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Ressurreição ou Reencarnação?

Recebemos um pedido para desenvolver um estudo sobre o tema acima. É o que
tentaremos fazer. Assunto ligado especialmente às crenças religiosas nos leva a
buscar como fonte de pesquisa a Bíblia.

Antigo Testamento

Isaías 26, 19: Os teus mortos e também o meu cadáver viverão e
ressuscitarão
; despertai e exultai, os que habitais no pó, porque o
teu orvalho será como o orvalho das ervas, e a terra lançará de si os mortos.

Daniel 12, 1-2: E naquele tempo se levantará Miguel, o grande
príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de
angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele
tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro. E
muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e
outros para vergonha e desprezo eterno
.

Oséias 6, 1-2: Vinde, e tornemos ao Senhor, porque ele despedaçou,
e nos sarará; feriu, e nos atará a ferida. Depois de dois dias nos dará a
vida; ao terceiro dia nos ressuscitará, e viveremos diante dele.

Podemos constatar que, desde a antiguidade, já se acreditava que um dia
iremos ressuscitar. Entretanto, essa idéia não era muito nítida quanto a sua
abrangência e quanto a época em que ocorrerá a nossa ressurreição.

Daniel, por exemplo, diz que muitos dos que dormem ressuscitarão. Será que
estaria querendo dizer que a ressurreição não seria para todos? Diz mais, que
uns para a vida eterna e outros para a vergonha e desprezo eterno. Não devemos
atribuir a Deus sentimento de desprezo, ainda mais eterno, pois onde ficaria sua
misericórdia que também é eterna? Poderíamos sim, ver aí apenas um simbolismo:
os que irão para a vida eterna são os Espíritos que não necessitam mais da
reencarnação, ao passo que os que irão para a vergonha e desprezo eterno, são os
que ainda permanecerão presos ao ciclo das reencarnações sucessivas, até que um
dia atinjam as mesmas condições dos primeiros. Devemos entender que esse ciclo é
eterno enquanto dure, já que o termo eterno, neste caso, significa um período de
longa duração.

Oséias já nos traz a idéia de uma ressurreição próxima ao da nossa passagem
para o mundo espiritual, para vivermos eternamente diante de Deus. Diferente de
Daniel não faz qualquer tipo de exclusão, como também, não fala de nenhuma
condenação eterna. De sua fala podemos concluir que todos receberemos o prêmio.
Muito embora não seja tão imediato esse estar “vivendo diante Dele”, mas sim,
quando nos tornarmos Espíritos puros, não necessitando mais reencarnar.

Novo Testamento

Mateus 14, 1-2: “Por aquela mesma época, o tetrarca Herodes ouviu
falar de Jesus. E disse aos seus cortesãos: “É João Batista que ressuscitou. É
por isso que ele faz tantos milagres”.

Mateus 16, 13-14: “Chegando ao território de Cesaréia de Felipe,
Jesus perguntou a seus discípulos: “No dizer do povo, quem é o Filho do homem?”
Responderam: “Uns dizem que é João Batista; outros, Elias; outros, Jeremias ou
um dos profetas”

Temos agora, a primeira idéia que faziam da ressurreição é o que denominamos
de reencarnação. Se pensavam que Jesus poderia ser João Batista, Elias, Jeremias
ou um dos profetas, é porque, sem sombra de dúvidas, acreditavam que alguém
morto poderia voltar em outro corpo, não há como fugir dessa verdade.
Entretanto, neste caso específico, Jesus só não poderia ser João Batista
reencarnado, pois eles viveram na mesma época.

Mateus 11, 14: “E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia
voltar”.

É uma afirmação positiva de Jesus. Ao falar que João Batista era o Elias,
Jesus diz em outras palavras, e numa expressão mais simples, que João Batista
era o Elias reencarnado. A expressão “devia voltar” pode-se muito bem entender
que estaria querendo dizer “devia ressuscitar”.

Mateus 28, 5-6: Mas, o anjo disse às mulheres: “Não temais! Sei que
procurais a Jesus que foi crucificado. Não está aqui: ressuscitou como disse”.

