Reciclagem Mediúnica
I – Ao estudar o tema, para não repetir conceitos já vistos no início desta
série, algumas retomadas se fazem necessárias. Entre elas destaca-se ressaltar a
função básica do Centro Espírita:
- estudo
- prática e divulgação da Doutrina Espírita
onde as reuniões mediúnicas se desenvolverão como decorrência (não como fato
principal) da consciência do servir, que vai se ampliando mais e mais, na
proporção em que entendendo, nos renovamos moralmente. Procurando, viver, o
conteúdo doutrinário, que objetiva a transformação moral, passa o homem a sentir
necessidade de oferecer o melhor de si para que o outro, encarnado ou
desencarnado, fique melhor.
Todos os enfoques serão conforme o Espiritismo, doutrina revelada pelos
Espíritos Superiores a Allan Kardec, contidas em ‘O Livro dos Espíritos” e
demais obras básicas.
Por que essas colocações?
É necessário que se distinga intercâmbio mediúnico e Doutrina Espírita, assim
como é preciso que se diferencie a prática espírita da não espírita.
Nessa distinção, a prática mediúnica espírita é a que se orienta e rege pelos
princípios da Doutrina Espírita obedecendo, portanto, a alguns padrões como:
- seriedade e bom senso
- sinceridade, simplicidade, doação, desinteresse e amor
- visa o despertamento, auxílio e progresso espiritual de encarnados e
desencarnados - não usa símbolos, vestes especiais, altares, imagens, sons ou qualquer
outro fato indutor - não tem rituais, cerimônias, cantos, danças, oferendas
- não usa a mediunidade para respostas, indicações de interesse pessoal ou a
serviço/ benefício individual do que quer que seja - busca somente benefícios espirituais
- não é imediatista e ao oferecer o melhor de si nas reflexões que propicia,
respeita o livre-arbítrio do outro sem impor, coagir forçar, fazer acordos ou
ameaças.
A prática espírita assim orientada é fruto de consolação, progresso moral e
ajuda recíproca para encarnados e desencarnados.
II – Como atingir esses objetivos?
A Codificação Espírita aconselha que, antes de se encaminhar alguém à
prática mediúnica, se ofereça o estudo para conhecimento da Doutrina Espírita.
Esse cuidado encontra-se desde o início do Espiritismo quando na Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec, destinava uma das primeiras salas
para os neófitos, justamente para que se processasse através do estudo esse
conhecimento inicial básico.
Mesmo que esse indivíduo, não se incorpore aos trabalhos da casa, ou ao
mediúnico no caso, o conhecimento do que é Doutrina Espírita, seu objetivo, seu
estudo, completo, lógico, racional, despertará visão nova da importância da
vida, satisfazendo a anseios íntimos das respostas que consolam e libertam.
No caso da reunião mediúnica, esse cuidado dará elementos, a que mesmo se
encontre erros humanos, vícios mediúnicos, dor, malícia, ignorância dos
Espíritos comunicantes, saberá entender e trabalhar esses aspectos,
identificando e compreendendo que cada Espírito reflete expressões próprias do
seu momento evolutivo.
Sem esse preparo, encaminhando-se alguém que chega imediatamente ao trato com
o fenômeno, saltando essa etapa de verdadeira formação de consciência,
produzir-se-ia o “espírita” místico, sobrenatural, mágico, maravilhoso e como
conseqüência o mau médium.
III – O que caracteriza uma reunião mediúnica
Exatamente o intercâmbio ostensivo com os desencarnados onde estes se
manifestam através dos médiuns, exteriorizando dores, sentimentos,
incompreensões, necessidades enfim.
Essas reuniões são privativas, isto é, sem público porque:
- exigem dos participantes preparo específico. Presença de público dividido
entre neófitos, curiosos, descrentes, outros buscando recados ou interesses
pessoais etc., dificultam, impedem ou conturbam a formação/manutenção do bom
ambiente necessário, prejudicando um trabalho que pede, pela sua delicadeza e
natural dificuldade, calma, tranqüilidade, união de sentimentos/pensamentos no
ideal de melhor servir com Jesus. - é desconsideração, falta de caridade expor dramas pessoais dos
comunicantes que estão ali necessitados do auxílio fraternal, discrição,
respeito e consideração.
