Hodiernamente, percebemos, alardeados pela mídia e procurado por muitos, um
sem número de rótulos religiosos que se ajustam ao conceito kantiano em relação
à religião da petição de favor. Crenças dessa índole não vêem necessidade da
melhoria íntima da criatura humana, bastando realizar as ofertas pecuniárias e
as rezas próprias para cada favor almejado, seja a remissão de pecados, seja um
qualquer bem material.
Utilizando-se desse atávico pensamento humano diante do transcendente, grande
número de oportunistas, esquecendo-se das promessas frente ao ideal do Mestre,
quando na erraticidade, há pouco tempo, arvoram-se em “pastores do rebanho de
Deus”, tornando-se, em verdade, estelionatários da fé, pois com o campo de
atuação amplificado pelos meios eletrônicos, lançam mão de expedientes
reprocháveis, a fim de concretizar o que podemos chamar de simonia pós-moderna.
Conhecendo as propostas luminíferas da Doutrina Espírita e levando em conta
as classificações kantianas, em relação às formas de compreensão do religioso,
vemo-la como perfeito arcabouço teórico-prático de finalidade religiosa que,
indubitavelmente, é possuidora de caráter moral, geradora de fé racional,
coerentemente adquirida através de ação reflexiva. Ao profitente é dada a tarefa
de conhecer as Leis do Criador, conhecer-se na condição de co-criador e, a
partir disso, buscar trilhar o melhor caminho para alcançar a sabedoria e a
felicidade daí advindas.
À criatura que procura instruir-se com o saber teórico, compreendendo
conceitos forjados pelas mais lúcidas mentes da humanidade, encarnadas ou não, é
facultada uma elevada compreensão de Deus, da natureza e do Espírito.
Adita-se, na religião moral, nesse caso o Espiritismo, a necessidade da
iluminação do fiel, adquirida nos campos de atuação da vida, no cotidiano das
lutas ásperas, nas dificuldades constantes, pondo em prática seus saberes,
demonstrando sua transformação interior. Iluminada, a criatura esparge beleza,
ternura e amor, virtudes angariadas pela alma que se alça à moral do Cristo em
cada atitude.
A fé que reflete, proposta pela Doutrina Consoladora, é essencialmente
concreta, fortalecida pela razão que a elabora sobre bases firmes, porquanto se
forja no interior do ser e não em sua superfície.
A fé construída no íntimo, a partir da diretiva moralizante, descrucifica
Jesus, visto que não necessita de seu martírio para redimir pecados, ou plasmar
complexos de culpa perturbadores.
A fé que reflete se apóia na mensagem do Cristo, nas Suas ações, pois tem
Nele o mais puro exemplo de como bem proceder, percebendo-O como Entidade Solar,
sublime Modelo e Guia de toda a humanidade.
(Jornal Mundo Espírita de Setembro de 2001)