Comprovação evangélica de que a ressurreição, como voltar à condição de
espírito existe, e ninguém contesta tal possibilidade. Seria a segunda idéia que
tinham a respeito da ressurreição.

Já que a ressurreição aqui narrada não se trata da dita ressurreição do final
dos tempos, podemos concluir, sem medo de errar, que naquela época, acreditavam
em dois tipos de ressurreição. Hoje compreendemos estes dois tipos da seguinte
forma: um imediato quando, pela morte do nosso corpo físico, voltamos à condição
de Espírito; outra no final dos tempos quando, finalmente sairmos do ciclo da
reencarnação tornando-nos espíritos puros.

Mateus 9, 18-19 e 23-26: “Falava ele ainda, quando se apresentou um
chefe de sinagoga. Prostrou-se diante dele e lhe disse: “Senhor, minha filha
acaba de morrer: Mas vem, impõe-lhe as mãos e ela vivera”. Jesus levantou-se e o
foi seguindo com seus discípulos. Chegando à casa do chefe da sinagoga, viu
Jesus os tocadores de flauta e uma multidão alvoroçada. Disse-lhes:
“Retirai-vos, porque a menina não está morta; ela dorme”. Eles, porém, zombaram
dele. Tendo saído a multidão, ele entrou, tomou a menina pela mão e ela
levantou-se. Esta notícia espalhou-se por toda a região”.

Lucas 7, 11-16: “No dia seguinte dirigiu-se Jesus a uma cidade
chamada Naim. Iam com ele diversos discípulos e muito povo. Ao chegar perto da
porta da cidade, eis que levavam um defunto a ser sepultado, filho único de uma
viúva; acompanhava-a muita gente da cidade. Vendo-a o Senhor, movido de
compaixão para com ela, disse-lhe: “Não chores!” E aproximou-se, tocou no
esquife, e os que o levavam, pararam. Disse Jesus: “Moço, eu te ordeno,
levanta-te”. Sentou-se o que estivera morto e começou a falar, e Jesus
entregou-o à sua mãe”.

Estes dois casos de ressurreição poderiam muito bem serem idênticos aos que
ainda acontecem nos dias de hoje. Apesar de todo o avanço da Medicina do Século
XX ela também se engana. Vejam o que foi registrado pelo Jornal “O Estado de
Minas” na coluna “Um dia no Mundo”:

Em 01.11.94 – Título: Ex-defunto

“Uma religiosa budista de 71 anos provocou pânico entre os sacerdotes
presentes em seu enterro, quando acordou em meio a seu próprio funeral, depois
de ter parado de respirar durante 24 horas, informou ontem uma fonte de Bangcoc.
A ex-defunta foi levada então para um hospital e estava bem viva e em boa saúde,
segundo declarou um médico, explicando que a religiosa sofrera um ataque de
diabetes e perdido os sentidos (mas nada disse sobre o fato de ele ter parado de
respirar)”.

Em 18.04.96 – Título: Ressurreição

“A britânica Maureen Jones, 59 anos, foi oficialmente declarada morta por
um médico depois de sofrer um ataque de diabetes. Momentos depois, cumprindo
função de rotina, policiais examinaram o corpo e, mexendo em suas pernas, a
ressuscitaram. Este foi o segundo caso deste tipo neste ano na Grã-Bretanha. Em
janeiro, a mulher de um fazendeiro, Daphne Banks, 61 anos, foi encontrada viva
dentro de um necrotério, na região central do país, depois que um médico a
declarou morta. Mais tarde, Daphne disse que estava tentando se matar”.

Se nos dias atuais ainda acontece isso, imaginem antigamente, quando a
Medicina não conhecia tais fenômenos. Era, ou não era, para tê-los como milagre?
Observar que no caso da filha de Jairo, Jesus chegou a dizer “a menina não está
morta; ela dorme”, assim houve, na verdade, uma cura, não uma ressurreição
propriamente dita.

