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O Pensamento de Claude Piron

O Pensamento de Claude Piron

Claude Piron é tradutor e psicanalista belga radicado na Suíça. Esperantista
desde a infância, é autor de vasta obra na Língua Internacional, no campo do ensino
e da literatura. Domina diversas línguas, entre elas o Português, tendo trabalhado
como tradutor para Organizações Internacionais como a ONU. Desta vez apresento um
texto seu traduzido e adaptado de um artigo editado em Esperanto na revista “Oomoto”
n.° 437, 1995.

Eu creio no Bem. Eu creio no Esperanto.

Eu creio no Bem. E. ao contrário de muitos, eu não vejo o Bem como o oposto simétrico
do Mal, mas como algo muito superior. Uma casa mal construída destrói-se. Uma casa
bem construída resiste aos ataques das forças naturais, mesmo os mais terríveis.
Por isso não tenho nenhuma dúvida a respeito do futuro do Esperanto. Comparado com
outros recursos de comunicação entre os povos, é muito clara a sua superioridade.
Eu vejo no Esperanto uma das concretizações do Bem.

Existem três sistemas de comunicação internacional: o burocrático, o selvagem
e o democrático. O primeiro é o das organizações internacionais, como a ONU e a
União Européia. Como todo sistema burocrático, usa uma gigantesca quantidade de
papéis, tempo, dinheiro, eletricidade, energia humana, para conseguir magérrimos
resultados. E todo esse gasto mantido pelo pagamento de impostos.

O sistema selvagem é aquele em que uma língua, uma nação ou um grupo de nações
assume posição de monopólio, não pela qualidade da citada língua ou cultura, mas
por força de fatores políticos, econômicos e outros semelhantes, que de forma alguma
se ajustam à exigência de comunicação lingüística ideal para todos. Tal foi o sistema
de internacionalização do Francês no século XIX, tal é o uso internacional do Inglês
atualmente.

Esse sistema que privilegia os adeptos de uma cultura apresenta muitos efeitos
indesejáveis, criando perigosos equilíbrios aparentes, para não citar as catastróficas
conseqüências culturais de tal imposição lingüística.

Tanto ao sistema burocrático como ao selvagem, falta um dos principais ingredientes
do Bem Humano, o Sentimento. São sistemas sem sentimentos. A tais sistemas falta
principalmente o consentimento, a compaixão, a justiça e a comunicação satisfatória,
a consideração às necessidades dos pequenos e dos frágeis, o sentimento de Dignidade
Humana e o direito de todo o ser de ser ouvido e compreendido, numa comunicação
fácil.

O terceiro sistema é o democrático Ele se chama Esperanto. Como tudo o que é
democrático, tem muitas falhas, muitas imperfeições. Mesmo assim é ele o mais justo
e o mais eficaz, o mais adequado socialmente falando.

Em uma palavra, ele é bom. E por isso, superará os outros.

Eu creio no Esperanto. Eu creio que essa língua tem um valor muito mais alto
do que a maioria dos esperantistas chega mesmo a ter consciência. Eu creio que ela
solucionará muito mais problemas no futuro da humanidade do que geralmente se imagina,
até do que imaginam os esperantistas mesmo.

Eu creio que ela poderá eliminar muitos sofrimentos de cuja origem os homens
ainda nem se quer se aperceberam, cujas causas têm suas raízes na ausência de um
instrumento de compreensão comum entre as nações.

(Jornal Verdade e Luz Nº 187 de Agosto de 2001)