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Por Quê Gostamos de Fofocar?

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Enéas Canhadas

Existem pessoas que nascem sorrindo, vivem fingindo e morrem mentindo.

Eu sei, eu sei. Você tem razão. Peço desculpas. É claro que você não gosta! Mas, me distraí por um momento e fiz uma pergunta incluindo a todos. Como se todos os seres humanos fossem iguais! Bem, já deu para perceber que se continuar falando neste tom, você vai me chamar de mentiroso ou mesmo de falador, porque já estou parecendo um tanto demagogo, cheio de dedos como se diz. Afinal de contas não custa nada lembrar que língua ajuizada é sempre moderada e de língua comprida, a mentira é maior.

Mas, estou querendo falar sério sobre o assunto. A fofoca é um fato na vida dos seres humanos. E porque será tão atraente e mesmo, fascinante, falar dos outros? Gaiarsa começa o seu livro dizendo que “é fácil imaginar o que ele vive fazendo!”. Sabemos que a nossa mente é criativa, imaginativa, fantasiosa e o pensamento é mais rápido do que a velocidade da luz. Portanto, temos um aparelho mental altamente especializado para imaginar coisas a respeito das pessoas.

É duro dizer também, que somos ótimos juizes dos outros. Além disso, temos uma grande dose de onipotência também. Não podemos ficar de fora dos acontecimentos, não podemos nos sentir mal informados, e além disso somos sensacionalistas. Falamos mal dos jornais que exploram a vida dos outros que, como dizemos, derramam sangue de suas páginas. É muito provável que sejamos capazes de ocupar o cargo de editor chefe de um desses jornais, e também de elaborar ótimas manchetes. Se estas afirmações não fossem verdadeiras, não sentiríamos atração por tais notícias, nem compraríamos tais jornais, nem ficaríamos curiosos para ver um acidente ou briga, nem daríamos audiência para os programas, de nível mais do que discutíveis, que temos na televisão Brasileira.

Você pode estar pensando e afirmando baixinho: “eu não faço mais essas coisas!”. Há muito tempo você deixou de ver e ouvir programas de baixo nível e também não dá crédito à fofocas e notícias espalhafatosas. Vamos recordar um fato. Ficamos horas assistindo todos os detalhes na TV, no dia 11 de setembro de 2001, quando as torres do World Trade Center em Nova Yorque foram derrubadas pelos aviões nos ataques terroristas. Você dirá, mas isto não é fofoca, isto é notícia, inusitada, alarmante, ameaçadora e de interesse de toda a humanidade! Pois é, mas do ponto de vista psicológico, os mecanismos que nos levam a falar mal do vizinho são os mesmos que nos levaram a ficar querendo saber mais e mais notícias, usando o controle remoto para percorrer inúmeras vezes todos os canais de televisão que estavam falando alguma coisa a respeito. Mesmo que já estivesse cansado de saber, porque as notícias eram as mesmas, ali estávamos nós, girando pelos canais, como curiosos incansáveis. Desculpem-me, não sei se você fez isso. Mas assumo publicamente: eu fiz.

Porque esses mecanismos psicológicos são tão eficientes? Porque temos características, ainda um tanto mórbidas das quais não nos livramos inteiramente. Somos cúmplices com muita facilidade, exatamente porque julgamos e sempre temos um ponto de vista e um parecer a manifestar. Além disso somos conspiradores por natureza. A maldade que ainda mora dentro de nós aparece exatamente nesses momentos. Outra justificativa é que os mistérios nos fascinam. Tudo que está oculto, tem o poder de nos atrair. Não é sem razão que a fascinação é um dos três tipos clássicos de obsessão, e isso nos torna vulneráveis.

