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Publicações pseudo-espíritas

Falsa ideia da Doutrina Espírita é apresentada através de livros ou publicações
pseudo-espíritas, de adeptos inconscientes. Elas são mais perniciosas do que os
veementes ataques sofridos pelo Espiritismo de adeptos de outras crenças.

Seria o caso de perguntar por que os espíritos responsáveis pela expansão correta
do pensamento espírita permitem tais ocorrências e se há um meio de evitar esse
inconveniente?

O próprio Kardec pronunciou-se sobre o assunto. Questionado sobre o assunto,
forneceu preciosa instrução, que transcrevemos parcialmente:

“(…) O Espiritismo realizou, indubitavelmente, milagres de reforma moral, mas
supor que essa transformação pode ser súbita e universal, seria desconhecer a Humanidade.
Entre os próprios espíritas há aqueles que, como eu disse, só vêem do Espiritismo
a superfície, que não compreendem o seu fim essencial. (…) Ora, a humanidade na
Terra é ainda jovem, apesar da pretensão dos seus doutos. O Espiritismo, também
ele, apenas acaba de nascer. Ele cresce depressa, como vedes, e desfruta de uma
excelente saúde. Mas é preciso dar-lhe tempo para atingir a idade viril. Eu vos
disse ainda que as afrontas que ele sofre, e que lamentais, têm seu lado bom. (…)”.

Na seqüência, o Codificador apresenta uma passagem de certa comunicação obtida
com o seguinte teor: “Os espíritas esclarecidos devem se felicitar com o fato de
as falsas e contraditórias idéias se revelarem neste período inicial, pois que são
combatidas, arruínam-se e se esgotam no decorrer da infância do Espiritismo. (…)”.

E acrescenta depois: “(…) para sopesar o efeito dessas dissidências, basta
observar o quanto se passa. Em que se apóiam elas? Em opiniões individuais que podem
reunir algumas pessoas, pois não há idéia, por mais absurda que seja, que não encontre
participantes. Todavia, julga-se de seu valor pela preponderância que ela adquire.
Ora, onde vedes essas idéias de que falamos empolgando, ainda que em termos, as
simpatias? Onde se constituem em escola, ameaçando, pelo número de aderentes, a
bandeira que adotastes? Em parte alguma! Pelo contrário, as idéias divergentes assistem
incessantemente à evasão dos seus participantes, que partem para aderir à unidade
que se faz lei para a imensa maioria, se é que não o faz para a totalidade. (…)”.

E esta ponderação extraordinária, que podemos constatar diariamente: “(…) De
resto, o erro leva consigo, quase sempre, o seu remédio. E o seu reino, por outro
lado, nunca é eterno. Cedo ou tarde, enceguecido por uns poucos sucessos efêmeros,
faz-se vítima de uma espécie de vertigem e curva-se ante as aberrações que precipitam
sua queda. Deplorais as excentricidades de certos escritos publicados sob a cobertura
do Espiritismo. Pelo contrário, devereis abençoá-los, uma vez que é por esses excessos
mesmos que o erro se perde. (…)”.

Mais adiante, continua Kardec: “(…) Esses erros provêm quase sempre de Espíritos
levianos, sistemáticos ou pseudo-sábios, que se comprazem vendo editadas suas fantasias
e utopias (…) Mas, como esses Espíritos não possuem nem a verdadeira cultura,
nem a verdadeira sabedoria, não conseguem manter por muito tempo o seu papel e a
ignorância os trai. (…) é preciso que não temais, para o futuro, a influência
dessas obras. Elas podem, momentaneamente, acender um fogo de palha, mas quando
não se apóiam em uma lógica rigorosa, vede, ao fim de alguns anos – muitas vezes
de alguns poucos meses –, a que se reduziram. (…)”

E conclui com o bom senso que o caracterizava: “(…) Uma vez que os Espíritos
possuem livre-arbítrio e uma opinião sobre os homens e as coisas, compreender-se-á
que a prudência e a conveniência mandam afastar esses perigos. No interesse da doutrina
convém, pois, fazer uma escolha muito severa em semelhantes casos (…)”.

Essas instruções, entre outras de grande valor, estão no livro Viagem Espírita
em 1862
, edição da Casa Editora O Clarim, com tradução de Wallace Leal V. Rodrigues.
Trata-se de trabalho publicado pelo próprio Codificador, do original francês
Voyage Spirite en 1862,
de uma série de 50 reuniões presididas por ele mesmo
durante viagem (que durou seis semanas e numa extensão de mais de 1.100 kms) de
visita a grupos espíritas franceses.

A obra contém a coletânea dos diversos pronunciamentos e depoimentos colhidos,
cujo conteúdo de esclarecimento e atualidade – embora tenham sido proferidos no
distante ano de 1862 – constitui-se em poderoso instrumento para a organização e
administração das sociedades espíritas e mesmo para o entendimento dos fundamentos
espíritas.

Destacamos a questão de publicações pseudo-espíritas, mas a obra contém preciosos
outros ensinamentos.

Nota do autor: Com a presente matéria, nossa homenagem aos 147 anos de O Livro
dos Espíritos
e 140 anos de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Matéria publicada originariamente na Revista Internacional de Espiritismo, de
abril de 2004.