Parábola dos Lavradores Maus
“Havia um proprietário, que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou
ali um lagar, edificou uma torre e depois a arrendou a uns lavradores, ausentando-se
para longe. Ao aproximar-se o tempo dos frutos, enviou seus servos aos lavradores,
para receberem os frutos que lhe tocavam. Estes, agarrando os servos, mataram um,
feriram outro e a outro apedrejaram, recambiando-os sem coisa alguma. Enviou ainda
outros servos, em maior número do que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo. Por
último, enviou-lhes seu filho, dizendo: Hão de ter respeito a meu filho. Mas, vendo-o,
os lavradores disseram entre si: este é o herdeiro; vinde, matemo-lo e ficaremos
senhores de sua herança. E lançando-lhe as mãos, puseram-no fora da vinha e o mataram.
Quando, pois, vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Responderam-lhe:
Destrui-los-á rigorosamente, e arrendará a sua vinha a outros lavradores, que lhe
paguem os frutos há seu tempo devidos”. (Mateus, 21:33-41).
A interpretação desta parábola é extremamente fácil, tão precisos são os caracteres
de suas personagens e os fatos a que se reportam.
O proprietário é Deus; a vinha é a Religião do Amor que deverá ser implantada
na Humanidade terrena; e os lavradores á quem a vinha foi arrendada são os sacerdotes
de todas as épocas, desde os que sacrificavam animais para oferecer em holocausto
nos altares do judaísmo até os de hoje, que oficiam em suntuosos templos e catedrais.
Os frutos são a piedade cristã, o progresso moral, e os servos incumbidos de recebê-los
são os missionários enviados por Deus a Terra, de tempo em tempo, a exemplo dos
profetas da Antigüidade, João Hus, Savonarola, Lutero, etc., os quais, por reclamá-los
à casta sacerdotal, verberando-lhes incúria no trato das coisas divinas, foram por
ela perseguidos, injuriados e mortos.
O filho do proprietário é Jesus, cujo martírio ignominioso na cruz foi, também,
obra exclusiva do sacerdotalismo.
A herança é o reino dos céus, de que o sacerdócio hierárquico pretende ter a
posse, constituindo-se seu único dispensador.
Arrogando-se os poderes inerentes ao herdeiro, os sacerdotes, ao invés de cultivarem
a vinha, abandonaram-na, esqueceram-na; favoreceram o desenvolvimento de plantas
daninhas, deixando, assim, o proprietário sem os frutos devidos.
De fato, após séculos e séculos de influência absoluta sobre as consciências,
que resultado têm a apresentar ao Senhor da vinha? A indiferença religiosa, o ateísmo
e toda a sorte de males decorrentes dessa estagnação espiritual.
O domínio desses lavradores maus, porém, está a findar-se.
Por toda a parte, suas organizações pseudo-religiosas, dogmáticas e obscurantistas,
eivadas de formalismos, cerimônias culturais, ritos e pompas exteriores, estão em
franca decadência.
Sim, os dias desses rendeiros relapsos estão contados.
Durante muito tempo, a pretexto de combater heresias e apostasias, eles torturaram,
massacraram e queimaram os enviados do Senhor, que lhes vinham cobrar os frutos
da vinha. Já agora, a última parte da parábola começa a realizar-se: estão perdendo
todo o prestígio que gozavam junto aos governantes e a ascendência que tinham sobre
a.s massas populares, assistindo, apavorados, à deserção de suas igrejas; estão
sendo destruídos rigorosamente aqui, ali e acolá, sofrendo na própria carne aquilo
que fizeram a outrem padecer.
Entrementes, eis que surge o Espiritismo (a falange de novos lavradores), a substituí-los
na sublime tarefa de que não souberam dar boa conta.
Profligando todos os sectarismos estreitos e antifraternos, e oferecendo à Humanidade
um novo lábaro, em que se lê: “fora da caridade não há salvação” o Espiritismo está
ganhando, rapidamente, a simpatia e a adesão de todas as criaturas de boa vontade,
e há realizado, em apenas alguns decênios, um extraordinário revivescimento espiritual,
a par de uma obra social verdadeiramente impressionante, numa demonstração inequívoca
de que os novos rendeiros saberão, de fato, cumprir os seus deveres para com o Senhor.
Quem tiver “olhos de ver”, veja.