Era uma vez um jovem curioso que estava passeando por uma mata. Como todo jovem, ele trazia muitos sonhos, muitas expectativas da vida, muita pressa para tudo, embora nem lhe passasse pela mente possuir todo o tempo do mundo. É verdade! os jovens não morrem jamais! Eles só vão ficar sabendo que não é bem assim, muitos anos depois, quando estiverem ficando velhos, mas aí talvez nem se reconheçam mais como jovens. Esta é outra verdade. Os jovens não se reconhecem como alguém que, um dia, vai envelhecer. E os velhos, por sua vez, nem sempre reconhecem que, um dia, já foram jovens. Isso faz acontecer que muitos jovens não conseguem, sequer amadurecer, e muitos velhos não reconheçam a maturidade e sabedoria da alma que poderia lhes dar a têmpera em relação ao tempo passado e os aprendizados ganhos.
Mas, voltemos ao jovem curioso passeando pela mata. De repente, viu pendurado numa rama, um casulo. Teve ímpetos de arrancá-lo de onde estava, mas notou que era um casulo diferente. Tinha umas cores por baixo daquele trançado cinzento. Como aquelas paisagens feitas de areia colorida dentro de vidros, fazendo-nos admirar a habilidade do artista. Ficou olhando um pouco aquele casulo na mão, quando aquelas cores amarfanhadas pareceu mexer-se dentro dele. Logo deduziu que se tratava de uma crisálida que logo mais seria transformada numa borboleta multicolorida.
Já havia lido em algum lugar que o calor do sol ajuda a crisálida transformar-se em borboleta. Assim pensou que, soprando aquele casulo, com seu hálito quente, deveria ajudar a crisálida. Foi o que fez. Segurou o casulo entre as mãos sem desprendê-lo dos fios que o atavam à rama. Passando-lhe o calor de suas mãos, o acariciou mansamente, e começou a soprar suavemente o ar quente vindo dos seus pulmões. Doou naquele gesto, todo o carinho de que era capaz. Logo apareceu um pequeno fio negro que se esticou para fora do casulo. Depois em seguida outro, e deduziu que a borboleta estava nascendo.
O seu olhar estava cada vez mais fascinado com o acontecimento. Ainda soprou algumas vezes o seu fôlego de vida e aos poucos a borboleta foi surgindo. Como um parto da criação ele estava observando uma nova vida nascer. O seu coração ficou mais acelerado, enquanto ele continuava a segurar entre as mãos, carinhosamente aquela casca acinzentada vendo surgir dali uma borboleta lindamente colorida. Podia sentir o seu esforço na luta para ganhar o mundo. Dentro de alguns instantes, a borboleta inteira estava entre as suas mãos, tendo abandonado a sua casa da qual não precisaria a partir de então. Como um útero vazio, ele deixou que o casulo ficasse pendurado nos seus tentáculos e passou a observar a borboleta em suas mãos. Aconteceu que as asas continuavam grudadas junto ao seu corpo. Na verdade as asas não estavam de todo formadas. Além do mais, uma gosma faziam com que a borboleta não pudesse abrir as asas para voar.
O que estava acontecendo é que o calor do sol tem o seu ritmo próprio, perfeitamente compatível com o amadurecimento das asas da borboleta e no tempo certo para que aquele líquido acabasse de secar, dando às suas asas a textura, o acabamento completos e o brilho das cores. Percebeu então, que o seu sopro, ao invés de ajudar a borboleta a libertar-se, na verdade, precipitou a sua saída do casulo. Enfim, a crisálida, fora empurrada para a vida.
O seu olhar incrédulo ficou observando a borboleta a debater-se com as asas mal formadas e grudadas junto ao corpo. Tentava, de toda a maneira, abrir suas asas para começar a batê-las e, finalmente, sair voando. Mas ela não podia. Não tinha forças para tanto. O calor do sol agora secou rapidamente o líquido que envolvia aquelas finas membranas e a borboleta foi perdendo as forças. Dentro de alguns instantes, estava imóvel. Havia morrido.
O coração do jovem estava ainda mais acelerado. Contemplava a borboleta morta na palma das suas mãos, enquanto o sol batendo forte sobre a sua cabeça, parecia lembrá-lo da imprudente e apressada ajuda que pensou estar prestando para a crisálida, então, ainda guardada no casulo. Muitos e rápidos pensamentos passaram-lhe pela mente. Mas ele não deu muita atenção para nenhum deles. Apenas percebia, pesaroso que fora um mal ajudante da criação. Estava decepcionado consigo mesmo.
Solenemente agachou-se depositando aquele corpo inerte sob a sombra de uma folha grande da rama em que o casulo estava pendente. Logo mais aquele corpo do inseto que nem chegara a viver, estaria completamente tomado pelas formigas que viriam buscá-lo para dar prosseguimento ao ritmo adequado da vida, onde tudo se transforma, lenta e inexoravelmente.
Perguntava-se o jovem: “por quê eu não pude ajudar, se a minha intenção era a melhor de todas?” e como aqueles instantes que pensava acrescentar à vida da borboleta, poderiam lhe ser úteis, quem sabe fazendo-a viver mais algumas horas, proporcionais ao tempo de vida de uma borboleta. Debatia ansioso o reverso da sua intenção de ajuda. Testemunhava o surgimento de uma vida, acabou contemplando uma morte.
Pergunta 132 do Livro dos Espíritos: “Qual é a finalidade da encarnação dos Espíritos?” (…) A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Mas Deus, na sua sabedoria, quis que eles tivessem, nessa mesma ação, um meio de progredir e de se aproximarem d’Ele. É assim que, por uma lei admirável da sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.”
Tudo é solidário na obra da Criação. Não precisamos nem apressar, nem corrigir, nem retardar e nem libertar algum Ser desse processo solidário em curso. Talvez precisemos mais compreender que ser compreendidos. É o conselho do próprio Cristo.