Na antiguidade grega não havia divergência entre Ciência e Religião, mesmo
porque a Ciência não existia nos moldes como a vemos hoje, ou seja, no seu
sentido positivo de provas e contraprovas. A luta era entre a Filosofia e a
Religião. É que os primeiros filósofos queriam combater a mitologia pelo advento
da deusa razão. Contudo, já naquela época surgiram alguns filósofos, tais como,
Platão e Aristóteles que tentam conciliar a razão com o mito. Em Platão, o mito
da caverna e o mito da reminiscência das idéias. Em Aristóteles, a razão
perfeita chamava-se Deus, e de acordo com o seu pensamento, se a razão
afastava-se da religião natural era para fundar, sobre o conhecimento da própria
natureza, uma religião mais verdadeira.
A Idade Média, período que se estendeu por quase mil anos, caracterizou-se
pela administração religiosa dos eventos humanos. A Igreja, no topo do poder,
ditava as regras; a Filosofia e a Ciência obedeciam-na. Aqueles que contrariavam
os dogmas religiosos eram excomungados e, muitos deles, tiveram suas cabeças
decepadas. A Escolástica, utilizando-se da lógica aristotélica e todos os seus
silogismos, fizeram da simplicidade do Cristo um campo de disputas filosóficas,
longe da compreensão dos menos letrados. Aos críticos respondiam com a criação
da sua dogmática em que conciliavam fé e razão. Não é de se estranhar que esse
processo de se encarar a religião pudesse permanecer eternamente.
Renascença, período pós-Idade Média, é o reflorescimento de tudo o que estava
incubado. Filosofia e Ciência adquirem vidas próprias. A primeira tratou da
condução lógica do pensamento; a segunda, tornou-se teórica-experimental. Nesse
sentido, o dogma da Igreja é substituído pelos conhecimentos obtidos através da
metodologia científica. A descoberta do telescópio e a invenção da imprensa
muito contribuíram para os avanços tecnológicos ocorridos nestes últimos
séculos. A autoridade divina é posta em cheque. Por isso, a luta que se travou e
ainda se trava entre ciência e religião.
4. RELIGIÕES HISTÓRICAS
As idéias religiosas estão presentes em todos os povos e em todos os estádios
culturais. Certas religiões recrutam seus adeptos apenas dentro de um grupo
determinado, p. ex., uma tribo ou aldeia: são as chamadas religiões tribais e
nacionais. Isso deve-se ao fato de que as nações e hábitos religiosos estão
estreitamente vinculados a uma forma cultural muito peculiar que não se torna
compatível com as vigências em outras partes. Outro motivo pode ser a crença de
que os deuses a quem se adora exclusivamente se preocupam com o grupo humano que
pratica tal religião. Podem ser classificadas nesse grupo não só as religiões
primitivas, como também outras como o confucionismo e o taoísmo,
na China, o xintoísmo e suas numerosas seitas no Japão, e o judaísmo.
Denominam-se religiões universais as que recrutam seus adeptos por todo o
mundo. As principais são o cristianismo, o islamismo e o
budismo, que, através de missionários, difundiram-se longe de seus países de
origem. O hinduísmo constitui um tipo intermediário. Hindu autêntico só
se é por nascimento; no entanto, os atuais movimentos reformistas do hinduísmo
procuram fazer com que suas verdades sejam conhecidas fora de seus pais.
5. O CRISTIANISMO
O Cristianismo surge na confluência do misticismo oriental, do
messianismo judeu, do pensamento grego e do Universalismo romano. O núcleo da
doutrina cristã é a fé num Deus revelado como Trindade, o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, crença comum a todas as igrejas. É uma religião monoteísta que
coloca em primeiro plano a comunhão com Deus, o Pai, por intermédio de seu filho
Jesus Cristo, o Salvador da Humanidade.
O Cristianismo, religião dos cristãos, está centrado na vida e obra de Jesus
Cristo. À semelhança de Sócrates, Cristo não nos deixou nada escrito. Seus
ensinamentos são anotados pelos apóstolos e passam, mais tarde, a constituir os
Evangelhos. A palavra Evangelho, no singular, representa a unidade do pensamento
de Jesus, ou seja, o alegre anúncio; no plural, a diversidade de interpretação
dos evangelistas. Por isso, dizemos o Evangelho segundo Mateus, o Evangelho
segundo Lucas, o Evangelho segundo Marcos e o Evangelho segundo João.
