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O Espiritismo Segundo o Evangelho?

O Espiritismo Segundo o Evangelho?

Palestras e livros repetem textos do Novo Testamento. A obra de Kardec traz
uma visão ampliada sobre os ensinos morais do Cristo.

Nas exposições doutrinárias rotineiras nos Centros e mesmo em muitos livros
espíritas, nitidamente se percebe uma predileção pelos enfoques baseados no Novo
Testamento. Algumas vezes, tais exposições nem fazem referência ao Espiritismo e
à obra de Kardec. Em parte, esta tendência de esclarecimentos evangélicos é até
esperada se levarmos em consideração a larga tradição cultural católica de nosso
país.

Essa característica muito nítida no movimento espírita brasileiro fica clara
quando se compara os livros e as ações espíritas de outros países. Não é uma
crítica, mas o reconhecimento das diversas realidades históricas, culturais e de
tendências religiosas.

Por outro lado, cabe um outro raciocínio. Como reencarnacionistas, precisamos
entender com naturalidade que, muito provavelmente, esta é a primeira existência
em que a grande maioria dos espíritas entra em contato com a Doutrina Espírita.

Tirando de lado o entendimento da situação que entendemos como material, ou a
resultante da somatória das múltiplas experiências de vida, sem dúvida, cabe a
reflexão sobre a atual oportunidade reencarnatória.

Na realidade, a tarefa dos espíritas e a finalidade das reuniões dos Centros
Espíritas não se referem à mera lembrança da epopéia do Cristo e a repetição de
seus sublimes ensinos. O objetivo da Doutrina Espírita extrapola esse cenário
muito observado na seara espírita. Em nota de rodapé ao prefácio de “O Evangelho
segundo o Espiritismo”, o Codificador destaca “o verdadeiro caráter do
Espiritismo e finalidade desta obra”. Em seguida, na introdução realça o
ensinamento moral do Cristo e explicita “…em resumo e acima de tudo, o caminho
da felicidade que virá, uma ponta do véu erguido diante da vida futura”. Entre
tantas outras considerações, evidenciamos que após a primeira lei apresentada –
a do amor -, Lázaro aponta: “O Espiritismo, vem pronunciar uma segunda palavra
do alfabeto divino. Ficai atentos, pois esta palavra ergue a laje das sepulturas
vazias; é a reencarnação, que triunfando sobre a morte, revela ao homem
deslumbrado seu patrimônio intelectual” (A lei de amor, cap. XI, obra citada).

A leitura atenta da monumental obra de Kardec nos instrumentaliza com
potentes lentes para a melhor compreensão dos textos evangélicos. O Espiritismo
amplia o entendimento da missão e do pensamento do Cristo, haja vista o
entendimento do capítulo “O Cristo Consolador” da obra citada. A certeza da
imortalidade da alma, comprovada pelas manifestações medianímicas, como peça
chave para a visão pluridimensional da vida, assegura-nos o entendimento da
evolução, viabilizada pelas vidas múltiplas e a aceitação plena de um Criador.

Esse conjunto – de informações e de certezas – propiciado pela Doutrina
Espírita é que deve ser transmitido para os freqüentadores dos Centros e para o
público em geral que tem curiosidade ou está sensibilizado pelo Espiritismo. A
ação dos espíritas deve avançar com relação a experiências reencarnatórias
anteriores e ampliar significativamente a visão sobre a vida, indubitavelmente
que respaldada na essência da mensagem cristã.

Dessa maneira, o expositor não deve ficar simplesmente repetindo e explicando
parábolas e trechos evangélicos. Estes devem ser explicados dentro da ótica
espírita, destacando-se o que os fatos e textos evangélicos significam dentro de
uma visão pluridimensional e imortalista. E, inclusive, deve se respaldar e
citar o pensamento de Kardec e de grandes mestres da interpretação evangélica
como Emmanuel e Vinícius.

É chegada a hora de se divulgar a Doutrina Espírita, que inclui os
ensinamentos morais do Cristo. Este é objetivo traçado por Kardec em “O
Evangelho segundo o Espiritismo”!

(Dirigente Espírita Nº 53 – Junho/Julho de 1999)