Poderosa Arma
O filho tinha dezoito anos. Sempre embriagado, era motivo de discussão toda
madrugada quando chegava em casa. Agressivo e desrespeitoso, provocava a ira da
mãe e isto fazia da família um verdadeiro caldeirão de nervos explosivos…
Aconselhada por amigos, resolveu mudar a tática. Ao invés da agressão verbal
continuada, resolveu por adotar método novo.
Naquela noite, preparou o jantar e esperou que ele chegasse. Como sempre,
altas horas da madrugada, ele chegou embriagado e violento. Ela, calada, arrumou
a mesa e disse com carinho: filho, preparei teu prato… você deve estar
cansado e faminto… A reação foi violenta. Olhou assustado e perguntou:
qual é velha? tá mudando, é?
Fêz de conta que não ouviu e foi deitar-se.A cena repetiu-se por várias
noites. Dedicação e silêncio da mãe, agressividade e indiferença do filho.
Após várias noites, tentou dialogar. Ele, um pouco desajeitado,falou: mãe,
isso não é vida! Você trabalha e eu… A mãe ousou acariciar seus cabelos e
o diálogo começou. Há quanto tempo isso não acontecia.
Depois desse dia, a volta ao lar passou a ser mais cedo a cada noite. Largou
a bebida e encontrou um emprego. A vida da família mudou completamente.
Na verdade não é só o pão material que os filhos precisam. O verdadeiro pão
da vida é o amor e sua escassez tem provocado esses dramas em toda parte. O amor
funciona mesmo. Basta ter vontade de usá-lo, com coragem e determinação, e logo
a paisagem muda.
Este pequeno relato veio-me à mente em virtude de triste cena que pude
presenciar um dia destes. Voltando de São Paulo, alta madrugada, por ônibus,
pude assistir uma cena de violência que fêz-me lembrar os pais, mas
especialmente as mães. Solitárias, incompreendidas, não sabem o que fazem seus
filhos desnorteados pela ausência do amor.
O jovem, de aproximadamente 19 anos, após discutir com o motorista, desceu no
posto onde o ônibus faz parada habitual e tentou usar o “orelhão” para
telefonar. Como não conseguisse, talvez por não ter cartão telefônico em mãos,
passou a agredir o telefone e a espancar a própria mala de roupas que carregava
às costas. Depois abandonou o ônibus, desceu as calças para agredir os demais
passageiros e ficou a atravessar a rodovia, com evidente perigo de
atropelamento.
Fiquei a pensar na mãe. Estaria certamente em casa, apreensiva pela volta do
filho, sem saber a perturbação em que este se encontrava. Necessitado de um
corretivo educativo, também é um enfermo do amor. Alguém que precisa que lhe
dirijam a palavra com atenção, respeito e carinho.
Não há arma mais poderosa que o amor. Sua ação penetra nas criaturas e as
dulcifica. Ele, o amor, paralisa o ódio, imobiliza a violência, deixa sem ação a
vingança. Se já tentamos de tudo, sem conseguir resultados, tentemos o amor. Não
há força capaz de sobrepujar a força que o amor exerce.
Para nós, pais e mães, os dois fatos fazem pensar…