6. A RELIGIÃO COMO SISTEMA
Alguns autores, como Émile Durkheim, Mircea Eliade e Claude Lévi-Strauss,
enfatizaram todos a idéia de que a religião corresponde a certas estruturas
profundas. Embora contrários em muitos pontos de vista, o que há de comum
principalmente entre Mircea Eliade e Claude Lévi-Strauss é que ambos valorizam
as “regras” segundo as quais a religião é construída e, portanto, o seu caráter
sistêmico; e ambos ressaltam a autonomia da religião em relação à sociedade.
Como traduzir para a prática a noção vaga de que a religião é um sistema? “No
caso dos dogmas cristãos, é impossível saber (empiricamente) se Jesus Cristo
pertence à mesma categoria de Deus Pai ou se lhe é inferior e, se não for nenhum
desses o seu caso, qual é a relação hierárquica exata entre os dois.
Mas é perfeitamente possível predizer, se forem conhecidos os dados do
sistema (neste caso, que há uma Trindade divina composta por três “pessoas” ou,
pelo menos por três membros que têm nomes individuais), todas as soluções
possíveis para o problema, as quais, na realidade, não são em absoluto
“históricas” (embora tenham sido enunciadas por personalidades distintas em
épocas distintas), pois estão sincronicamente presentes no sistema” (Eliade,
1994, p. 18-20)
7. VISÕES E REVELAÇÕES
Os fundadores de religiões tinham revelações e visões nas quais o próprio
Deus os chamava a atuar. Deus revelou-se a Moisés numa sarça que ardia. Quando
Paulo foi chamado por Jesus, no caminho de Damasco, cegou-o um resplendor
celestial. Maomé encontrou-se com o arcanjo Gabriel, que o reteve sem soltar,
até que ele lhe prometeu seguir o seu mandato de reconhecer a vontade de Alá.
8. A MÍSTICA
A mística do grego mystica, de myo, eu calo é o termo
utilizado para retratar a atividade que produz o contato da alma individual com
o princípio divino. O modelo do pensamento místico é baseado no retiro de mundo,
ou no desligamento das coisas do mundo e no da união com Deus para receber suas
luzes.
A iluminação súbita pode ser verificada pesquisando a biografia dos grandes
pensadores. O filósofo Sócrates que viveu no século V a. C. teve seu insight
depois de uma visita que fizera ao Oráculo de Delfos, quando, a partir daí,
passou a ensinar o conteúdo da autoconsciência do homem. René Descartes
(1596-1650) teve sonhos que lhe indicaram sua missão divina: construir o método
para a nova ciência. O íntimo da maioria dos grandes pensadores mostra essa
relação com o divino.
O retiro do mundo marca o modo e vida dos religiosos. Hugo de São Vitor
distinguia cinco graus ascéticos: primeiro, lectio ou doutrina; segundo,
a santa meditação; terceiro, a oração; quarto, a operação;
quinto, a contemplação. Em França, no século XVII, funda-se o Oratório,
uma instituição religiosa, cujo objetivo era não uma Doutrina Comum mas uma
tendência comum para a vida interior e mística, concedendo aos seus adeptos a
liberdade mais completa de reverenciar Deus.
Durante o período da Idade Média, alguns cristãos mais ou menos isolados e,
por vezes, suspeitos, foram chamados místicos, porque haviam reivindicado, para
a consciência individual, o direito de comunicar diretamente com Deus, pondo de
lado intermediários filosóficos e mesmo teológicos.
9. ESOTÉRICO E EXOTÉRICO
Esotérico – do grego esotericos significa ensinamento que, em
escolas filosóficas da Antigüidade grega, era reservado aos discípulos
completamente instruídos. Exotérico – do gr. Exotericos, pelo lat.
exotericu ensinamento, que nestas mesmas escolas, era transmitido ao
público sem restrição, dado o interesse generalizado que suscitava e a forma
acessível em que podia ser expresso, por se tratar de ensinamento dialético.