Por estranho que possa parecer, somos também vítimas de nossa própria inteligência. Desde o mito de Adão e Eva, a natureza humana mostrou-se fascinada por conhecer o que estava proibido e encoberto. Desde sempre fomos curiosos por natureza. É a curiosidade que nos faz descobrir e discernir a natureza do bem e do mal. Quando o Apóstolo Paulo diz que tudo nos é lícito, embora nem tudo nos seja conveniente, ele fala do drama humano que possui o livre arbítrio, mas ainda não está totalmente desenvolvido para discernir completamente entre o bem e o mal. Muito menos sermos capazes de refrear nossos desejos e ambições. Quando os nossos pais nos diziam que temos o olho maior do que a barriga, significa que somos movidos pelas sensações muito mais do que pelas reflexões e ponderações. Somos matéria. Osso e carne. Pele, pelo e reações químicas. Esse é o mecanismo que deu origem à vida, a reação aos estímulos, e ele ainda não sofreu alteração na natureza. Num documentário sobre a vida, ouvi que a natureza não inventa nada de que não precisa. Quem vai fazer com que a natureza tenha que inventar reações novas é o nosso progresso moral e espiritual que virá um dia, a partir do fato de sermos Espíritos possuidores do princípio inteligente. A nossa pupila se contrai com o forte raio de luz, e é assim que reagimos primeiro. Depois é que tomamos consciência do que está acontecendo e, dependendo do quanto já crescemos na nossa trajetória evolucionária, vamos ponderar e pesar a nossa ação. Por essas e outras razões é que o ditado nos diz que a língua do maldizente e o ouvido de quem ouve são irmãos. De fato somos irmãos uns dos outros de múltiplas formas.

As fofocas também tem grande força porque queremos que os outros sejam do jeito que nós esperamos que seja. Também porque estamos acostumados com o jeito das pessoas. Se elas mudarem, vamos ter um enorme trabalho para mudar os nossos pontos de vista. As mudanças que os outros conquistam, nos perturbam porque fazem a gente ter que mudar também. Mas não é só isso. Sofremos muito quando as nossas expectativas são frustradas. As frustrações nos causam grande desconforto. Resultado, queremos que todos sejam como sempre foram, e assim sendo o que já julgamos certo, estará sempre certo. O que nós julgamos errado, também permanecerá errado, exatamente como nós dissemos que era. Somos assim, os donos da verdade, não é mesmo?

Fazer parte da multidão é muito fácil e cômodo. O difícil é ser ovelha negra. O conto infantil do patinho feio, causava grande sofrimento a ele quanto ia de casa em casa procurando uma mãe que o aceitasse com pai e irmãos que o amassem. Enquanto as famílias que ia encontrando estavam lá, alegres, felizes e muito bem, obrigado, ele continuava triste, feio, só e sem destino e sem lar. Assim sendo, sob certos aspectos, somos mais pesquisadores de nós mesmos, quando somos o patinho feio, porque temos que sair do nosso comodismo e buscar o lugar e a condição feliz, a nossa verdadeira família. Vale dizer, os nossos verdadeiros pai, mãe e irmãos.

Para não alongar muito este papo, precisamos nos lembrar que somos seres éticos. Desde que quisemos possuir o discernimento entre o bem e o mal, desde que nos alegramos por possuir o livre arbítrio, desde que temos consciência de ser inteligente e capaz de planejar as nossas próprias encarnações, do contrário seríamos fantoches de Deus, nos tornamos Espíritos éticos. Temos que saber o que é bom, correto, virtuoso e justo para, um dia atingir a felicidade e o bem supremo. Assim pensava Aristóteles, quando afirma que “o bem do homem vem a ser a atividade da alma em consonância com a virtude e, se há mais de uma virtude, em consonância com a melhor e mais completa entre elas”.

Desde que nos tornamos conscientes de nossa condição ética e que estamos em busca do Bem, que temos a liberdade de ser quem somos e dotados de auto consciência, nos tornamos angustiados, ansiosos e portadores de muitos conflitos íntimos. A perfeição virá a custo de trabalho, dedicação e sintonia com o melhor do nosso querer e de nossas intenções.

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