resultante de choques mais ou menos violentos sobre um metal, ou da passagem
de ar numa substância sonora, enquanto que a música do espaço traduz-se através
de sensações cuja gama sobrepõe-se de graus coloridos! Cada cor, cada feixe
colorido, tocando o perispírito, transmite-lhe impressões mais elevadas, ou
menos, e puras segundo a natureza elevada do espírito que as recebe e segundo a
intensidade das ondas fluídicas.

“A música terrestre não é, portanto, comparável à música do espaço. A
primeira dá uma satisfação da qual sua sensibilidade nervosa tira proveito; a
segunda, que é de essência divina, dá alegrias morais, sensações de bem-estar,
êxtases tão profundos quanto mais puro seja o próprio receptáculo, isto é, o ser
privado de envoltório carnal.”

Massenet

 

Comentário final

 

O estudo do espiritismo em suas relações com a arte encerra os mais amplos
problemas do pensamento e da vida. Ele nos mostra a ascensão do ser na escala
das existências e dos mundos em direção a uma concepção sempre mais ampla e mais
precisa das regras de harmonia e de beleza, de acordo com as quais todas as
coisas são estabelecidas no universo.

Nessa magnífica ascensão, a inteligência cresce pouco a pouco; os germes do
bem e do belo nela depositados desenvolvem-se, ao mesmo tempo em que se amplia
sua compreensão da lei da eterna beleza.

A alma chega a executar sua melodia pessoal sobre as mil oitavas do imenso
teclado do universo; ela é invadida pela harmonia sublime que sintetiza a ação
de viver e a interpreta de acordo com seu próprio talento, prova cada vez mais
as felicidades que a posse do belo e do verdadeiro proporciona, felicidades que
os verdadeiros artistas podem entrever desde este mundo. Assim, o caminho da
vida celeste é aberto a todos, e todos podem percorrê-lo através de seus
esforços e de seus méritos, chegando à posse desses bens imperecíveis que a
bondade de Deus nos reserva.

A lei soberana, o objetivo supremo do universo é, portanto, o belo.

Todos os problemas do ser e do destino resumem-se em poucas palavras.

Cada vida deve ser a construção, a realização do belo, o cumprimento da lei.

O ser que chega a uma concepção elevada dessa lei, e de suas aplicações, deve
auxiliar todos aqueles que, abaixo dele, transpõem a grandiosa escala das
ascensões.

Por seu lado, os seres inferiores devem trabalhar a fim de assegurar a vida
material e em seguida tornar possível a liberdade de espírito necessária aos
pensadores e aos pesquisadores. Assim afirma-se a imensa solidariedade dos
seres, unidos em uma ação comum.

Toda ascensão da vida à perfeição eterna, todo esplendor das leis universais,
resumem-se em três palavras: Beleza, sabedoria e Amor!

(do capítulo 6 do livro O espiritismo na arte)