IV – Dentro desse tema, conforme a finalidade a que se destinam, podemos
estudar as reuniões mediúnicas em dois momentos:
a) reuniões de educação da mediunidade
b) reuniões de reequilíbrio emocional ou desobsessão
a) Da necessidade e importância da educação mediúnica, aprofundam-se,
continuam, aqui os raciocínios abordando “O Livro dos Médiuns” quando Allan
Kardec inicia-o com a interrogação – “Há Espíritos?” Daí decorre toda uma
análise, pois se como iniciante ou interessado no Espiritismo, não entender,
aceitar esse questionamento, como prosseguir para formação de uma consciência no
real objetivo do trabalho? Como levar alguém a se preparar, se empenhar para
comunicar-se com Espíritos se não se acredita na existência deles?
Para adentrar na atividade mediúnica e educar a faculdade temos que conhecer
o que é o Espiritismo, para que se desenvolvam ou decorram a orientação, o
conhecimento, aceitação e entendimento do fato mediúnico.
Será nesse processo, verdadeira série, seqüência de acontecimentos, onde um
fato vai abrindo campo para outro que vai se aprofundando, apresentando-se
nuances várias, onde o médium, o participante vai aprendendo a lidar com seus
esgares, trejeitos, na busca de um comportamento educado que substitui as
comunicações ruidosas, espalhafatosas, pelo intercâmbio equilibrado.
Apresentando-se um Espírito turbulento o médium sabe filtrar a comunicação; se o
Espírito é vulgar, não usará linguajar grosseiro.
Poder-se-á questionar – mas nesse caso não estará o médium interferindo na
comunicação? De modo algum – se por exemplo, enviamos um recado a alguém com
expressões vulgares, sendo o portador, pessoa digna, apresentará a mesma
mensagem, com palavras equivalentes, mas não chocantes ou deselegantes.
Será ainda nesse preparo que o médium, o trabalhador entenderá a seriedade do
trabalho – a necessidade do preparo pessoal, da serenidade, ordem, disciplina,
assiduidade, importância, alcance e relevância do compromisso assumido, do trato
fraterno entre todos, sem prevenções ou ciúmes, detalhes aparentemente sem
importância, mas que se constituem como condição fundamental para o êxito do
empreendimento.
À medida que essas experiências vão se renovando, que o médium vai
trabalhando consigo, começa a exteriorizar-se no modo de ser mais responsável,
traduzidas em assiduidade, disciplina, interesse que indicam estar a caminho
para num futuro ser encaminhado para as reuniões convencionais de mediunidade.
Será ainda nessas reuniões de educação mediúnica, que aqueles que irão
conversar com os Espíritos, aprendem, desenvolvem, educam a técnica do saber
ouvir, do falar pouco, do dar chance ao outro para que fale da sua dor ou
revolta, interferir, entrar, perguntar na hora certa, levando o Espírito a
descobrir a raiz da própria dor, e, nesse momento, ele, Espírito desejará
saber como poderá ser ajudado, como fazer para libertar-se de situações tão
sofridas.
Essa técnica, esse modo se aprende, na análise, na discussão, nas avaliações,
nas trocas uma vez que sem isso, num primeiro momento, tão logo o Espírito se
manifeste, tendemos a chamá-lo de irmão, falar-lhe de Deus nosso Pai, de Jesus,
dos princípios doutrinários, da importância da prece, à alguém que, não só não
está interessado, como vive em meio a dores que atribui justamente a um Deus
injusto que ainda privilegia seu antagonista, o causador de seus males. Não está
interessado em um Jesus que nunca se ocupou dele, de alguém desconhecido que o
chama de irmão. Tais colocações, exacerbam, irritam, afastam, somam problemas à
situação já existente. Aprende ainda a trabalhar com aqueles que se apresentam
de forma inconveniente, discutidores nas comunicações demoradas em diálogos
inconseqüentes a prejuízo do tempo em que poderia ser usado no atendimento de
tantos outros necessitados.
Todas essas diretrizes, a educação mediúnica, contida principalmente em “O
Livro dos Médiuns” assim como em outros autores específicos do assunto, formam o
cabedal de conhecimento/prática que configuram o bom médium, aquele que se
qualifica para as reuniões mediúnicas nos trabalhos de socorro espiritual/desobsessão.
Bibliografia:
- Celeiro de Bênçãos – D. P. Franco, pág. 33
- Pureza Doutrinária – Ari Lex – cap. I – VI
- Diretrizes de Segurança – D. P. Franco/J. Raul Teixeira – cap. II
- Reuniões Mediúnicas – Therezinha de Oliveira
- Diálogo com as Sombras – H. C. Miranda
- Conduta Espírita – A. Luiz/W. Vieira
- O Livro dos Médiuns – 2.ª parte
- Mediunidade – D. P. Franco
(Jornal Verdade e Luz Nº 170 de Março de 2000)