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São Paulo 450 Anos – Ata de Uma Sessão de Efeitos Físicos

São Paulo 450 Anos – Ata de Uma Sessão de Efeitos Físicos

Aos 21 dias do mês de outubro de 1954, com a presença de 29 pessoas, conforme
assinaturas constantes na pág. 95 do livro de presença, realizou-se no INSTITUTO
DE PESQUISAS METAPSIQUICAS do “Grupo Espírita Padre Zabeu”, à Avenida Gen. Olimpio
da Silveira, 331, 1.o andar, sala 14, em São Paulo, uma sessão de efeitos físicos
e de materialização.

Á vista de todos os presentes, no início dos trabalhos, o Sr. José Corrêa Neves,
médium de efeitos físicos, foi, dentro da cabine, devidamente algemado e amarrado
à cadeira. Em seguida, foi corrida uma cortina, fechando a entrada da cabine e apagada
a luz. Dentre os diversos fenômenos anotamos os seguintes: levitação da vitrola;
a troca de discos feita no alto; toque de campainha; movimentação de uma corneta,
que circulou pela sala, e o de voz direta. Os objetos suspendidos no ar, estavam
todos com tinta fosforescente a fim de ser facilitada a visão dos movimentos no escuro.

Todos esses fenômenos foram efetuados pelo espírito conhecido como Geraldo.
Este,
dando provas positivas de se achar materializado em forma tangível, em certo momento
aproximou-se do redator desta ata e, pegando-o pelas mãos, fê-lo levantar-se e encaminhar-se
para junto da mesa onde estava a vitrola. Ao ser conduzido pela entidade, o anotador
da sessão em voz alta ia descrevendo aos circunstantes o que se passava, informando
que sentia o contacto das mãos do espírito e que estas eram normais, apresentando
o calor natural, decorrente da circulação sanguínea … Essa demonstração durou
três minutos, mais ou menos, e depois o espírito reconduziu o anotador ao seu lugar.

Num dado momento o Geraldo começou a conversar com os assistentes.

Uma das senhoras presentes, que passara recentemente pela dor de perder a sua
filhinha, vítima de uma acidente, atribulada pela saudade e, provavelmente, desejando
saber algo sobre a situação dela na vida espiritual, perguntou ao Geraldo se a vira.

Talvez não sabendo ou não podendo explicar detalhes com mais esclarecimentos,
o espírito limitou-se a dizer o seguinte: “Eu vou explicar … Eu não pude vê-la,
mas ela veio me ver … Mas agora, o Vigário veio vê-la”.

Auxiliando o entendimento dos circunstantes, o diretor da sessão informou, de
acordo com o que deduzira das palavras da entidade: “Ela está em ponto intermediário
entre o Geraldo e o Padre Zabeu”.

Durante a conversa a mesma senhora dissera ao espírito: “Geraldo, eu tenho aqui
um botãozinho em flor. Pode levar para a minha filha ?”.

“Logo mais eu pego”, respondeu a entidade.

Depois de palestrar com alguns dos componentes do grupo, o Geraldo deixou a vitrola
tocando a musica “Ave Maria”, a fim de preparar o ambiente para a visita do Espírito
Padre Zabeu.

Essa elevada entidade, ao se manifestar através da corneta de papelão, assim
se expressou:

“Boa Noite. Como vão todos vocês ?

Mais uma vez aqui estamos, certos que o nosso trabalho é reiniciado sobre o critério
de absoluta auto-confiança. Recomeça também a produzir frutos. Hoje nos foi concedida
a presença de inúmeros espíritos que nos visitam, e de cuja hierarquia, posso dizer,
somos imerecedores, dada a evolução de cada um.

Antes, porém, desejava eu que você (diretor da sessão) pronunciasse uma prece
agradecendo mais essa benevolência, que nos foi dada quando mais a necessitamos”.

Após a oração que a seguir fora feita pelo diretor da sessão, a entidade prosseguiu:

“Meus filhos: é realmente extraordinária …”

Neste interim, o Padre sem completar a frase, dirigira a atenção ao espírito
que junto a mesa manejava a vitrola e ordenou: “Geraldo para a vitrola”. Estabelecido
o silêncio, o Espírito Padre Zabeu continuou:

” … a disposição com que todos para cá acorrem na certeza de encontrar um lenitivo
para suavizar não só o sofrimento, como também indicar o caminho que devem seguir
nesta trajetória da vida na terra”.

Ditas estas palavras, a senhora que acima referimos e que se achava ainda sob
forte emoção, interrogou a entidade:

“Padre, já esteve com ela ? …”

Respondendo a mãe da criança, disse o espírito:

“Elza, já tive a oportunidade de estar com ela. Já pude, também, transmitir a
você, através do Rondino e de todos os componentes do grupo, a minha palavra de
fé.

Nesta hora em que você realmente compreende, possam todos sentir e compreender,
também, a necessidade de cada um procurar através dos conhecimentos que adquirem,
reformar-se, não é ?

Tenho observado, em diversas ocasiões, as discussões que vocês travam intimamente
sobre os problemas atinentes à vida espiritual. Observo em cada um a disposição
de procurar, através da prática do bem e do amor, reformar-se aos primeiros contactos
do consciente sobre o inconsciente.

