Nessa avassaladora onda fenomênica, a pintura mediúnica tem se destacado,
para alegria e perda de tempo dos curiosos de superfície…
As conseqüências disso são danosas para o movimento espírita com suas
Instituições sempre às voltas com parcos orçamentos para atender à demanda
da área social e às vezes até mesmo gastos administrativos comuns, vez que o
arrocho financeiro faz com que muitos se inclinem para a venda das pinturas mediúnicas
para ocorrer às despesas sempre crescentes. E as noitadas de “Renoir”
e outros vão acontecendo aqui e acolá…
Em matéria de mediunidade ainda está valendo a regra áurea sancionada por
Jesus há dois milênios: (Mt., 10:8.)
“Dai gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido”.
Alguns Espíritas menos avisados e ingênuos, doutrinariamente inseguros,
tendem a transformar suas Casas Espíritas em “atelier” de
pintores famosos, no que são até mesmo aconselhados e estimulados pelos médiuns
do “métier”.
Alguns desses médiuns pintores têm uma superlotada agenda no Brasil e
exterior, e com esse efeito multiplicador, lá vem mais loucuras para o nosso
movimento espírita.
Já ouvimos de um confrade muito crédulo e místico que uma pintura mediúnica
“irradia” vibrações terapêuticas no ambiente onde a
dependuram, e pasmem! Não são poucas as pessoas que acreditam nisso!…
Não é sem motivo que muitas vezes Jesus dizia:
“Até quando vos suportarei?”
Perguntaram a Vianna de Carvalho como é vista no Mundo Espiritual a
comercialização no terreno da arte. Eis a resposta do Mentor2:
“Desde que não se trate de uma realização eminentemente mediúnica,
caracterizando-se pelo esforço pessoal daquele que produz a obra de Arte, é
justo que a possa dispor conforme lhe aprouver. Face ao encontro de compradores,
alguns dos quais se tornam mais investidores financeiros do que admiradores do
Belo é válido que venda o seu trabalho, a fim de viver com dignidade. Entanto,
todo excesso é prejudicial, e na Arte, em razão das ambições que entram em
jogo comercializando-a, e impedindo que os menos aquinhoados financeiramente
possam também desfrutá-la, torna-se uma conquista lamentável para aqueles que
a possuem para deleite exclusivo do seu orgulho e egoísmo.
No passado, geralmente, com poucas exceções, os artistas viveram e
desencarnaram faltos de recursos, especialmente quando sua expressão de Arte não
correspondia aos padrões convencionais estabelecidos, inspirando-se, ainda mais
no próprio sofrimento e produzindo incomparáveis obras que vêm sensibilizando
a cultura da Humanidade séculos em fora”.
Falando da pintura mediúnica propriamente dita, perguntaram ainda ao Nobre
Mentor3:
“Pintura mediúnica é arte? Traria ela alguma importância real para
o Movimento Espírita, para a Doutrina Espírita?”
Resposta: “Da mesma forma que a psicografia e a psicofonia,
nas expressões da mediunidade intelectual, contribuem valiosamente para a
comprovação da imortalidade, ao lado de outras manifestações positivas do
fenômeno mediúnico, a psicopictografia é recurso nobre de arte para a
confirmação da sobrevivência do Espírito à disjunção molecular do corpo.
O estilo do pintor, suas características, sua mensagem oferecem expressivo
contributo para a afirmação da Vida após o túmulo, como também pelo ensejo
que oferece de trazer beleza e harmonia para encanto das criaturas humanas.
À Doutrina Espírita não oferece maior contribuição, tendo-se em
vista que a Codificação encontra-se estruturada e completa, não sendo a
mediunidade psicopictográfica que irá aumentar a sua excelente proposta de
sabedoria.
O fenômeno necessita da Doutrina a fim de se explicar, porém a Doutrina
dispensa o fenômeno, por ser ela um conjunto de lições profundas e ricas
de iluminação e beleza, de que o insigne Allan Kardec se fez o incomparável
intermediário.
Assim, o fenômeno confirma a Doutrina e essa elucida-o”.
Faz-se mister maior vigilância a fim de que não tenha o próprio Cristo que
voltar aos arraiais espiritistas para – outra vez – expulsar os vendilhões do
Templo. Aliás, essa vigilância deve estar sempre ativa e redobrada porque em
Doutrina Espírita os fins não justificam os meios.
Há que se ter sempre em conta que o Espiritismo não possui qualquer
similar, e temos que pagar o preço pela coerência doutrinária, jamais
permitindo a infiltração dos modismos e loucuras do mundo em nossas Casas Espíritas.
1 – Kardec, A. “O Livro dos Médiuns” – 1ª parte – Capítulo III,
item 28, § 1º.
2 – Vianna de Carvalho/Franco, D.P. “Atualidade do Pensamento Espírita”
– Questão 153 – LEAL
3 – Vianna de Carvalho/Franco, D.P. “Atualidade do Pensamento Espírita”
– Questão 139 – LEAL
(Jornal Mundo Espírita de Novembro de 2000)