O dicionário define paz como sendo: “Relações tranqüilas de um estado ou de
uma nação. Tranqüilidade pública. Tranqüilidade, sossego, descanso. Silêncio”.
Neste ano temos ouvido falar muito em “Paz”, porque a Assembléia Geral das
Nações Unidas proclamou o ano 2000 o Ano Internacional da Cultura da Paz, sob a
denominação geral da UNESCO.
“A cultura de paz está intrinsecamente relacionada à prevenção e à
resolução não-violenta de conflitos. É uma cultura baseada na tolerância,
solidariedade e compartilhamento em base cotidiana, uma cultura que respeita
todos os direitos individuais – o princípio do pluralismo, que assegura e
sustenta a liberdade de opinião – e que se empenha em prevenir conflitos
resolvendo-os em suas fontes, que englobam novas ameaças não-militares para a
paz e para a segurança como exclusão, pobreza extrema e degradação ambiental. A
cultura da paz procura resolver os problemas por meio do diálogo, da negociação
e da mediação, de forma a tornar a guerra e a violência inviáveis” (de uma
apostila distribuída pelo “Ribeirão Preto pela Paz”).
Quando ouvimos falar em “paz”, geralmente pensamos que o assunto não nos diz
respeito. Achamos que já fazemos a nossa parte: cumprimos nossos deveres,
evitamos conflitos, logo estamos quites com a questão da paz. Será que é
realmente assim? Outra definição de paz é: “Defender a paz significa cuidar de
nós mesmos, dos outros e do mundo à nossa volta”. Emmanuel, analisando a frase
de Paulo, citada de início (Livro “Palavras de Vida Eterna”, cap. 45), nos diz
que todos somos intimados pela vida ao sustento da paz. Todos influenciamos e
somos influenciados uns pelos outros “e, ainda que a nossa influência pessoal se
nos figure insignificante, ela não é menos viva na preservação da harmonia
geral”.
Cuidar de nós implica no empenho por melhorar-nos e educar-nos, de vez que
paz não é inércia e sim esforço, devotamento, trabalho e vigilância incessantes
a serviço do bem. Cuidar dos outros não parece fácil nesse mundo onde o egoísmo
parece estender suas raízes por todos os lados. Mas se procurarmos evitar a
crítica destrutiva; se buscamos compreender as pessoas, tolerá-las, relevar-lhes
as faltas, perdoá-las, limpando o coração de mágoas e ressentimentos, estaremos
nos exercitando na cultura da paz. O Espírito Meimei, no livro Ideal Espírita,
cap. 5, psicografia de Francisco C. Xavier, afirma: “Rogas a paz do Senhor, mas
o Senhor igualmente espera por teu concurso na paz dos outros. Reflete nas
necessidades de teu irmão, antes de lhe apreciares o gesto impensado. Em muitas
ocasiões, a agressividade com que te fere é apenas angústia e a palavra ríspida
com que te retribui o carinho é tão somente a chaga do coração envenenando-lhe a
boca. Auxilia mil vezes, antes de reprovar uma só”. E mais adiante: “Espera e
ama sempre! Em silêncio, a árvore podada multiplica os próprios frutos e o céu
assaltado pela sombra noturna descerra a glória dos astros! Lembra do Cristo, o
Amigo silencioso. Sem reivindicações e sem ruído, escreveu os poemas imortais do
perdão e do amor, da esperança e da alegria no coração da Terra. Busquemos nEle
o nosso exemplo na luta diária e, tolerando e ajudando hoje, na estreita
existência humana, recolheremos amanhã as bênçãos da luz silenciosa que nos
descerrará os caminhos da Vida Eterna”.
Portanto, há muita coisa que podemos fazer em favor da paz. Mesmo que não
contemos com recursos e títulos acadêmicos, ou dinheiro, o importante é aprender
a viver com os outros, sem conivência com o mal, sem omissões comprometedoras,
mas com espírito de serviço, tolerância, respeito e amor. Daí porque o trabalho
precisa ser começado no nosso mundo íntimo, pois se não construirmos portas a
dentro do nosso próprio ser, esses valores, como utilizá-los em favor dos
outros? Todos podemos contribuir em favor da paz. Os recursos chamados menores
são, às vezes, de grande importância. Exemplo: Um prédio construído próximo a
uma central elétrica, para dotá-los de luz e força será imprescindível a tomada
simples.
Esse cuidar de nós, dos outros e do mundo a nossa volta pode parecer a muitos
uma utopia, ou algo que não dá retorno, porque estamos acostumados a raciocinar
em termos imediatistas, na base do toma-lá, dá-cá. A pessoa deseja saber o que
vai ganhar, e se vai valer a pena o esforço. Ouçamos novamente o sábio Emmanuel:
“Ninguém atinge o bem-estar em Cristo, sem esforço no bem, sem disciplina
elevada de sentimentos, sem iluminação do raciocínio. Antes da sublime
edificação, poderão registrar os belos discursos, vislumbrar as mais altas
perspectivas do plano superior, conviver com os grandes apóstolos da Causa da
Redenção, mas poderão igualmente viver longe da harmonia interior, que constitui
a fonte divina e inesgotável da verdadeira felicidade, porque se o homem ouve a
lição da paz cristã, sem o propósito firme de se lhe afeiçoar, é da própria
recomendação do Senhor que esse bem celestial volte ao núcleo de origem, como
intransferível conquista de cada um” (livro Vinha de Luz, cap. 65,
psicografia de Francisco C. Xavier).
(Jornal Verdade e Luz Nº 178 de Novembro de 2000)