Casas espíritas são construídas e mantidas por pessoas e para pessoas, sendo fundamentalmente embasadas no Espiritismo, doutrina que deve ser para todos os espíritas a filosofia que embasa a conduta de suas vidas.
Espiritismo difere muito do movimento espírita, pois enquanto o primeiro é o ensinamento superior codificado por Allan Kardec a partir do método CUEE – Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos, o segundo resulta da interpretação, compreensão e intenção daqueles que de algum modo lideram os estudos e divulgações espíritas.
Lembremos o que disse Kardec em Obras Póstumas:
“Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o conhecimento de que dispunham se limitava ao grau de adiantamento que eles haviam alcançado, e que a opinião deles só tinha o valor de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade me preservou do grave risco de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns deles.” (grifo nosso)
O método CUEE trouxe segurança à obra espírita, pois Kardec implantou esse rigoroso processo seletivo das informações que lhe chegavam possibilitando perceber se as mensagens eram fatos e leis espirituais ou apenas opiniões dos espíritos.
Pois bem. Essa necessidade de refletir, comparar, buscar outras fontes de informação que corroborem ou desconstruam os conceitos recebidos é útil para avaliar tudo o que provém dos espíritos, assim como dos homens, ou seja, originadas nos desencarnados e nos encarnados. Nada, absolutamente nenhuma “verdade” deve ser aceita como tal apenas porque alguém disse que assim o é, tudo pode ser questionado!
As comunicações dos espíritos devem ser avaliadas muito além do nome que dizem ter ou o papel que presumimos possuírem em nossas vidas, tais como mentores pessoais ou de grupos de estudos. É o conteúdo, a lógica, o que é subjetivamente aconselhado, ensinado, que deve ser considerado. Quantas frases e textos contendo a palavra “amor” falam apenas de ciúme, orgulho e posse, por exemplo?
Da parte dos encarnados não é diferente. Mesmo a pessoa melhor intencionada pode não perceber que interpreta de forma errada um conceito, um ideal, agindo contra aquilo que pensa defender. Imagine-se, então, o que pode ocorrer se houver má fé envolvida!
Talvez alguns pensem “como confiar?”. Eis a pergunta que não deve calar jamais! Somos residentes no planeta Terra que ainda é prisão para os criminosos, hospital para os doentes, escola para os ignorantes. Nossa defesa passa sempre pelas palavras do Cristo, “vigiai e orai”, mas também pela afirmação doutrinária do Codificador, que diz:
“A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra.” (grifo nosso)
Portanto, amigos, não temam recusar uma verdade, temam aceitar mentiras e enganos, conforme o conselho do Espirito Erasto, em O Livro dos Médiuns.
“Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. (grifos nossos)
De melindres e sensibilidades exageradas o mundo está cheio e muitos não saberão lidar com posturas e pensamentos diversos dos seus, não sendo raro que alguém entenda que suas ideias são mais lúcidas, claras e ideais do que as alheias, isso quando não as quiserem impor apenas para angariar objetivos de fundo exclusivamente egoístico.
Todavia, ainda que correndo o risco de sermos incompreendidos, sigamos o caminho que a doutrina ensina: pensar antes de acreditar! Estudar, questionar, refletir, debater construtivamente! Que não sejamos parte daqueles que inadvertidamente buscam transformar o Espiritismo e o movimento espírita em fértil campo de “fakes news” (notícias falsas).
Devemos ter responsabilidade, ser espíritas sim, dentro das casas espíritas, mas também fora delas, no mundo. Nosso planeta está repleto de “joio” e de “trigo” que apenas quando frutificarem serão separados para que não se coloque a perder bons grãos de homens e almas.
VANIA MUGNATO DE VASCONCELOS
Coordenadora de Grupo de Pais, articulista e palestrante espírita.