O isolamento dos Centros Espíritas
Para entrarmos no assunto proposto para exposição e debate sobre o tema “O
isolamento dos Centros Espíritas”, antes de tudo, há a necessidade de nos
reportarmos ao documento “Carta aos Centros Espíritas” que, no meu entender,
enfoca em suas considerações aspectos importantíssimos relativos à conceituação
de um Centro Espírita e a sua adequação para melhor atendimento de suas
finalidades.
Estas considerações nasceram de um consenso decorrente de pesquisas, troca de
experiências, opiniões de centenas de dirigentes de Centros Espíritas do nosso
estado, elaboradas com o intuito de sugerir a todos os responsáveis pela direção
de casas espíritas norteamentos seguros de forma a possibilitar um trabalho
homogêneo – não padronizado – dos seus núcleos.
A referida carta alerta a todos que estão investidos da importante tarefa de
dirigir centros quanto aos seus objetivos e metas, apontando as suas atividades
básicas, compreendendo prioritariamente o estudo metódico e regular da Doutrina
Espírita, codificada por Allan Kardec, e os meios para desenvolver suas
atividades como escolas de formação moral e espiritual, como núcleo de
propagação de idéias espíritas, oficinas de aprendizado da consciência cristã e
do aperfeiçoamento da fraternidade, de burilamento das almas, bem como o
engajamento às atividades de unificação.
É evidente que sendo a Casa Espírita um núcleo para onde convergem pessoas
dos mais variados graus de cultura e entendimento, haverá sempre, em qualquer
atividade, entre dirigentes e colaboradores, uma forma diferenciada de ver e
conceber as coisas, o que é muito natural. É necessário que as idéias e opiniões
sejam colocadas e discutidas em clima de respeito, em nível compatível com a
proposta espírita e de maneira a convergir no interesse da própria causa, que é
a Doutrina. Da troca de idéias, das discussões amplas e elevadas, surgem sempre
diretrizes renovadoras para a adequação da Casa Espírita que servimos às
necessidades dos seus serviços em favor do homem e da sociedade. As casas
espíritas, na atualidade, precisam estar aparelhadas para o atendimento ao
público, pois o Espiritismo é o Consolador prometido que traz para a humanidade
as bases leais de sua espiritualização para que ela possa viver de maneira
voluntária e consciente, dentro dos princípios do Trabalho, da Justiça e do
Amor.
Até a crítica, bem dirigida e metodicamente trabalhada, oferece material
riquíssimo para o crescimento nos núcleos espíritas. Mas, para que isso
aconteça, é importante que os seus participantes trabalhem também no sentido de
derrubar a ação desagregadora dos melindres, compreendendo que cada um que pisa
nessa valiosa área de renovação tem seus valores, que bem dimensionados somam
recursos para a melhoria do conjunto e levam ao aperfeiçoamento dos instrumentos
de ação da Doutrina em favor da coletividade.
Precisamos de uma vez por todas aprender a distinguir a Doutrina Espírita do
Movimento Espírita. O Movimento é a estrutura humana e material, o meio para a
difusão e a operacionalização do conhecimento dos fundamentos e ensinamentos
doutrinários. A Doutrina, fim, é o conhecimento doutrinário na sua essência,
imutável, sólido e monolítico: o primeiro sofre, por ser feito e dirigido por
homens, influências, erros, acertos, que são naturais, compreensíveis e ao mesmo
tempo úteis, quando trabalhados no sentido de atingir o fundamental, que é a
proposta da Doutrina. Podemos divergir em tudo o que se relaciona aos detalhes
decorrentes da aplicação da doutrina espírita nas nossas áreas de atividade na
Casa Espírita, mas não devemos transigir ou dissentir em relação aos fundamentos
da Doutrina. Devemos ser fiéis aos seus postulados, colocando-nos como
colaboradores decididos em contribuições úteis. Isso é necessário para que as
instituições espíritas superem suas deficiências e cheguem a níveis mais
elevados, compatíveis com a sua filosofia.
Com relação à ortodoxia (sistema fechado de idéias), julgamos que ela seja
decorrência de uma visão absolutista da verdade, da falta de capacidade do
entendimento da universalidade e de atualização dos conhecimentos propostos pela
doutrina espírita. Aliás, diga-se de passagem, o dirigente de mente aberta,
estudioso de Kardec, metódico e regular, participante do movimento espírita, faz
do Espiritismo vida. Torna-se útil, gerador de progresso no núcleo onde serve,
em favor do próprio movimento. O isolamento do dirigente do Centro significa
estagnação e, por mais que ele se julgue progressista, está parado no tempo,
juntamente com sua casa. Segundo a parábola evangélica, o talento é fornecido
para gerar riquezas e não para ser enterrado, escondido, pois isso contraria
frontalmente a proposta do Espiritismo.
A ortodoxia firma o espírito do sistema fechado. Cria intransigências e corta
todos os canais de comunicação entre as pessoas, idéias e grupos, estabelecendo
um processo de isolamento, obscurantista, totalmente contrário à proposta
doutrinária, que é dinâmica e progressista.
O Centro Espírita é a unidade fundamental do Movimento Espírita e deve manter
um clima de entendimento e fraternidade em relação às demais casas espíritas,
procurando unir-se a todas com o propósito de confraternizar, permutar
experiências, aprimorar as próprias atividades e promover realizações comuns.
Convém que o centro se situe no movimento doutrinário não como o melhor, o
único, mas como mais um elemento da imensa malha de núcleos espíritas para a
divulgação das idéias da libertadora Doutrina dos Espíritos em favor da criatura
humana.