Noto em muitas oportunidades a duvida que paira em cada um, não é, Paulo ? (médico
presente). Mas, também, reconheço a honestidade de propósitos. Este reconhecimento
é, sem duvida, uma maneira de demonstrar que cada um de vocês sente o problema em
seus aspectos diferentes.

A própria natureza do trabalho, as vezes, não satisfaz a todos. Hoje por exemplo,
quase todos estão satisfeitos. E por que ?

É aquele grande problema. É que houve abundância de fenômenos. Eu pergunto: representaria
a expressão máxima dos critérios que regem e determinam esses trabalhos ? …”

Respondendo, em voz alta, o diretor da sessão em poucas palavras afirmou que
a finalidade precípua é a da espiritualização, a de incentivar a reforma individual
e não, exclusivamente a da produção fenomênica.

Confirmando esta assertiva, a entidade prosseguiu dizendo:

“Esta é a expressão dos trabalhos. No entanto, há exatamente o contrário. Eu
assim falo apenas como medida de observância. Entenderam ?

Castro, quando os fenômenos se produzem com mais abundância por determinação,
as vezes, das própria ajuda dos médiuns, verifica-se que a espontaneidade é natural.
Estou trocando idéias. Vocês não se zangarão comigo, não é ?

Aos visitantes de hoje eu desejo que, ao saírem daqui, meditem mais no que sentiram
do que no que viram …

Não vamos ter outras coisas que poderiam constituir novidades. No entretanto,
asseguro que os trabalhos de hoje foram tão produtivos como os outros trabalhos
de valor, já realizados por este grupo. Todos, ao saírem daqui, vão sentir-se bem
dispostos, aprimorados e encorajados para prosseguir na luta”.

Falando a mãe da criança que deixar a terra, o Padre perguntou: “Elza, entendeu
o que o Rondino falou ? “.

Esta senhora, respondendo, disse:

“Entendi, Padre : – Também, recebi comunicação de minha filha por intermédio de
amiga (médium). Não me sinto merecedora por tantas consolações e não sei mesmo como
agradecer. Estou bem conformada”.

A entidade continuou:

“Minha filha: tudo o que aconteceu, antes de mais nada, é a própria manifestação
dos desígnios de Deus, que bem demonstra a Sua capacidade ao fazer-Se entender.

Não tivesse você conhecimento dos planos de vida, talvez a perda, que não é definitiva,
fosse irrecuperável.

Entretanto o porque da vida, você também entenderá que tudo o que aconteceu,
nas menores manifestações, como nas maiores, todas elas se identificam pelos desígnios
de Deus.

Entenderam ?

Desejo a vocês uma boa noite e que essa disposição se mantenha sempre, para que
possamos prosseguir nesta jornada que nos foi dada para cumprir neste grupo.

Boa noite a todos”.

Ao notar que o espírito ia ausentar-se. D. Elza bastante emocionada e com a voz
súplice, pediu:

“Padre, dê um abraço na minha filhinha”.

“Tenho atendido a seus chamamentos”, respondeu a entidade.

Em seguida, o Padre Zabeu se retirou e o Geraldo compareceu outra vez para cuidar
da parte final da sessão.

O Geraldo, enquanto mudava discos na vitrola, lembrava-se da ordem que o Padre
Zabeu lhe dera no início de sua palestra para que “parasse a vitrola”. Tanto assim
que, gracejando com o diretor da sessão, ele falou nestes termos:

“Castro, você sabe que sou bom tocador de vitrola. Toco tão bem quanto a Rosélys
toca piano. No entanto, hoje não estou muito afinado. O Vigário mandou parar …”

Dito isso, pouco depois acrescentou:

“Esta quase na hora de encerrar. Todos contentes ? Hoje, quero agradecer a contribuição
mais acentuada da Roselys, Eunice, Guilhermina e do Caetano” (médiuns),

O Geraldo, já de saída, atendendo ao pedido que antes lhe fizera D. Elza, aproximou-se
para receber o botão de rosa que seria entregue ao espírito que na terra animara
o corpo de uma criança. A mãe, então, emocionadíssima, beiju a flor e entregou-a
ao Geraldo, que a recebeu em silêncio.

A seguir, o diretor da sessão fez uma alocução, durante a qual afirmou que, nas
nossas reuniões, à proporção que diminuem os fenômenos físicos se acentuam mais
os fenômenos espirituais.

Depois de feita a prece de encerramento, ouvimos sinais (estalo de dedos) dados
pelo Geraldo. A sala foi, então, gradativamente iluminada.

Com surpresa vimos, em seguida, que o médium Sr. José Corrêa fora, silenciosamente,
transportado da cabine para fora e colocado no meio do recinto, próximo da primeira
fila de assistentes, conservando-se nas mesmas condições de controle, isto é, com
as mãos algemadas e o corpo amarrado à cadeira.

Nada mais havendo a constar, eu, Mário Ferreira, encarregado pelo Padre Zabeu
para as anotações, lavrei à presente ata que, depois de lida e achada conforme,
vai assinada pela comissão diretora.

aa) Dr. Francisco Carlos de Castro Neves.

Prof. Mário Ferreira.

Cap. Genesio Nitrini.

(Fls 197, v. do 2.o livro de Atas)

(Publicado no Boletim GEAE Número 471 de 24 de fevereiro de 2004)