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O Reino

O Reino

“Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua Justiça, e tudo o mais vos será
dado por acréscimo”
– Jesus.

Em várias passagens do Evangelho Jesus acentua a importância do Reino de Deus,
ou Reino dos Céus. Podemos considerar este ensino como sendo o tema central, a coluna
mestra de sua Doutrina. “O Reino dos Céus é semelhante a um negociante que procurava
pérolas preciosas; descobriu uma pérola de grande valor, foi vender tudo que possuía
e a comprou”. Em outro lugar: “O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro que, oculto
no campo, foi achado e escondido por um homem, o qual, movido de gozo, foi vender
tudo o que possuía e comprou aquele campo”. J. Herculano Pires, grande filósofo
e escritor espírita, escreveu um livro sobre “O Reino”, onde ele fala da tese do
Reino. Diz ele: “A tese do Reino de Deus tem permanecido oculta nos Evangelhos,
porque os homens insistem na tentativa de servir a dois senhores. Mas o anseio do
Reino os arrasta cada vez mais à descoberta da tese”. Conquistar esse Reino significa
o desabrochar das potencialidades do Espírito para compreender e viver de acordo
com as Leis Divinas, ou seja, realizar a evolução espiritual. O Reino de Deus está
em nós, afirmou o Mestre. Logo, para conquistá-lo não temos que buscá-lo fora, e
sim trabalhar por despertar as potencialidades existentes em nosso íntimo. A medida
que o ser evolui, passa a trabalhar para melhorar o meio em que vive.

Diz Herculano: “Para obtermos um verdadeiro mundo de luz é necessário acendermos
a luz nas almas. Esse é o primeiro tema da tese do Reino. Mas, se o mundo é o reflexo
do homem, esse reflexo também condiciona o homem. Não basta melhorar apenas o homem;
é necessário trabalhar para melhorar o meio onde esse homem vive. Assim, o segundo
tema da tese do Reino é a modificação do meio. Ao mesmo tempo que acendemos a luz
nas almas, temos de fazê-la brilhar no meio social. As almas iluminadas iluminam
a sociedade, mas a sociedade iluminada deve iluminar as almas. Não podemos nos esquecer
dessa reciprocidade”. E cita José Ingenieros: “Num meio em que todos rastejam, é
difícil alguém andar em pé”.

É preciso lutar para criar condições sociais adequadas ao aprimoramento do homem.
Segundo Herculano, o terceiro tema da tese do Reino é o da escolaridade. “o Reino
exige a preparação dos candidatos, exige escola, Os candidatos do Reino estão todos
na escola da vida, mas é evidente que a maioria pertence às classes primárias”.
A escola da vida são as tarefas confiadas a cada um; os deveres da profissão, da
família, da vida social. Há sempre oportunidades para aprender e nos exercitarmos
na vivência dos valores que nos levarão ao despertamento, a desenvolver as qualidades
que estão em nós, ainda latentes. As religiões e escolas espiritualistas são processos
pedagógicos, com seus diferentes métodos didáticos em desenvolvimento no Mundo.
Muitas delas estão deturpadas, comprometidas com o homem velho de que falava Jesus,
mas todas as criaturas humanas dispõem de recursos didáticos para auxiliarem os
sistemas pedagógicos deficientes. Não só ensinar, mas acima de tudo dar o exemplo.
Quem ensina aprende, e vice-versa. A escolaridade é então o processo da experiência.

O quarto tema da tese do Reino é a obrigatoriedade, afirma J. Herculano. “Esse
tema nos mostra que as almas obedecem a leis morais, como os corpos obedecem a leis
físicas. Umas e outras são leis de Deus que nos conduzem obrigatoriamente para o
Reino”. A palavra “obrigatoriedade” pode causar alguma estranheza, considerando
a afirmativa de Paulo que “onde há o Espírito do Cristo aí há liberdade”. Mas o
mesmo Paulo afirmou: “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”. Deus nos dá
o livre-arbítrio, podemos fazer opções, escolher caminhos. Tudo nos é permitido,
mas somos responsáveis pelas nossas escolhas. Daí o alerta de que “nem tudo nos
convém”. O livre-arbítrio não colide com as leis divinas, pois ele mesmo é parte
da Lei. Enquanto não nos enquadrarmos na Lei, não agirmos de acordo com ela, não
vamos adiante, não progredimos. Portanto, para o Espírito evoluir, construir o Reino
de Deus no seus íntimo, terá obrigatoriamente que observar os princípios éticos,
as leis morais, assim como os corpos obedecem as leis físicas. Sabemos que, no plano
físico, as leis da Física, da Química, da Biologia, da Gravidade, etc. funcionam
matematicamente, não se podendo burlá-las. O mesmo ocorre em relação às leis morais,
às leis divinas, que vigoram no plano espiritual. Lei de causa e efeito, lei de
evolução, de justiça, de amor, etc. Podemos agir em desacordo com a Lei, mas receberemos
sempre resultados equivalentes às ações praticadas; somos responsáveis por tudo
que fazemos.

Nesses quatro temas temos um roteiro para trabalhar a nossa evolução espiritual,
ou seja, edificar, paulatinamente, o Reino dos Céus em nosso íntimo. Esta é a meta
de nossas vidas, o caminho da felicidade que todos buscamos.

Bibliografia:

  • O Reino – José Herculano Pires – Editora EDICEL.

(Jornal Verdade e Luz Nº 168 de Janeiro de 2000)