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Revendo o significado do Natal

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Enéas Canhadas

A época do Natal é, ao mesmo tempo alegre e compõe-se de dias em que se renovam os votos de alegria para o ano novo além de inspirar uma fraternidade universal. É também uma época de conturbações emocionais, muita melancolia e tristeza. Muitas pessoas buscam os consultórios de Psicologia e os prontos socorros espirituais e emocionais nestes últimos dias do ano. Torna-se comum ouvir das pessoas que o Natal é uma data muito triste e de muita solidão.

Na verdade, a comemoração natalina nos traz uma atmosfera de que nada mais há para acontecer. Afinal de contas, o ano já acabou praticamente, e portanto nos vêm à mente muitas coisas que fizemos ou que aconteceram, também nos preenche a mente as coisas que não aconteceram ou que não se deram de acordo com os nossos desejos. Assim, vamos aproveitar para pensar um pouco se os nossos desejos não realizados são decepções que tivemos com Deus, pois afinal de contas, contávamos que Ele realizaria as nossas esperanças ou se, na verdade, gostaríamos de poder dizer quanto Deus foi especial para nós e nos concedeu este ou aquele desejo e até mesmo, este ou aquele milagre. Se realizarmos um exame de consciência, talvez descubramos que gostaríamos mesmo, neste Natal é de contar para todo mundo que Deus nos concedeu privilégios, ou quem sabe o Papai Noel dos Céus nos teria feito uma concessão ou uma deferência muito especial, muito evidente e de modo a poder atestar um tratamento inconfundível de exclusividade d’Ele para conosco. Talvez quiséssemos, neste Natal, poder nos orgulhar perante todas as pessoas, crenças e toda a fé de que Deus nos atendeu pessoalmente, todas as orações que elevamos até aos céus! Talvez assim, pudéssemos nos envaidecer de possuir um Deus que nos distinguiu, concedendo-nos um favor. Talvez, de dentro das nossas vaidades tão comuns, desejássemos concluir mais um ano podendo atestar que a nossa foi divinamente recompensada!

Desta maneira podemos observar que vivemos em busca de oportunidades que nos contemplem com a experiência de sermos pessoas especiais, inclusive para Deus. Buscamos privilégios, precisamos de estima e consideração, necessitamos ser agraciados com a realização de verdadeiros milagres para nos confirmar como filhos de Deus, tratados com distinção e apreço, sermos laureados para que a nossa identidade seja reconhecida no próprio espelho da vida. Sermos considerados um pouco melhores do que os outros, nos dá uma segurança que nos coloca mais perto de Deus. Não é sem razão que David, rei de Israel, num dos seus famosos Salmos, o de número 8, cantou “que é o homem, que dele te lembres? e o filho do homem, que o visites? fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus, e de glória e de honra o coroaste” precisando reconhecer que era apenas um pouco menor do que Deus, provavelmente num dos momentos em que necessitava ter reconhecida a sua dignidade pessoal.

Na verdade, faz parte dos desejos humanos, dos nossos almejos, tudo o que esperamos como crianças espirituais que somos, latentes e carentes de Deus. No entanto é preciso passar os nossos desejos por alguns crivos necessários, verdadeiros e por isso mesmo, nem sempre tão agradáveis a nós.

Primeiramente o teste do não acredito: é a tentativa de negar que algo esteja acontecendo a nós. Não querer acreditar é uma tentativa de constatar que, talvez esteja sonhando ou que tal coisa não esteja acontecendo conosco, mas é preciso olhar com lucidez e discernimento quando algo nos acontece e quando acontece com os outros. Se algo nos toca diretamente é sinal de que existe ali uma tarefa nossa, apenas e tão somente nossa para que seja realizada. É a responsabilidade da tarefa que nos distingue.

