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Práticas Distantes

Práticas Distantes

 

Agora passou! Mas todo ano, a cena se repete. Chega a época dos feriados
católicos da chamada “Semana Santa” e surgem as questões:

  1. Como o Espiritismo encara a Páscoa;Sexta-feira Santa”?;
  2. Qual o procedimento do espírita no chamado “Sábado de aleluia” e “Domingo
    de Páscoa”?;
  3. Como fica a questão do “Senhor Morto”?

Sabe que chego a surpreender-me com as perguntas. Não quando surgem de
novatos na Doutrina, mas quando surgem de velhos espíritas, condicionados ao
hábito católico, que aliás, respeitamos muito. É importante destacar isso: o
respeito que devemos às práticas católicas nesta época, desde à chamada época,
por nossos irmãos denominada de quaresma, até às lembranças históricas, na
maioria das cidades revividas, do sacrifício e ressurgimento de Jesus. Só que
embora o respeito devido, nada temos com isso no sentido das práticas
relacionadas com a data.

São práticas religiosas merecedoras de apreço e respeito, mas distantes da
prática espírita. É claro que há todo o contexto histórico da questão, os
hábitos milenares enraizados na mente popular, o condicionamento com datas e
lembranças e a obrigação católica de adesão a tais práticas.

Para a Doutrina Espírita, não há a chamada “Semana Santa”, nem tão pouco o
“Sábado de aleluia” ou o “Domingo de Páscoa” (embora nossas crianças não
consigam ficar sem o chocolate, pela forte influência da mídia no consumismo
aproveitador da data) ou o “Senhor Morto”. Trata-se de feriado e prática
católica e portanto, não existem razões para adesão de qualquer tipo ou
argumento a tais práticas. É absolutamente incoerente com a prática espírita o
desejar de “Feliz Páscoa!”, a comemoração de Páscoa em Centros Espíritas ou
mesmo alteração da programação espírita nos Centros, em virtude de tais feriados
católicos. E vejo a preocupação de expositores ou articulistas em abordar a
questão, por força da data… Não há porque fazer-se programas de rádio
específicos sobre o assunto, palestras sobre o tema ou publicar artigos em
jornais só porque estamos na referida data. É óbvio que ao longo do ano, vez por
outra, abordaremos a questão para esclarecimento ou estudo, mas sem prender-se à
pressão e força da data.

Há uma influência católica muito intensa sobre a mente popular, com hábitos
enraizados, a ponto de termos somente feriados católicos no Brasil, advindos de
uma época de dominação católica sobre o país, realidade bem diferente da que se
vive hoje. E os espíritas, afinados com outra proposta, a do Cristo Vivo, não
têm porque apegar-se ou preocupar-se com tais questões.

Respeitemos nossos irmãos católicos, mas deixemo-los agir como queiram, sem o
stress de esgotar explicações. Nossa Doutrina é livre e deve ser praticada
livremente, sem qualquer tipo de vinculação com outras práticas. Com isso,
ninguém está a desrespeitar o sacrifício do Mestre em prol da Humanidade.
Preferimos sim ficar com seus exemplos, inclusive o da imortalidade, do que
ficar a reviver a tragédia a que foi levado pela precipitação humana.

Inclusive temos o dever de transmitir às novas gerações a violência da
malhação do Judas, prática destoante do perdão recomendado pelo Mestre,
verdadeiro absurdo mantido por mera tradição, também incoerente com a prática
espírita.

A mesma situação ocorre quando na chamada quaresma de nossos irmãos
católicos, espíritas ficam preocupados em comer ou não comer carne, ou
preocupados se isto pode ou não. Ora, ou somos espíritas ou não somos!
Compara-se isso a indagar se no Carnaval os Centros devem ou não abrir as
portas, em virtude do pesado clima que se forma???!!!… A Doutrina Espírita
nada tem a ver com isso. São práticas de outras religiões, que repetimos
respeitamos muito, mas não adotamos, sendo absolutamente incoerente com o
espírita e prática dos Centros Espíritas, qualquer influência que modifique sua
programação ou proposta de vida.

Esta abordagem está direcionada aos espíritas. Se algum irmão católico nos
ler, esperamos nos compreenda o objetivo de argumentação da questão,
internamente, para os próprios espíritas. Nada a opor ou qualquer atitude de
crítica a práticas que julgamos extremamente importantes no entendimento
católico e para as quais direcionamos nosso maior respeito e apreço.

Vemos com ternura a dedicação e a profunda fé católica que se mostram com
toda sua força durante os feriados da chamada Semana Santa e é claro, nas demais
atividades brasileiras que o Catolicismo desenvolve.

O objetivo da abordagem é direcionado aos espíritas que ainda guardam dúvidas
sobre as três questões apresentadas no início do artigo. O Espiritismo encara a
chamada Sexta-feira Santa como uma Sexta-feira normal, como todas as outras,
embora reconhecendo a importância dela para os católicos. Também indica que não
há procedimento algum para os dias desses feriados. E não há porque preocupar-se
com o Senhor Morto, pois que Jesus vive e trabalha em prol da Humanidade.

E aqui, transcrevemos trecho do capítulo VIII de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, no subtítulo VERDADEIRA PUREZA, MÃOS NÃO LAVADAS (página 117 – 107ª
edição IDE): “O objetivo da religião é conduzir o homem a Deus; ora, o homem não
chega a Deus senão quando está perfeito; portanto, toda religião que não torna o
homem melhor, não atinge seu objetivo; (…) A crença na eficácia dos sinais
exteriores é nula se não impede que se cometam homicídios, adultérios,
espoliações, calúnias e de fazer mal ao próximo em que quer que seja. Ela faz
supersticiosos, hipócritas e fanáticos, mas não faz homens de bem. Não basta,
pois, ter as aparências da pureza, é preciso antes de tudo ter a pureza de
coração”.

Não pensem os leitores que extraímos o trecho pensando nas práticas católicas
em questão. Não! Pensamos em nós mesmos, os espíritas, que tantas vezes nos
perdemos em ilusões, acreditando cegamente na assistência dos espíritos
benfeitores, mas agindo com hipocrisia, fanatismo e pasmem, superstição ….
quando não conhecemos devidamente os objetivos da Doutrina Espírita, que são, em
última análise, a melhora moral do homem.

(Publicado no Boletim GEAE Número 390 de 02 de maio de 2000)