O par de termos “esotérico/exotérico“, corresponde à oposição entre
interno-externo, secreto-público, reservado-profano, privilegiado-popular e
semelhantes. Dos dois termos, o esotérico é o mais significativo porque acentua
o aspecto positivo da relação, ou seja, o âmbito propriamente reservado e
secreto. A antítese evoca essencialmente o privilégio de alguns e a exclusão de
outros, um critério de seleção e de discriminação para com uma massa
indiferenciada e a favor de poucos eleitos.
Desde as sociedades primitivas até os nossos dias, a oposição
esotérica/exotérica está presente no seio da sociedade. O clã, ao transformar-se
em tribo, é o primeiro característico desta antítese. Na Grécia antiga, os
mistérios elêusicos e órficos são fundamentais para a distinção entre o sagrado
e o profano. A formação de várias sociedades secretas, tais como a cabala, a
rosa-cruz, a maçonaria e a própria teosofia corroboram a tese do hermetismo e
sua veiculação somente aos iniciados.
10. VIVÊNCIA RELIGIOSA
Vivência religiosa é caracterizada pelo sentimento de dependência do
crente em relação ao Ser Supremo. Desde a Antiguidade até os nossos dias,
manifesta-se sob vários matizes: ora menos racional, ora mais. Contudo, sempre
imerso num mundo sobrenatural, estigmatizado pelo amor e pelo temor.
Os propagadores das religiões primitivas apoiavam-se nas músicas barulhentas,
nas danças e nos rituais para incutir, primeiramente, o medo e depois, o
êxtase, aos assistidos. No Cristianismo, o temor é representado
pela obediência à Lei de Moisés; o amor, pela crença no Evangelho. Essa
dualidade pode ser melhor visualizada pela criação do diabo, contrapondo-se ao
Deus de misericórdia e de bondade.
A vivência religiosa profunda imprime sua marca às relações do crente com o
próximo e a sua própria vida. Quem procura afastar-se do mundo e entregar-se à
divindade escolhe uma vida recolhida na meditação e no ascetismo. As religiões
que colocam o homem debaixo do amor de Deus acentuam especialmente os deveres
para com o próximo e fomentam uma atividade voltada para o mundo exterior. Essa
atitude pode ser ilustrada com a parábola evangélica sobre o “bom samaritano”.
A diferença fundamental entre as diversas crenças reside no caráter da
vivência religiosa básica. O budista considera todo o tipo de vida como um
sofrimento absoluto. Na essência do cristianismo está o amor de Deus, que nos
impõe condições e estende-se inclusive aos pecadores. A palavra árabe “islam”
significa submissão. A vontade de Alá marca toda a existência, e o primeiro
dever do bom crente é submeter-se a ela inteiramente.
Durante as vivências religiosas particularmente profundas, o crente entra em
êxtase. Conta-se que o santo italiano Francisco de Assis, depois de uma
intensa meditação sobre a paixão de Cristo, recebeu em seu corpo as chagas de
Jesus. Essa é a citação mais antiga de uma estigmatização.
11. CONCLUSÃO
Do estudo ora encetado, cabe-nos distinguir o ser religioso do ser
que tem uma religião. Podemos freqüentar uma Igreja, atender à sua ortodoxia
e nem por isso sermos religiosos. O verdadeiro religioso é aquele que pratica a
lei da Justiça, do Amor e da Caridade na sua maior pureza. Nesse sentido,
estejamos cônscios de que não é o “rótulo” religioso que nos salvará, mas o bem
que fizermos ao nosso próximo. Aí está todo o conteúdo doutrinal da religião.
Atendamo-lo e teremos paz de consciência, apesar de todas as tribulações de
nossa alma inquieta.
12. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
- Dicionário das Religiões. São Paulo,
Martins Fontes, 1994. - Enciclopédia Combi Visual.
Barcelona (Espanha), Ediciones Danae, 1974. GIL, F. (Editor). - Enciclopedia Einaudi.
Lisboa, Imprensa Nacional, 1985-1991. - IDÍGORAS, J. L. Vocabulário
Teológico para a América Latina. São Paulo, Edições Paulinas, 1983. - MENDONÇA, E. P. O Socratismo
Cristão e as Origens da Metafísica Moderna. São Paulo, Convívio, 1975.