Em seguida, fazemos ainda uma outra tentativa, o teste do por quê eu que é mais uma tentativa de supor que a nós aquele fato não deveria ocorrer. No entanto, se não acontecer a nós, a quem então deveria ocorrer? A quem desejaríamos que passasse pela experiência em nosso lugar? Nas horas em que temos difíceis aprendizados pela frente, temos uma tendência de entender que estamos sendo alvos de alguma injustiça. E as leis de Deus são justas, não porque nos dão uma punição de acordo com a nossa falta, essa é a justiça dos homens. As leis de Deus são justas, porque os aprendizados são adequados e não existe outra forma de deixar de ser criança espiritual, isto é, não existe outra maneira de perdermos a inocência para aprimorar o auto conhecimento.

 Depois, vem o teste do não é possível porquê pressentimos que passar por tal e tal aprendizado, é uma coisa muito difícil. Não é possível, nos faz entender que para nós deveria ou bem que poderia acontecer uma outra coisa, não aquela, como se Deus tivesse errado no julgamento. Deus não erra nos julgamentos porque ele não julga. As leis naturais são a perfeição da harmonia com Deus. Como Moisés que, ao receber a missão de libertar o povo de Israel dos Egípcios, diz a Deus que era pequeno e fraco de língua para que pudesse conversar com o Faraó.

 Depois, ainda tentando nos manter inconformados, vem o teste do não mereço. Da mesma maneira que, muitas vezes, duvidamos das coisas boas que nos acontecem, por não nos julgarmos merecedores, também pensando que não merecemos o mal, estamos agindo como culpados e condenados, questionando a pena que nos foi imposta ou o castigo que os céus nos enviaram. É importante notar que não se trata nem de pena nem de castigo. Não somos Espíritos pagadores de promessas ou de Espíritos em permanente penitência. Somos Espíritos em constante aprendizado. Não se trata de ser merecedor ou não, trata-se de ser necessário viver determinadas experiências. O metal não pergunta para o fogo se tem mesmo que passar por ele para ser purificado, assim como a água não questiona o filtro que vai torná-la mais pura.

Por último ainda vem o teste do ressentimento. É muito fácil nos portarmos como ressentidos se: primeiro não acreditamos, se depois perguntamos por quê eu, se achamos que não era possível e se por fim não merecíamos castigo ou pena tão pesados. Corremos o risco de, facilmente amarrar o burro, como se diz. Como a própria palavra está dizendo, re + sentimento significa ficarmos sentindo outra vez e outra vez e muitas vezes o que nos aconteceu. Guardar ressentimentos ou assim permanecer é conservar a dor e os sofrimentos. Assim fazendo, não transformamos os sentimentos e ainda ficamos carregando-os pela vida como se fossem sórdidos troféus ou espólio de uma luta que travamos com as nossas resistências, medos, e rigidez.

Transformar sentimentos é procurar separar os fatos da carga emocional que atrelamos aos mesmos. Os fatos são imutáveis, já aconteceram e assim permanecerão na nossa memória. A dor associada a eles é que precisa ser transformada. Compreender, entender que cada Espírito sobre a Terra tem uma trajetória própria e uma história exclusiva e que não nos cabe julgar ou saber o que é melhor ou pior para ninguém, ajuda a ver nos fatos a oportunidade de uma experiência de aprendizado para o outro e talvez uma necessidade sua e assim deixarmos de julgar. Quando choramos pela dor de uma perda de alguém pode ser que não estejamos dispostos a encarar o nosso incômodo de viver sem essa pessoa ou pensamos que não vamos suportar porque, pela nossa vontade, decidimos que esse alguém não poderia nos faltar. Quanta ingenuidade pensar que alguém nos pertence! E quanta imaturidade pensar que Deus está sendo injusto quando nos tira alguém da nossa companhia. As leis de Deus são perfeitas, imutáveis e para todos. O verdadeiro espírito do natal talvez seja o de reconhecermos a maravilha da perfeição de Deus e assim deixar de querer ajudar a Deus.

O problema é que transformamos o Natal numa espécie de aniversário de Deus e sendo assim nos julgamos capazes de fazer uma festa para Ele, tornando-o o nosso amado e perdemos de vista que o Natal tão somente nos lembra do Ser que é amor e que, por isso, nos inspira a renovar esse sentimento dentro de nós.

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