João 11, 1-44: Ora, estava enfermo um homem chamado Lázaro, de
Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. E Maria, cujo irmão Lázaro se
achava enfermo, era a mesma que ungiu o Senhor com bálsamo, e lhe enxugou os pés
com os seus cabelos. Mandaram, pois, as irmãs dizer a Jesus: Senhor, eis que
está enfermo aquele que tu amas. Jesus, porém, ao ouvir isto, disse: Esta
enfermidade não é para a morte
, mas para glória de Deus, para que o Filho de
Deus seja glorificado por ela. Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a
Lázaro. Quando, pois, ouviu que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar
onde se achava. Depois disto, disse a seus discípulos: Vamos outra vez para
Judéia. Disseram-lhe eles: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te,
e voltas para lá? Respondeu Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém andar
de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo; mas se andar de noite,
tropeça, porque nele não há luz. E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro,
o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.
Disseram-lhe, pois, os
discípulos: Senhor, se dorme, ficará bom. Mas Jesus falara da sua morte;
eles, porém, entenderam que falava do repouso do sono. Então Jesus lhes disse
claramente: Lázaro morreu;
e, por vossa causa, folgo de que eu lá não
estivesse, para que creiais; mas vamos ter com ele. Disse, pois, Tomé, chamado
Dídimo, aos seus condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.
Chegando, pois Jesus encontrou-o já com quatro dias de sepultura. Ora, Betânia
distava de Jerusalém cerca de quinze estádios.E muitos dos judeus tinham vindo
visitar Marta e Maria, para as consolar acerca de seu irmão. Marta, pois, ao
saber que Jesus chegava, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou sentada em
casa. Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não
teria morrido. E mesmo agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to
concederá. Respondeu-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir. Disse-lhe Marta: Sei
que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia. Declarou-lhe Jesus: Eu
sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo
aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto? Respondeu-lhe Marta:
Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao
mundo. Dito isto, retirou-se e foi chamar em segredo a Maria, sua irmã, e lhe
disse: O Mestre está aí, e te chama. Ela, ouvindo isto, levantou-se depressa, e
foi ter com ele. Pois Jesus ainda não havia entrado na aldeia, mas estava no
lugar onde Marta o encontrara. Então os judeus que estavam com Maria em casa e a
consolavam, vendo-a levantar-se apressadamente e sair, seguiram-na, pensando que
ia ao sepulcro para chorar ali. Tendo, pois, Maria chegado ao lugar onde Jesus
estava, e vendo-o, lançou-se-lhe aos pés e disse: Senhor, se tu estivesses aqui,
meu irmão não teria morrido. Jesus, pois, quando a viu chorar, e chorarem também
os judeus que com ela vinham, comoveu-se em espírito, e perturbou-se. E
perguntou: Onde o puseste? Responderam-lhe: Senhor, vem e vê. Jesus chorou.
Disseram então os judeus: Vede como o amava. Mas alguns deles disseram: Não
podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também que este não morresse?
Jesus, pois, comovendo-se outra vez, profundamente, foi ao sepulcro; era uma
gruta, e tinha uma pedra posta sobre ela. Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta,
irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque está morto há quase
quatro dias. Respondeu-lhe Jesus: Não te disse que, se creres, verás a glória de
Deus? Tiraram então a pedra. E Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai,
graças te dou, porque me ouviste. Eu sabia que sempre me ouves; mas por causa da
multidão que está em redor é que assim falei, para que eles creiam que tu me
enviaste. E, tendo dito isso, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora! Saiu o
que estivera morto, ligados os pés e as mãos com faixas, e o seu rosto envolto
num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o e deixai-o ir”.

Se Jesus disse: “esta enfermidade não é para a morte” reafirmando, por
essa outra, que “Lázaro, nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono”
ora, essas duas afirmativas, estariam em contradição com a seguinte: “Então
Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu”.
Como não aceitamos que Jesus
tenha se contradito, preferimos acreditar que houve uma interpolação ao texto
original, para reforçar a idéia da ressurreição da carne, coisa que Jesus nunca
ensinou, já que falava da ressurreição espiritual. Paulo confirma isso ao dizer
que: “Irmãos, garanto o seguinte: a carne e o sangue não podem herdar o reino
de Deus, nem o que é destrutível herdar a indestrutibilidade”
(1 Coríntios
15, 50).

