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Predestinação

José Reis Chaves

A predestinação ensina que todos nós fomos criados por Deus já salvos ou condenados. Surgiu no século 16, com o protestante francês João Calvino, fundador do Calvinismo, e autor de “Instituição Cristã”, obra de grande valor literário. Propagou-se o Calvinismo pela Holanda, Suécia e Escócia. E João Knox, discípulo escocês de Calvino, e seu contemporâneo, fundou a Igreja Presbiteriana, dividida hoje em 9 igrejas que divergem sobre a predestinação, com algumas de suas correntes aceitando hoje a reencarnação.

Com o devido respeito aos adeptos da predestinação, considero-a incompatível com a nossa razão, a Bíblia e Deus, pois se já estamos predestinados por Deus à salvação ou à condenação, que sentido teriam as religiões? Ela originou-se principalmente duma interpretação errada de um texto Paulino: “Deus tem misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz” (Romanos 9, 18). E Paulo, por não ter convivido com Jesus, ensina algumas coisas que divergem dos ensinamentos dos outros discípulos que conheceram o Mestre. Eis, por exemplo, o que escreveram outros discípulos do Rabi: “Deus não faz acepção de pessoas” e “Deus quer que todos se salvem”. Ademais, Jesus é salvador do mundo, e não só de meia dúzia de almas! Realmente, se a misericórdia divina deixar de abranger uma alma só que seja, ela deixa de ser infinita, pois ficaria limitada.

Em parte, Paulo está até certo, pois Deus é livre para fazer o que Ele quiser. Mas o próprio Paulo nos fala que tudo nos é permitido, mas que nem tudo nos convém! E, por acaso, conviria o mal a Deus? Mas ao falar da ausência da misericórdia de Deus para com alguns, Paulo não se refere necessariamente à questão de condenação eterna.

No mais, toda vez que a Bíblia fala em predestinação, no sentido de condenação nossa, trata-se de conseqüências de males cometidos por nós (1 Pedro 2, 8, e Isaias 65, 12), e não uma decisão aleatória divina, “pois Deus não é de confusão”! E é o próprio Paulo quem fala agora de modo diferente daquele anterior: “Deus nos predestinou para a felicidade eterna” (Efésios 1, 5).

Existe de fato um destino (carma, entendido também por pecado original) para nós, que pode ser bom ou mau, e construído por nós mesmos, espíritos imortais que somos, e com o qual nascemos, morremos e renascemos. E até com Jesus vemos isso: “Porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lucas 24, 26).

Não confundamos a onisciência de Deus com a sua responsabilidade pelo nosso destino, responsabilidade essa exclusiva de nosso livre-arbítrio. Porém, com a nossa evolução espiritual possibilitada por Deus, e trabalhada por nós, estamos predestinados, sim, mas para a felicidade eterna!

Autor de “A Face Oculta das Religiões” (Ed. Martin Claret), entre outras obras. E-mail jrchaves@redevisao.net

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