“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em
vós?”
Paulo (I Coríntios, 3:16)
O Espiritismo é essencialmente pedagógico, verdadeira obra de educação. Não é
uma doutrina salvacionista que se preocupa só em “salvar as almas”. Mesmo porque
ninguém está perdido. A Doutrina Espírita propõe a educação. “Educar” vem de “educere”,
e este “e” significa extrair de dentro para fora, como em “exportar”, “excluir”,
“externar”, etc. Educar é desenvolver as potencialidades do ser. Diferente de “instruir”
que significa receber de fora as informações, os conhecimentos.
O Espírito possui, desde seu início, todas as qualidades boas, do saber. e das
virtudes. Mas estas qualidades estão em germe para serem desenvolvidas. O Criador
quis que esse desenvolvimento, o atualizar da potencialidade, fosse trabalho de
cada um, para tanto nos dando os meios necessários e adequados.
A educação assim entendida não se reduz ao processo intelectual, ou ao ensino
profissional. Não é só preparar o homem para a vida no plano material. É muito mais,
tem por objetivo desenvolver as potencialidades do ser integral, isto é, visa o
progresso do Espírito.
Este ideal não surgiu com o Espiritismo. É antigo. Sócrates, Platão já ensinavam
de acordo com esses princípios. Jesus, que Orígenes chamava de o Pedagogo da humanidade,
como verdadeiro Mestre, nos recomendou: “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus
e sua justiça, e tudo mais vos será acrescentado”. Como o reino de Deus está em
nós (Ele também nos ensinou), buscar o reino de Deus é buscar o desenvolvimento
do Espírito, é evoluir. Assim, a medida que resolvemos o problema do Espírito, pela
educação, todos os outros problemas se solucionam, naturalmente.
Mas esta educação para a transcendência, para um futuro que transcende a vida
na Terra, só tem sentido se tivermos convicção de que a vida realmente continua
depois da morte do corpo físico. O Espiritismo nos mostra que a morte é apenas transformação.
Pelos fenômenos produzidos pelos Espíritos desencarnados, a Doutrina Espírita nos
permite formar a convicção sobre a imortalidade. Agora não apenas cremos, e sim
sabemos que a vida continua depois da morte do corpo material, porque as manifestações
dos Espíritos nos esclarecem plenamente a esse respeito. Ainda há aqueles que alegam
não saber e que afirmam, mesmo, ninguém ter voltado do outro mundo para dizer como
é a outra vida. São pessoas que não querem saber, insistem em ignorar o fato. Só
a lei do progresso, com o tempo, fará com que se modifiquem.
Na questão 799 de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec indaga: De que maneira
o Espiritismo pode contribuir para o progresso? Resposta: “Destruindo o materialismo,
que é uma das chagas da sociedade, ele faz os homens compreenderem onde está o seu
verdadeiro interesse. A vida futura não estando mais velada pela dúvida, o homem
compreenderá melhor que pode assegurar o seu futuro através do presente…”.
E como entender esse desenvolver das potencialidades do ser, se a grande maioria
parece mudar tão pouco durante uma existência? Aí entra outra importante contribuição
do Espiritismo, esclarecendo-nos que o processo evolutivo se realiza ao longo do
tempo, em muitas vidas, neste e em outros mundos, até atingirmos a perfeição relativa
para a qual fomos criados. A evolução do Espírito não se dá numa única existência
na Terra. Realiza-se ao longo do tempo. Para isto o Espírito tem o seu livre-arbítrio
– liberdade de agir, que amplia a medida que ele evolui. Está dentro da lei do progresso
e tem o tempo que necessitar. Assim, a meta da educação sofre total modificação.
Não é só para a vida material, mas para o futuro, para a transcendência. Essa educação,
esse desenvolver das potencialidades do Espírito, finalidade de nossas vidas, requer
esforço, trabalho, muita luta, para subirmos a escada do progresso, que é quase
infinita. Assim, compreendemos que é possível esse aperfeiçoamento e que ele é o
bem maior. A nossa felicidade depende do patamar evolutivo em que nos achamos. Maior
a quantidade de degraus vencidos, maior a felicidade. Razão tinha o filósofo quando
afirmou: “Saber é o maior bem; todos os males vem da ignorância”.
Emmanuel1 esclarece:
Na semente minúscula reside o germe do tronco benfeitor. No coração da terra,
há melodias da fonte. No bloco de pedra, há obras-primas de estatuária. Entretanto,
o pomar reclama esforço ativo. A corrente cristalina pede aquedutos para transportar-se
incontaminada. A jóia de escultura pede milagres do buril. Também o espírito traz
consigo o gene da Divindade. Deus está em nós, quanto estamos em Deus. Mas para
que a luz divina se destaque da treva humana, é necessário que os processos educativos
da vida nos trabalhem no empedrado caminho dos milênios. Somente o coração enobrecido
no grande entendimento pode vazar o heroísmo santificante. Apenas o cérebro cultivado
pode produzir iluminadas formas de pensamento. Só a grandeza espiritual consegue
gerar a palavra equilibrada, o verbo sublime e a voz balsamizante.
Interpretemos a dor e o trabalho por artífices celestes do nosso acrisolamento.
Educa e transformarás a irracionalidade em inteligência, a inteligência em humanidade
e a humanidade em angelitude. Educa e edificarás o paraíso na Terra. Se sabemos
que o Senhor habita em nós, aperfeiçoemos a nossa vida a fim de manifestá-Lo.
1 do livro “Fonte Viva”, cap. 30, psicografado por Francisco Cândido Xavier.
(Jornal Verdade e Luz Nº 183 de Abril de 2001)