Mateus 22, 23-32: “Naquele mesmo dia, os saduceus, que negavam a
ressurreição, interrogaram-no: “Mestre, Moisés disse: Se um homem morrer sem
filhos, seu irmão case-se com a sua viúva, e dê-lhe assim uma posteridade. Ora,
havia entre nós sete irmãos: o primeiro casou-se e morreu. Como não tinha
filhos, deixou sua mulher ao seu irmão. O mesmo sucedeu ao segundo, depois ao
terceiro, até ao sétimo. Por sua vez, depois deles todos, morreu também a
mulher. Na ressurreição, de qual dos sete será a mulher, uma vez que todos a
tiveram? Respondeu-lhes Jesus: Errais, não compreendendo as Escrituras nem o
poder de Deus. Na ressurreição, os homens não terão mulheres, nem as mulheres
maridos: mas serão como os anjos de Deus no céu. Quanto à ressurreição dos
mortos, não lestes o que Deus vos disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de
Isaac e o Deus de Jacó. Ora, ele não é o Deus dos mortos, mas Deus dos vivos”.

Nessa passagem Jesus nos traz a idéia de que a ressurreição é mesmo a
espiritual. É pensamento comum, principalmente, nas religiões dogmáticas que
iremos ressuscitar de corpo e alma no final dos tempos. Isso não condiz com
aquele ensinamento de Jesus.

Aliás, perguntamos: se os homens não terão mulheres, nem as mulheres maridos,
qual a necessidade de ressuscitarmos neste mesmo corpo físico? Não seremos como
os anjos do céu? E já que se diz que “anjo não tem sexo”, então qual seria
utilidade do corpo físico no plano espiritual? Se nós seremos iguais aos anjos
do céu é por que os anjos já foram homens? Se Deus, na criação, criou também os
anjos, como poderemos distinguir o anjo que foi criado do que foi um homem?

Anjos, para nós Espíritas, nada mais são que Espíritos Puros, ou seja,
espíritos humanos que evoluíram, os que não mais necessitam reencarnar, são os
que “vivem diante Dele”.

E, para concluir nosso estudo, perguntamos qual das duas hipóteses –
ressurreição do corpo ou ressurreição do espírito – estaria mais próxima do
reconhecimento da Ciência? Mas, antes de respondermos, teremos que reafirmar:
tudo que a ciência vier a descobrir as leis que regulam qualquer tipo de
fenômeno, coisa ou situação, ela estará comprovando, na verdade, as leis
divinas, já que tudo que existe no Universo é obra de Deus.

A ciência diz que nosso corpo é composto principalmente de oxigênio,
hidrogênio, azoto e carbono que se combinaram para formá-lo, mas uma vez
morrendo e se decompondo, esses elementos vão para novas combinações formar
novos corpos minerais, vegetais e animais (aqui incluindo o homem). Assim, não
haverá a mínima possibilidade de voltarmos ao mesmo corpo que tínhamos quando
vivos.

Está em plena expansão a TVP – Terapia de Vidas Passadas. Ainda não se pode
dizer que é uma ciência, mas mais cedo do que muitos pensam, estará no rol dela.
Bom, a TVP é um processo que, por hipnose ou relaxamento profundo, o terapeuta
utiliza para levar o indivíduo às suas vidas passadas, buscando nelas as causas
determinantes dos atuais problemas daquele indivíduo. Cada vez mais encontramos
médicos, psiquiatras e psicólogos lançando mão deste recurso terapêutico para
cura de seus pacientes. Embora não seja uma de suas metas provar a reencarnação,
fatalmente chegarão a isso.

Além da TVP, encontramos também pesquisas sendo realizadas com métodos
científicos buscando a comprovação dos fatos relatados por crianças que se
lembraram espontaneamente de uma vida anterior.

Por outro lado, se entendermos ressuscitar como fazer voltar à vida; reviver;
ressurgir, como consta do Aurélio e considerando o que se diz popularmente de
ressurreição da carne ou, algumas vezes, de ressurreição na carne, podemos
perceber duas situações para que isso ocorra. A ressurreição na carne
significa voltar a viver em um novo corpo, ou seja, é o que nós denominamos de
reencarnação. Já ressurreição da carne, seria a saída definitiva do
Espírito do ciclo da ressurreição na carne, para viver sua plena vida de
Espírito imortal.

Paulo da Silva Neto Sobrinho

Setembro/2001