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Onde Prevalece o Amor…

Onde Prevalece o Amor…

O depoimento do amigo Aguinaldo, de Curitiba-PR, é muito expressivo para não
ser espalhado e conhecido. Ele retrata o verdadeiro espírito de desprendimento e
amor ao próximo que nos cabe alcançar. Transcrevo parcialmente aos amigos leitores:

“(…) Este ano, Deus nos enviou a lugar onde prevalece o amor e a solidariedade
sobre a dor e o desespero, provenientes da doença mais estigmatizada desde os primórdios
da civilização, agora denominada Hanseníase. Foi, numa dessas Colônias, denominada
São Roque, localizada na cidade de Piraquara, região metropolitana de Curitiba,
que conhecemos, entre as suas pares, uma Irmã Franciscana, de nome Lucila (chamada,
no seu batistério, de Maria Dulce Buss). Pudemos, com tristeza, dedicar a ela apenas
alguns poucos meses de atenção e carinho, já que Deus acaba de a chamar para o Alto,
para missões importantes na Espiritualidade. A Ir. Lucila chegou muito jovem ainda,
com 19 anos de idade, em meados do longínquo ano de 1941, há 63 anos, portanto,
à Colônia São Roque, um grande Hospital, criado em 1926, para o tratamento de Hansenianos,
ali permanecendo até a sua volta à Casa Eterna, com apenas uma interrupção de 3
anos, quando foi atender numa Instituição similar em Santa Catarina.

Contou-nos Frei Rui, entre outras coisas, que a Ir. Lucila permaneceu à frente
da lavanderia do hospital por 40 anos, sem férias e domingos para descansar, com
todas as dificuldades inerentes da falta de recursos que a instituição sempre teve,
sendo que chegou a ter mais mil doentes, internados ao mesmo tempo, gerando uma
quantidade incrível de peças de roupa para lavagem especial (em fervura e desinfecção).
Nos últimos anos, a Ir. Lucila era a encarregada de fazer chegar aos irmãozinhos
doentes e seus familiares, moradores nas diferentes vilas que cercam o hospital,
os recursos mínimos para as suas sobrevivências, através da distribuição de alimentos
(cestas básicas), arrecadados com muito custo de benfeitores, como ela se referia
aos doadores da cidade grande e de todos os cantos, além de tudo o mais que pudesse
ser útil (roupas, sapatos, material escolar, gás, remédios, etc.) No último mês
do seu trabalho exaustivo, foram atendidas 2.157 pessoas, o que deve corresponder
a um universo de mais de 6.000. Nunca ficava doente e sempre achava que a providência
divina estava a caminho. Olhava para as suas prateleiras vazias como se elas estivessem
abarrotadas de gêneros alimentícios e bens diversos, o que, de fato, aí a pouco
acontecia, com a vinda de recursos de um lado ou de outro. Quando, há dois meses,
acometida de falta de ar e grandes dores no peito, teve que ser hospitalizada, foi,
pela primeira vez, constrangida a uma consulta médica feita por um antigo Diretor
da Instituição, amigo de muitos anos.

Nas visitas que lhe fizemos no Hospital primeiro e depois em casa, recebeu
com alegria as orações e os passes que lhe foram aplicados. Dizia que logo iria
ficar bem de novo, pois todo o mundo estava rezando por ela. Quando eu chegava,
apesar de todas as dores, recebia-me dizendo: chegou o seu Pascoal, mudando o meu
nome, carinhosamente, em vista de eu ter levado algum chocolate para ela, nestas
visitas. No dia 7 de maio, logo no início da madrugada, deixou este mundo, onde
exemplificou o que o amor e a caridade podem fazer em favor do próximo. Ela, de
origem alemã, nasceu em Santa Catarina, num lar de 11 filhos, em 8 de junho de 1922,
tendo, desde pequenina, manifestado o desejo de seguir a vida religiosa, no que
foi atendida pelos seus pais, que a levaram a ingressar na Congregação Franciscana
de São José, fundada em 1860 na Alemanha, tendo vindo ao Brasil, em 1926, para fazer,
entre outros, o trabalho de atendimento de enfermagem e espiritual do Hospital São
Roque, naquele ano inaugurado, como eu disse atrás. A Ir. Lucila, pelo pouco que
ficamos sabendo e pelo muito da história que viveu e perdeu no decurso dos anos,
pode ser, guardadas as devidas proporções, considerada da mesma grandeza espiritual
de uma Madre Tereza de Calcutá, da Índia, ou da Ir. Dulce, essa outra brasileira
valorosa, amiga de Divaldo Franco.

O apelo que podemos fazer é que essas vidas, inteiramente dedicadas a tratar
das feridas alheias, do corpo e do coração, sejam sempre colocadas como exemplo
para as gerações futuras, para que novas estrelas brilhem aqui na Terra da mesma
forma com que elas brilham no céu. Outra coisa. Não posso deixar de registrar a
maneira sóbria e carinhosa pela qual a ausência terrena da Ir. Lucila foi recebida
por todas as outras religiosas, missionárias do amor e da caridade, que com ela
tiveram o privilégio de lutar contra a miséria e a dor, sem, em nenhum instante,
rebelarem-se contra os desígnios do Pai. Mais, ainda. Faça-se o registro de que
vários grupos espíritas auxiliam com muito ardor e de todas as formas a Associação
São Roque, para onde são carreados os donativos de qualquer espécie. Sei, também,
do grande trabalho realizado pelo Grupo Espírita Os Mensageiros, que já distribuiu
mais de um bilhão de mensagens consoladoras pela Terra, que, arrecadando recursos
em São Paulo, ainda que escassos, são transformados em equipamentos hospitalares,
tais como, roupas de cama, cadeiras de rodas, louças e talheres, remédios, onde
não falta a pomada do Vovô Pedro, enviados com grande dificuldade, contando com
a colaboração de Empresas de Transporte, para o abatimento e mesmo isenção de fretes.
É toda uma constelação de estrelas em busca de um igual propósito, iluminar a noite
escura em que estão milhares de irmãos nossos, em provas tão cruéis.

O Hospital São Roque, num trabalho de muito fôlego, está sendo totalmente
reformado, pois se trata de uma construção de quase 80 anos, sendo necessário a
reforma quase total, desde o telhado, hidráulica, pisos e novas disposições dos
cômodos. A Madre Superiora, Ir. Inês, levou-nos para ver o trabalho já feito, onde
está sendo usada a mão de obra de apenados da Penitenciária do Estado, bem próxima
dali. Por sinal, são excelentes trabalhadores e, tão logo terminem as suas penas,
poderão exercer com dignidade e respeito as suas profissões.
(…)”.

A luta é grande em toda a seara do Mestre. O exemplo marcante trazido pelo relato
de nosso amigo Aguinaldo merece ser conhecido e é com a permissão desse amigo que
o transcrevemos, consciente da importância de se divulgar o bem por toda parte.
Se a leitura deste relato causar impacto em seu coração e das suas mãos brotarem
dádivas de amor, capazes de levar algum lenitivo a essa multidão de sofredores,
pode deixar o seu quinhão na Associação São Roque – Av. Brasília s/n – Piraquara;
na Casa das Irmãs Franciscanas de São José, dentro do Hospital, na Colônia São Roque,
tel. 0 xx 41 673.2245, ou diretamente com o amigo Aguinaldo, na Rua João Schaffer
Júnior, 41 – Bom Retiro – Curitiba PR, tel. 0 xx 41 338-7824, que se encarregará,
com a maior alegria, de fazer chegar ao seu destino.